A Stasi, polícia secreta da extinta República Democrática Alemã (RDA), empregou sem escrúpulos antigos SS e ex-nazistas, arquivando informações sobre seus antecedentes, revelou um estudo do historiador Henry Leide, contrariando uma posição do Estado comunista, que sempre se vangloriou de sua rigidez contra os fascistas.
Membro do escritório encarregado dos arquivos da Stasi, o historiador Henry Leide desenterrou 35 casos em seu estudo intitulado "Criminosos nazistas e a Stasi. A gestão secreta do passado sob a RDA". Algumas das informações do livro foram retiradas de arquivos fechados até a queda do Muro de Berlim, em 1989, mas que nunca haviam sido consultados.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Justiça da Alemanha Oriental condenou milhares de antigos membros do Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP), às vezes em processos espetaculares e freqüentemente sumários. Por exemplo, no chamado "processo de Waldheim", na Saxônia, em 1950, foram proferidas 32 sentenças de morte.
Mas, por trás desta fachada antifascista, esconde-se uma inquietante realidade. "A Stasi recrutou sistemática e conscientemente os culpados nazistas, entre eles autores de massacres, informantes e agentes no leste e no oeste. Prometiam conceder-lhes o perdão caso cooperassem com o regime comunista", acusou Leide.
Para assegurar a hegemonia do partido comunista SED (Partido Socialista Unificado dos Trabalhadores da Alemanha) e do Estado "foram sacrificados todos os princípios morais", segundo o historiador.
O caso de Willy Laeritz é exemplar. Este ex-membro da Gestapo, polícia secreta do regime nazista (1933-1945) em Leipzig (leste), famosa por seus duros interrogatórios de comunistas, ofereceu seu talento de espião para a Stasi após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Laeritz começou a trabalhar para a polícia secreta em 1961, "combatendo pela paz e pelo socialismo". Seu papel era denunciar ex-membros da Gestapo e ex-oficiais dos serviços de espionagem nazistas, os SD. Estas pessoas foram posteriormente convencidas a trabalhar para a Stasi.
O fato de o ex-SS Hans Sommer ter participado da destruição de sete sinagogas em Paris em outubro de 1941 não impressionou as autoridades de Berlim Oriental. Residente na Alemanha Ocidental e depois na Itália, durante anos Sommer informou o governo sobre os círculos de ultradireita ocidentais, recebendo pelo serviço 180.000 marcos (cerca de 110.000 dólares).
Josef Settnik, escalado provisoriamente pela Gestapo para o campo de extermínio de Auschwitz, já havia se despedido de sua esposa quando foi convocado em 1964 pelos serviços secretos alemães orientais. A Stasi decidiu poupá-lo e utilizá-lo para espionar a Igreja.
Paralelamente, a Stasi, que dispunha de um arquivo com nove quilômetros de estantes sobre os nazistas, protegia seus funcionários com passado nazista.
Este foi o caso de Harald Heyns, condenado pela justiça francesa e britânica. Heyns conseguiu se esconder com um nome falso na RDA. Ignorou deliberadamente este aspecto de seu passado para evitar que um eventual processo "prejudicasse sua imagem na RDA".
Embora as infiltrações de ex-nazistas na Stasi sejam pouco estudadas, a presença de antigos membros do NSADP em outros órgãos da RDA não era nenhum segredo.
"Sabíamos naquela época que pessoas com um passado nazista notório (...) haviam sido convidadas para criar as forças armadas da RDA (Volksarmee)", afirmou Richard Schroeder, professor de filosofia da Universidade Humboldt de Berlim.
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