domingo, 21 de novembro de 2010

Alertas sobre terrorismo causam polêmica na Alemanha; veja comentário de jornais locais

A segurança na Alemanha se intensificou depois do alerta de terrorismo do ministro de Interior Thomas de Maizière na semana passada. Bem como a retórica política. Comentaristas alemães dizem que os políticos deveriam ter vergonha de tentar tirar vantagem da grande ansiedade do país.

Polícia fortemente armada no Portão de Brandemburgo em Berlim. Aumento da segurança nos aeroportos em toda a Alemanha. Cães farejadores de bombas nas estações de trem. Os sinais de que a Alemanha intensificou a segurança por conta do alerta recente de que terroristas podem estar planejando um ataque contra o país estão por toda a parte.

E isso pode ficar assim por algum tempo. Rainer Wendt, chefe de um dos principais sindicatos da polícia alemã, disse ao “Neue Osnabrücker Zeitung” na sexta-feira que o “estado de emergência” deve ser mantido até o final do ano. Ele também disse que, com as centenas de feiras tradicionais de Natal que devem acontecer em breve, e que poderiam ser alvos potenciais, a polícia de muitas cidades teve suas férias canceladas.

“Todas as agências de segurança estão unidas”, disse Matthias Seeger, chefe da polícia federal da Alemanha, ao tabloide de grande circulação “Bild” na sexta-feira. “Numa escala de um a dez, em que o um significa nenhum perigo e o dez representa um risco agudo de ataque, estamos atualmente no nove.”

A intensificação drástica das medidas de segurança veio depois que o ministro de Interior da Alemanha, Thomas de Maizière, disse na quarta-feira passada que o governo alemão tinha “indicações concretas” de que islamistas estavam planejando um ataque e que a Alemanha podia ser um alvo.

A declaração de Maizière aconteceu depois de semanas de relatos da imprensa informando que especialistas em segurança dentro e fora da Alemanha estavam monitorando cada vez mais conversas de islamistas além de um pequeno aumento das viagens. Também houve relatos de que uma célula composta por dois islamistas da Índia e mais dois do Paquistão estaria no país.
“Meio infelizes”

Os alertas e o aumento das precauções de segurança deixaram os alemães nervosos. Funcionários do governo em particular se mostraram inquietos. Durante a semana, políticos do partido Democrata Cristão, da chanceler Angela Merkel, e do partido Social Democrata de oposição pediram que as leis da Alemanha sejam fortalecidas, incluindo as leis de armazenagem de dados.

Numa aparição na rede de televisão RBB, de Berlim, na noite de quarta-feira, o ministro de Interior da cidade-estado de Berlim, Ehrhart Körting, disse: “Se virmos algo em nosso bairro, se de repente se mudam três pessoas com aparência estranha, que tentam ficar fora de vista e que só falam árabe ou outra língua estrangeira que não entendemos, então acho que devemos nos certificar que as autoridades saibam o que está acontecendo.”

Depois de críticas massivas e protestos da comunidade imigrante de Berlim, Körting disse na sexta-feira que seus comentários foram “meio infelizes”.

Comentaristas alemães analisaram a ameaça de terrorismo –e a reação a ela até o momento– na sexta-feira.

O “Financial Times Deutschland” escreveu:

“Para cada um que esperava manter a calma diante de uma suposta ameaça de terrorismo na Alemanha, existem aparentemente vários outros que estão contra esse esforço.”

“Um político alemão, entretanto, não pode ser culpado: o ministro de Interior Thomas de Maizière. Durante seu período no governo até agora, ele agiu com moderação, não incitou o medo desnecessariamente e evitou soar alarmista. E ele se recusou a usar a aparente ameaça para pressionar por leis mais duras. Seu comportamento dá ainda mais credibilidade a ele e a seu alerta.”

“Políticos, funcionários de segurança e investigadores precisam fazer tudo o que está a seu alcance para evitar um ataque. Um alerta público faz parte desse esforço. Esses alertas podem funcionar como sinais para os possíveis terroristas –na melhor das hipóteses esses alertas podem retardar ou prevenir um ataque. Um alerta como este deveria servir à segurança pública –e não deveria ser abusado politicamente.”

O “Berliner Zeitung”, de esquerda, escreveu o seguinte, referindo-se aos comentários de Körting e às demandas para intensificar a lei alemã:

“As demandas [para fortalecer a lei alemã e ficar de olho em nossos vizinhos] são equivalentes a roubar de nós aquilo que os terroristas gostariam de nos tirar. É como destruir nossas sociedades livres e democráticas para evitar sua destruição pelas bombas terroristas.”

“Os terroristas não terão ganhado se transformarem o mundo num cenário de crime e uma estação de trem, uma feira de Natal ou um metrô num campo de batalha. Em vez disso, eles terão triunfado se ocuparem nossas mentes, controlarem nossos pensamentos e escreverem nossas leis. A segurança que pedimos do Estado é um bem valioso, mas não é o principal motivo da existência do Estado. É uma condição para liberdade: precisamos de segurança para conseguirmos viver em liberdade. Mas aqueles que querem viver em liberdade precisam aceitar que a liberdade nunca pode existir sem uma certa quantidade de risco.”

O conservador “Die Welt” escreveu:

“O ministro de Interior de Berlim, Körting, deu na quarta-feira um exemplo do tipo de conselho que não ajuda em nada depois de uma alerta de terrorismo. Ele aconselhou os moradores a notificarem se seus vizinhos têm 'aparência estranha', se tentam 'ficar fora de vista', ou se 'falam apenas árabe ou outra língua estrangeira que nós não entendemos'. Esses vizinhos com certeza não devem ser os terroristas por trás dos ataques de 11 de setembro. Estes eram muito ocidentalizados em sua aparência e falavam bem inglês ou alemão.”

“Pelo que se sabe, os cidadãos alemães que entraram para a Al Qaida falam alemão sem nenhum sotaque –na verdade, alguns deles são alemães étnicos. O alerta de Körting faria sentido se houvesse provas concretas de suspeitos que são burros o suficiente para se comportarem da forma como ele os descreveu. Sem essas provas, entretanto, seu alerta serve apenas para aumentar a xenofobia e confundir as pessoas... Qualquer um que leve o conselho de Körting a sério acabará perdendo de vista terroristas potenciais, enquanto fica de olho nos vizinhos errados.”

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