sábado, 16 de outubro de 2010

Novas revelações de Nuremberg

Documentário encontrado após 62 anos permite, pela primeira vez, assistir ao maior julgamento da história, que condenou os nazistas na Segunda Guerra


Após permanecer 62 anos esquecida, uma relíquia da Segunda Guerra Mundial acaba de ser revelada. No dia 8, o documentário “Nuremberg: It’s Lesson for Today” (Nuremberg: Sua Lição para Hoje, em tradução livre) finalmente estreou nos cinemas americanos. O filme, ainda sem previsão para chegar ao Brasil, mostra imagens inéditas do histórico julgamento de Nuremberg, que entre 1945 e 1946 julgou 21 membros da elite do Terceiro Reich, acusados pela morte de milhões de judeus na Europa. Apesar de ter sido gravado a pedido do Departamento de Guerra dos Estados Unidos na época, o registro desse importante fato nunca havia sido exibido para a audiência daquele país. No final dos anos 1940, preocupado com as ameaças soviéticas de uma iminente Guerra Fria, o governo americano deixou de lado o projeto e relegou o relato do julgamento ao ostracismo.

O resgate da película só foi possível graças aos esforços de Sandra Schulberg, filha do diretor do filme, Stuart Schulberg. “É como se ‘Nuremberg’ tivesse passado todos esses anos trancado numa cápsula do tempo”, disse Sandra à ISTOÉ. “E essa espera só tornou sua mensagem ainda mais poderosa.” Finalizado em 1948, o documentário chegou a ser exibido para o público alemão no mesmo ano, como parte das políticas de reeducação e democratização pós-nazismo. Depois do breve lançamento, seu negativo original, de posse do governo americano, desapareceu misteriosamente. “Um dos produtores, Pare Lorentz tentou convencer os militares a lhe darem ou venderem o filme, porém não houve acordo”, conta Sandra. A versão atual, restaurada, foi conseguida a partir de uma cópia que estava guardada no Arquivo Nacional Alemão, em Berlim, e demandou cinco anos de minucioso trabalho de Sandra e sua equipe, ao custo de US$ 135 mil.

Mesmo sem o reconhecimento dos governantes americanos, o documentário traz o retrato de um dos mais emblemáticos julgamentos de toda a história. “Nuremberg foi a base do atual Tribunal Penal Internacional, órgão capaz de julgar pessoas que cometem crimes contra a humanidade, crimes contra a paz e genocídio”, diz Fabrício Felamingo, professor de direito internacional da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. “Ele representou o primeiro passo na tentativa de preservação dos direitos humanos.” As lições de Nuremberg estão mais atuais do que nunca.

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