sábado, 9 de outubro de 2010

Na Somália, sinais de discórdia surgem em grupo militante

Deslocados pelo conflito na Somália fazem fila para receber comida perto de Mogadício
A retirada de combatentes islâmicos de cidades nas regiões sul e central da Somália nos últimos dias, juntamente com comentários de autoridades do governo e insurgentes, sugerem que surgiram rachas dentro da liderança da organização militante mais poderosa do país, o Al Shabab.

As disputas parecem envolver lealdades de clãs e diferenças em torno de estratégias e políticas, segundo pessoas ligadas ao segundo em comando do grupo, o xeque Muktar Roobow Abu Mansor. Entre outras coisas, a liderança do grupo está dividida entre permitir ou não que grupos de ajuda humanitária internacionais trabalhem no território dominado pelo Al Shabab e o papel dos jihadistas estrangeiros dentro do grupo.

Além disso, os insurgentes sofreram perdas durante os combates do mês passado com as forças do governo, que foram apoiadas por soldados da União Africana. O ministro da Informação da Somália, Abdirahman Omar Osman, disse que os combatentes do clã de Mansor sofreram um número desproporcional de mortos e feridos.

“O Shabab perdeu centenas de combatentes na ofensiva no Ramadã, principalmente entre os membros do clã de Abu Mansor”, disse Osman. Isso levou Mansor a desafiar o líder do Al Shabab, o xeque Mukhtar Abu Zubeyr, segundo Osman.

Mas Mansor, falando na sexta-feira para centenas de seguidores após as orações em uma mesquita de Mogadício, a capital, negou a existência de um racha entre os líderes do Al Shabab. Ele negou os relatos de dissensão como sendo uma campanha de desinformação por parte do governo e encorajou aqueles que o apoiam a permanecerem juntos.

“A vitória está próxima”, ele disse. “Nós continuaremos nossa luta e esse é o fim das mentiras de nossos inimigos.”

“A jihad não pertence a uma pessoa específica”, ele disse aos seus seguidores, “mas é uma devoção, de forma que peço que se mantenham firmes nela”.

Mas alguns importantes líderes do Al Shabab reconheceram que existe um racha na liderança, mas divergiram a respeito de quais líderes estariam se desentendendo e quais seriam as causas das disputas.

Eles disseram que Mansor é mais moderado do que alguns líderes do Al Shabab.

“Por isso, ele não obedece às regras e regulamentações estabelecidas para o grupo”, disse um membro do Al Shabab que falou na condição de anonimato, por não querer antagonizar os líderes do grupo. Mas o membro argumentou que a pessoa com a qual Mansor está em choque é Muktar Abu Muslim, um membro de seu próprio clã.

Acredita-se que Muslim seja um aliado do líder do Al Shabab, o xeque Zubeyr, que é de um clã diferente. Al Shabab expulsou dezenas de organizações de ajuda humanitária internacionais das áreas que o grupo controla no sul e centro da Somália, as acusando de espionagem e de trabalharem para disseminação do cristianismo. Alguns dos seguidores de Mansor disseram que ele queria que o Al Shabab permitisse o retorno das organizações de ajuda, assim como limitasse o papel de jihadistas estrangeiros na liderança do grupo.

Esses seguidores disseram que ele retirou seus combatentes de algumas cidades como demonstração de poder. Os moradores da cidade de Beledweyne, na região central da Somália, disseram que muitos combatentes partiram nos últimos dias, apesar de não terem se retirado completamente.

“Esses combatentes deixaram a cidade em picapes e seguiram para oeste”, disse um morador que forneceu apenas seu sobrenome, Mose.

Ainda não está claro quão sério é o racha dentro da insurreição ou quais poderiam ser suas consequências. “Isso poderia criar novos grupos e alianças, que poderiam prolongar a turbulência na Somália”, disse Muhammad Bashir Hassan, que foi um coronel por mais de 30 anos no exército de um antigo governo. “Mas também poderia ser uma vantagem para os grupos que lutam contra o Shabab, incluindo o governo.”

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