domingo, 22 de agosto de 2010

Chávez põe militares e "milicianos" na rua

Metade do noticiário na TV estatal destinado ao tema de segurança na sexta-feira à noite. "Relançamento" de um plano contra a violência para Caracas que inclui o envio às ruas das polícias militar, naval e área, das Forças Armadas, e de mais 3.000 "milicianos", civis com breve treinamento militar.

Os sinais eram muitos de que a oposição havia encontrado um tema -a violência no país e a inoperância do governo- para colocar Hugo Chávez na defensiva.

O criminologista Andres Antillano, que participou da comissão para a inconclusa reforma das polícias, criticou Chávez por responder com "populismo punitivo" o golpe simbólico do jornal "El Nacional", que publicou foto do necrotério de Caracas, abrindo a polêmica. Já Rocío San Miguel, da ONG Controle Cidadão, questionou o uso das polícias das Forças Armadas, despreparadas para atuar nas ruas.

O reforço do patrulhamento foi enviado para o município Libertador, um dos cinco que formam a capital, onde se concentram 70% dos homicídios -e o único de administração chavista.

O governo não detalhou como será o trabalho das controversas milícias nem como somam civis com treinamento militar de até três meses a militares da reserva.

Pelos dados, em 2009, 19.133 pessoas foram assassinadas no país, ou uma a cada 27 minutos, em média.Trata-se da "Pesquisa de Vitimização e Percepção de Segurança 2009", feita com questionários aplicados por acadêmicos e operacionalizada pelo INE, o IBGE venezuelano.

Na sexta, o "El Nacional" encurralou ainda mais o governo ao publicar estimativas alarmantes de homicídios em 2009 -produzidas e mantidas em segredo pelo próprio governo.
Uma fonte ligada à pesquisa confirmou à reportagem que os dados fazem parte do amplo estudo de 2009 sobre a violência que ficou pronto em maio.

O número se traduz numa taxa de 75 homicídios por 100 mil habitantes, mais alta do que a do Brasil (25,3), Colômbia (37), México e até El Salvador (61). Quando Chávez chegou ao poder, em 1999, foram 5.968 assassinatos. Em 11 anos, o número se multiplicou por três.

As cifras deixam claro que, se o sequestro aparece agora disseminado em diferentes modalidades por todas as classes sociais, os homicídios ainda ocorrem massivamente nas áreas pobres.

Pertencem aos dois quintos mais pobres da população 83,64% das vítimas. Em mais de 70% do total de homicídios, foram usadas armas de fogo. O governo estima que existam 3 milhões de armas sem registro no país.

A pesquisa já havia sido realizada em 2006, como parte dos estudos do governo para a reforma da polícia e para o eventual desenho de uma política nacional de segurança. O texto chegou a ser divulgado, mas também não está mais disponível na página do Ministério da Justiça.

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