Uma amostra de união árabe sem precedentes no Oriente Médio se materializou na sexta-feira (30) em Beirute. Tratava-se de evitar uma nova crise interna no Líbano, onde os vazamentos sobre a decisão do Tribunal Internacional da ONU que investiga o assassinato em fevereiro de 2005 do primeiro-ministro Rafiq Hariri ameaçam dinamitar uma estabilidade costurada com alfinetes.
A magnitude do desafio propiciou a frente comum de dois companheiros de viagem pouco habituais: a Síria, aliada do Hezbollah, o grande partido-milícia xiita que o Irã apoia, e a Arábia Saudita, país guardião das essências sunitas e parceiro do primeiro-ministro libanês, que conta com o apoio americano.O presidente sírio, Bashar Al Assad, e o rei saudita, Abdallah bin Abdelaziz, viajaram juntos para Beirute para tentar acalmar os ânimos libaneses incendiados. A visita, de apenas seis horas, foi qualificada de "excelente" pelas autoridades libanesas, que temem, como o resto da região, a erupção de novos confrontos armados no Líbano dividido.
"Os líderes salientaram a importância da estabilidade, o compromisso de não recorrer à violência e de situar o país acima dos interesses sectários", indicou em um comunicado o gabinete do presidente libanês, Michel Suleiman, ao fim dessa visita preventiva. Além do encontro com Suleiman, o rei saudita visitou a residência do primeiro-ministro Saad Hariri, filho de Rafiq, onde se reuniu com membros de seu partido, enquanto Al Assad se encontrava com membros do Hezbollah no governo.
O Tribunal Internacional implementado pela ONU, que investiga a morte do primeiro-ministro Rafiq Hariri em 2005, ainda não se pronunciou sobre a autoria do assassinato. Mas supostos vazamentos e uma avalanche de rumores bastaram para provocar um nervosismo político que os analistas temem que possa desembocar em uma nova crise intersectária e em um ciclo de violência como o de 2008, que deixou as ruas libanesas cheias de cadáveres.
Os rumores responsabilizam o Hezbollah pela morte do primeiro-ministro sunita, e desculpam Damasco, até há pouco o suspeito habitual no crime que provocou a retirada síria do Líbano depois de quase 30 anos de tutela político-militar.
A televisão israelense identificou na última quinta-feira à noite com nome e sobrenome um dos supostos culpados. Segundo os israelenses, tratar-se-ia de um primo e cunhado de Imad Mugniyeh, chefe militar do Hezbollah, assassinado há dois anos e meio em um atentado com carro-bomba em Damasco, pelo qual Israel se felicitou sem confirmar nem desmentir a autoria.
Hassan Nasrallah, líder máximo do Hezbollah, prepara o terreno há semanas diante de uma possível decisão judicial. Nasrallah dedicou sua última aparição televisiva há pouco mais de uma semana a questionar a legitimidade do Tribunal Internacional com sede em Haia, que considera parte de um complô israelense, e a afirmar que não pretende acatar as decisões que emanem dessa instituição.
"Fui informado pessoalmente pelo primeiro-ministro Hariri antes de sua viagem a Washington [em maio passado] de que o tribunal acusará alguns membros indisciplinados [do Hezbollah]", declarou Nasrallah. E acrescentou: "Enquanto a investigação não contemplar a possibilidade de um envolvimento israelense, a consideraremos tendenciosa".
Saad Hariri pediu calma no último sábado, depois das declarações de Nasrallah. "Há alguns que temem e inclusive esperam que o caso do assassinato [de seu pai] provoque uma crise libanesa ou uma luta entre confissões religiosas", disse Hariri durante uma conferência com os membros de seu partido. "Estão ocorrendo tentativas de organizar campanhas para semear confusão e medo entre os libaneses. Nós pedimos calma."
O envolvimento de membros do Hezbollah na morte de Rafiq Hariri representaria para o Líbano, além disso, um dilema político de difícil solução. O partido xiita, dotado de uma milícia que é considerada mais poderosa que o exército nacional, é um componente essencial do governo de união libanês liderado por Saad Hariri, firme defensor dos trabalhos do Tribunal Internacional. Os observadores temem que a ruptura do Executivo seja acompanhada de novos choques entre sunitas e xiitas e de uma possível extensão do conflito nacional, por contágio, a toda a região.
sábado, 31 de julho de 2010
Pentágono enfrenta nova pressão para cortar orçamento
Déficit orçamentário dos EUA e retirada de tropas no Iraque e no Afeganistão dão força à proposta de cortes nos gastos militares
Depois de quase uma década de rápidos aumentos nos gastos militares, o Pentágono está enfrentando a intensificação de pressões políticas e econômicas para que faça cortes em seu orçamento, criando o primeiro debate sério desde os ataques terroristas de 2001 sobre o tamanho e o custo das forças armadas.
Legisladores, oficiais do governo e analistas independentes disseram que a combinação de grandes déficits orçamentários, o encerramento da guerra no Iraque e a promessa do presidente Barack Obama de começar a retirar as tropas do Afeganistão no próximo ano, estão levando o Congresso a contemplar reduções nos pedidos de financiamento do Pentágono.O secretário da Defesa, Robert M. Gates, tentou conter as exigências de cortes no orçamento mostrando ao Congresso e à Casa Branca que ele pode conseguir mais eficiência da burocracia e dos programas de armas do Pentágono e usar as economias para manter as forças de combate.
Mas o aumento da pressão já está aparecendo em esforços dos democratas no Congresso que se movem mais rapidamente do que oficiais do Pentágono esperavam para solicitar cortes no orçamento proposto pelo governo para o próximo ano.
Além disso, com a crescente preocupação sobre a dívida do governo de US$ 13 trilhões, uma comissão bipartidária de redução do déficit alerta que os cortes nos gastos militares poderiam ser necessários a longo prazo para ajudar a nação a sair de seu buraco financeiro.
Gates pede que o orçamento do Pentágono mantenha o crescimento a longo prazo em 1% ao ano após a inflação, acrescido do custo da guerra.
Este valor teve uma taxa de crescimento média de 7% ao ano ao longo da última década (cerca de 12% ao ano, sem ajuste da inflação), incluindo os custos das guerras.
Até agora, Obama pediu ao Congresso que aumente a despesa total para o próximo ano em 2,2%, chegando a US$ 708 bilhões - 6,1% superior ao seu auge sob o governo Bush.
Gates argumenta que se o orçamento do Pentágono puder continuar a crescer 1% ao ano, ele será capaz de encontrar 2% ou 3% em economias feitas na burocracia do departamento para reinvestir nos militares - e que será dinheiro suficiente para satisfazer as necessidades da segurança nacional.
Mesmo conforme tenta evitar cortes mais profundos, Gates está tentando acabar com os programas de armas que considera desnecessários para os militares e enfrentando objeções de membros do Congresso que querem proteger empregos.
O andamento da guerra no Afeganistão, sem dúvida, têm um impacto sobre o debate, como pode acontecer com o resultado das eleições deste ano e, finalmente, a disputa presidencial de 2012.
Mas tanto a Câmara quanto o Senado estão agindo para instaurar cortes no orçamento do Pentágono para o ano fiscal que começa no dia 1º de outubro.
Os democratas no Comitê de Apropriações do Senado votaram na semana passada para cortar US$ 8 bilhões do pedido do Pentágono para um aumento de US$ 18 bilhões em suas operações básicas.
Dois terços dos gastos do Pentágono são despesas com pessoal.
É possível que o Pentágono tenha que considerar pela primeira vez cortes nos benefícios de saúde prestados aos militares ativos e inativos e suas famílias.
Depois de quase uma década de rápidos aumentos nos gastos militares, o Pentágono está enfrentando a intensificação de pressões políticas e econômicas para que faça cortes em seu orçamento, criando o primeiro debate sério desde os ataques terroristas de 2001 sobre o tamanho e o custo das forças armadas.
Legisladores, oficiais do governo e analistas independentes disseram que a combinação de grandes déficits orçamentários, o encerramento da guerra no Iraque e a promessa do presidente Barack Obama de começar a retirar as tropas do Afeganistão no próximo ano, estão levando o Congresso a contemplar reduções nos pedidos de financiamento do Pentágono.O secretário da Defesa, Robert M. Gates, tentou conter as exigências de cortes no orçamento mostrando ao Congresso e à Casa Branca que ele pode conseguir mais eficiência da burocracia e dos programas de armas do Pentágono e usar as economias para manter as forças de combate.
Mas o aumento da pressão já está aparecendo em esforços dos democratas no Congresso que se movem mais rapidamente do que oficiais do Pentágono esperavam para solicitar cortes no orçamento proposto pelo governo para o próximo ano.
Além disso, com a crescente preocupação sobre a dívida do governo de US$ 13 trilhões, uma comissão bipartidária de redução do déficit alerta que os cortes nos gastos militares poderiam ser necessários a longo prazo para ajudar a nação a sair de seu buraco financeiro.
Gates pede que o orçamento do Pentágono mantenha o crescimento a longo prazo em 1% ao ano após a inflação, acrescido do custo da guerra.
Este valor teve uma taxa de crescimento média de 7% ao ano ao longo da última década (cerca de 12% ao ano, sem ajuste da inflação), incluindo os custos das guerras.
Até agora, Obama pediu ao Congresso que aumente a despesa total para o próximo ano em 2,2%, chegando a US$ 708 bilhões - 6,1% superior ao seu auge sob o governo Bush.
Gates argumenta que se o orçamento do Pentágono puder continuar a crescer 1% ao ano, ele será capaz de encontrar 2% ou 3% em economias feitas na burocracia do departamento para reinvestir nos militares - e que será dinheiro suficiente para satisfazer as necessidades da segurança nacional.
Mesmo conforme tenta evitar cortes mais profundos, Gates está tentando acabar com os programas de armas que considera desnecessários para os militares e enfrentando objeções de membros do Congresso que querem proteger empregos.
O andamento da guerra no Afeganistão, sem dúvida, têm um impacto sobre o debate, como pode acontecer com o resultado das eleições deste ano e, finalmente, a disputa presidencial de 2012.
Mas tanto a Câmara quanto o Senado estão agindo para instaurar cortes no orçamento do Pentágono para o ano fiscal que começa no dia 1º de outubro.
Os democratas no Comitê de Apropriações do Senado votaram na semana passada para cortar US$ 8 bilhões do pedido do Pentágono para um aumento de US$ 18 bilhões em suas operações básicas.
Dois terços dos gastos do Pentágono são despesas com pessoal.
É possível que o Pentágono tenha que considerar pela primeira vez cortes nos benefícios de saúde prestados aos militares ativos e inativos e suas famílias.
Oficial chinês elogia um tabu: a democracia
Integrante do Partido Comunista, Yu Keping é a favor de eleições diretas e descreve democracia como 'melhor sistema político'
A defesa da democracia em um Estado autoritário de partido único parece ser um exercício inútil.
Wei Jingsheng, um dos mais fervorosos dissidentes pró-democracia da China, passou mais de uma década na prisão por exigir eleições multipartidárias. No ano passado, o escritor Liu Xiaobo foi sentenciado a 11 anos de prisão depois que escreveu um manifesto pedindo o fim do Partido Comunista Chinês no poder.
Por outro lado, há Yu Keping, um gentil especialista em política que proclama as glórias da democracia há muitos anos. Em seu mais famoso estudo, "Democracia É Uma Coisa Boa", ele argumenta de maneira apaixonada sobre a inevitabilidade de eleições diretas na China, descrevendo a democracia como "o melhor sistema político para a humanidade".Em abril, ele publicou outro tratado, pedindo que o Partido Comunista respeite a Constituição, um assunto importante em um país onde os líderes do governo muitas vezes argumentam que a lei deveria ser subserviente ao partido.
Mas seria ele um agitador cínico brincando com fogo? Dificilmente.
Os textos de Yu são vendidos em livrarias públicas e ele é um oficial do Partido Comunista responsável pelo Escritório Central de Compilação e Tradução, uma obscura agência dedicada a traduzir obras de líderes chineses e tratados marxistas de todo o mundo. Ele também dirige uma organização de pesquisas políticas, o Centro de Política e Economia Comparativas da China, que presta assessoria à liderança do país.
Mesmo os especialistas da China têm dificuldade em determinar se Yu é uma voz corajosa que pede mudança ou um figurante bem posicionado.
Yu, 51, um homem de fala mansa que gosta de armas e de dirigir fora das estradas, faz pouco para esclarecer o seu papel.
"Eu sou apenas um estudioso interessado em pesquisas acadêmicas", ele afirma com um sorriso, cercado por centenas de livros em seu escritório em Pequim.
Um olhar mais atento a Yu fornece uma pequena janela para o papel dos poucos intelectuais públicos que aprenderam a navegar o que parece ser um terreno traiçoeiro. Eles abordam temas aparentemente provocativos e podem funcionar como uma força de mudança, mas no final os seus escritos raramente desafiam as bases do governo autoritário do partido único da China.
Mesmo o uso da palavra "democracia" por Yu não é o que parece. Os líderes da China frequentemente falam sobre isso como um objetivo digno, mas na prática eles não têm virtualmente nenhuma intenção de ceder o monopólio do Partido Comunista. Na verdade, Yu nunca prega uma democracia multipartidária no estilo ocidental.
"O que ele escreve pode parecer bom, mas ele está enganando o povo chinês para que pensem que o governo está se movendo em direção à democracia", disse Guo Tianguo, um ex-advogado de Xangai, que foi forçado ao exílio há cinco anos e hoje vive no Canadá. "Ele deve o seu trabalho ao presidente Hu Jintao, e se pressionar demais irá perder tudo. Ele é um covarde".
No entanto, para alguns que têm seguido a sua carreira, o papel de Yu tem mais nuances. Dizem que ele realmente acredita na democracia, mas anda na corda bamba, tentando empurrar a elite política da China para a reforma, sem prejudicar a si mesmo.
Minxin Pei, um especialista em política chinesa na Faculdade Claremont McKenna, disse que Yu é uma figura pública tipicamente chinesa que tenta influenciar o sistema através de palavras cuidadosamente coreografadas e disfarces bem colocados.
"Ele é flexível no sentido de que se a atmosfera fosse mais tolerante, ele iria mais longe", disse ele. "Mas ele sabe que ir longe demais não vai fazer qualquer bem para ele ou para a causa que está promovendo".
Durante uma série de entrevistas recentes, Yu parecia descontraído e loquaz, mas suas respostas seguiram de perto os seus escritos, que apelam para a introdução gradual da democracia "quando as condições forem certas". Mas ele também foi além dos pronunciamentos vagos sobre a democracia que foram proferidos por Hu, que sugeriu que a China já goza de ampla liberdade política.
Questionado se acredita que o sistema político chinês poderia ser descrito como democrático, Yu ofereceu alguns exemplos de reformas que têm sido testadas em municípios rurais ou pequenas cidades do interior, mas depois acrescentou: "Temos um longo caminho a percorrer".
Como muitos de seus colegas, Yu cresceu no tumulto da Revolução Cultural de Mao, o período entre 1966 e 1976, quando conceitos como direitos universais e a liberdade de expressão eram vistos como contaminantes burgueses do Ocidente. A luta de classes era a ordem do dia, e Yu, filho de agricultores de arroz da Província de Zhejiang, foi estabelecido como líder do batalhão de sua escola, a Guarda Vermelha. Ele ainda não tinha 10 anos.
Com um revólver de madeira enfiado nas calças, ele se lembra de aterrorizar donos de imóveis e comerciantes durante as chamadas sessões de luta. "Eu era tão pequeno que tinha que subir em uma cadeira", disse ele.
Em 1978, dois anos após a morte de Mao, durante o retorno gradual à normalidade e com a reabertura das escolas, ele foi um dos primeiros de sua geração a ir para a faculdade. "Eu literalmente me arrastei pelos arrozais para chegar ao exame de admissão", disse ele, sorrindo e balançando a cabeça.
Yu foi professor na Universidade de Pequim durante a primavera de 1989, e ele disse ter ido várias vezes à Praça da Paz Celestial para cuidar de seus alunos, que faziam parte da multidão protestando contra a corrupção e a inflação e exigindo reformas democráticas.
"Eu estava tão preocupado com eles", ele disse, lembrando do desfecho - uma sangrenta repressão militar na qual centenas de pessoas morreram - como "uma tragédia lamentável".
Mas ele disse que os eventos lhe ensinaram que a China deve ter vias legais para que os seus cidadãos expressem seu desdém pela injustiça ou seu desejo de mudança.
"Em qualquer nação, quando as pessoas estão exigindo reforma, este é um sinal de prosperidade", disse ele. "Ignorar essas exigências é fazer um convite à instabilidade".
Yu disse que ficou impressionado com os Estados Unidos, onde foi pesquisador visitante na Universidade de Duke. Ele saboreia lembranças da troca intelectual nas salas de aulas e do vigor da livre imprensa.
"Eu realmente adorei o espírito americano de possibilidade, os valores de igualdade e justiça, e o modo como as pessoas se preocupavam com o meio ambiente", disse.
Mas apesar da mentalidade aberta dos americanos, ele ainda estremece quando recorda das reações agressivas das pessoas quando descobriam que ele era membro do Partido Comunista.
No entanto, suas experiências mais indeléveis vieram depois que deixou a Duke para viajar por 30 Estados em um ônibus Greyhound. Ele disse que viu o abismo entre os ricos e os muito pobres, a falta de respeito aos idosos e a apatia no Dia da Eleição, especialmente entre as pessoas "comuns" que deveriam estar mais investidas em mudanças políticas.
Yu também se deparou com uma desvantagem da abundância de liberdade. Ele disse que foi assaltado duas vezes, uma vez por um homem que colocou uma faca nas suas costas em um banheiro público em Indianapolis.
"Eu fingi que não falava Inglês, alguém entrou no banheiro e o homem fugiu", disse ele com uma risada.
Essa experiência desencadeou o seu interesse em armas, e Yu, por vezes, descarrega o estresse em um campo de tiros em Pequim. Sua outra distração é dirigir fora das estradas. "Ela fica aterrorizada com a minha condução", disse ele sobre sua esposa, Xiuli Xu, professora de história econômica chinesa.
Antes de terminar a entrevista, ele concedeu um pensamento de despedida. Voltando para sua paixão, ele disse que a história de sua infância contém uma lição.
"Quando eu penso nos dias da Revolução Cultural, isso me faz lembrar de uma verdade", ele disse. "É apenas a democracia e o Estado de direito que podem salvar a China de nunca mais ter que passar por isso".
A defesa da democracia em um Estado autoritário de partido único parece ser um exercício inútil.
Wei Jingsheng, um dos mais fervorosos dissidentes pró-democracia da China, passou mais de uma década na prisão por exigir eleições multipartidárias. No ano passado, o escritor Liu Xiaobo foi sentenciado a 11 anos de prisão depois que escreveu um manifesto pedindo o fim do Partido Comunista Chinês no poder.
Por outro lado, há Yu Keping, um gentil especialista em política que proclama as glórias da democracia há muitos anos. Em seu mais famoso estudo, "Democracia É Uma Coisa Boa", ele argumenta de maneira apaixonada sobre a inevitabilidade de eleições diretas na China, descrevendo a democracia como "o melhor sistema político para a humanidade".Em abril, ele publicou outro tratado, pedindo que o Partido Comunista respeite a Constituição, um assunto importante em um país onde os líderes do governo muitas vezes argumentam que a lei deveria ser subserviente ao partido.
Mas seria ele um agitador cínico brincando com fogo? Dificilmente.
Os textos de Yu são vendidos em livrarias públicas e ele é um oficial do Partido Comunista responsável pelo Escritório Central de Compilação e Tradução, uma obscura agência dedicada a traduzir obras de líderes chineses e tratados marxistas de todo o mundo. Ele também dirige uma organização de pesquisas políticas, o Centro de Política e Economia Comparativas da China, que presta assessoria à liderança do país.
Mesmo os especialistas da China têm dificuldade em determinar se Yu é uma voz corajosa que pede mudança ou um figurante bem posicionado.
Yu, 51, um homem de fala mansa que gosta de armas e de dirigir fora das estradas, faz pouco para esclarecer o seu papel.
"Eu sou apenas um estudioso interessado em pesquisas acadêmicas", ele afirma com um sorriso, cercado por centenas de livros em seu escritório em Pequim.
Um olhar mais atento a Yu fornece uma pequena janela para o papel dos poucos intelectuais públicos que aprenderam a navegar o que parece ser um terreno traiçoeiro. Eles abordam temas aparentemente provocativos e podem funcionar como uma força de mudança, mas no final os seus escritos raramente desafiam as bases do governo autoritário do partido único da China.
Mesmo o uso da palavra "democracia" por Yu não é o que parece. Os líderes da China frequentemente falam sobre isso como um objetivo digno, mas na prática eles não têm virtualmente nenhuma intenção de ceder o monopólio do Partido Comunista. Na verdade, Yu nunca prega uma democracia multipartidária no estilo ocidental.
"O que ele escreve pode parecer bom, mas ele está enganando o povo chinês para que pensem que o governo está se movendo em direção à democracia", disse Guo Tianguo, um ex-advogado de Xangai, que foi forçado ao exílio há cinco anos e hoje vive no Canadá. "Ele deve o seu trabalho ao presidente Hu Jintao, e se pressionar demais irá perder tudo. Ele é um covarde".
No entanto, para alguns que têm seguido a sua carreira, o papel de Yu tem mais nuances. Dizem que ele realmente acredita na democracia, mas anda na corda bamba, tentando empurrar a elite política da China para a reforma, sem prejudicar a si mesmo.
Minxin Pei, um especialista em política chinesa na Faculdade Claremont McKenna, disse que Yu é uma figura pública tipicamente chinesa que tenta influenciar o sistema através de palavras cuidadosamente coreografadas e disfarces bem colocados.
"Ele é flexível no sentido de que se a atmosfera fosse mais tolerante, ele iria mais longe", disse ele. "Mas ele sabe que ir longe demais não vai fazer qualquer bem para ele ou para a causa que está promovendo".
Durante uma série de entrevistas recentes, Yu parecia descontraído e loquaz, mas suas respostas seguiram de perto os seus escritos, que apelam para a introdução gradual da democracia "quando as condições forem certas". Mas ele também foi além dos pronunciamentos vagos sobre a democracia que foram proferidos por Hu, que sugeriu que a China já goza de ampla liberdade política.
Questionado se acredita que o sistema político chinês poderia ser descrito como democrático, Yu ofereceu alguns exemplos de reformas que têm sido testadas em municípios rurais ou pequenas cidades do interior, mas depois acrescentou: "Temos um longo caminho a percorrer".
Como muitos de seus colegas, Yu cresceu no tumulto da Revolução Cultural de Mao, o período entre 1966 e 1976, quando conceitos como direitos universais e a liberdade de expressão eram vistos como contaminantes burgueses do Ocidente. A luta de classes era a ordem do dia, e Yu, filho de agricultores de arroz da Província de Zhejiang, foi estabelecido como líder do batalhão de sua escola, a Guarda Vermelha. Ele ainda não tinha 10 anos.
Com um revólver de madeira enfiado nas calças, ele se lembra de aterrorizar donos de imóveis e comerciantes durante as chamadas sessões de luta. "Eu era tão pequeno que tinha que subir em uma cadeira", disse ele.
Em 1978, dois anos após a morte de Mao, durante o retorno gradual à normalidade e com a reabertura das escolas, ele foi um dos primeiros de sua geração a ir para a faculdade. "Eu literalmente me arrastei pelos arrozais para chegar ao exame de admissão", disse ele, sorrindo e balançando a cabeça.
Yu foi professor na Universidade de Pequim durante a primavera de 1989, e ele disse ter ido várias vezes à Praça da Paz Celestial para cuidar de seus alunos, que faziam parte da multidão protestando contra a corrupção e a inflação e exigindo reformas democráticas.
"Eu estava tão preocupado com eles", ele disse, lembrando do desfecho - uma sangrenta repressão militar na qual centenas de pessoas morreram - como "uma tragédia lamentável".
Mas ele disse que os eventos lhe ensinaram que a China deve ter vias legais para que os seus cidadãos expressem seu desdém pela injustiça ou seu desejo de mudança.
"Em qualquer nação, quando as pessoas estão exigindo reforma, este é um sinal de prosperidade", disse ele. "Ignorar essas exigências é fazer um convite à instabilidade".
Yu disse que ficou impressionado com os Estados Unidos, onde foi pesquisador visitante na Universidade de Duke. Ele saboreia lembranças da troca intelectual nas salas de aulas e do vigor da livre imprensa.
"Eu realmente adorei o espírito americano de possibilidade, os valores de igualdade e justiça, e o modo como as pessoas se preocupavam com o meio ambiente", disse.
Mas apesar da mentalidade aberta dos americanos, ele ainda estremece quando recorda das reações agressivas das pessoas quando descobriam que ele era membro do Partido Comunista.
No entanto, suas experiências mais indeléveis vieram depois que deixou a Duke para viajar por 30 Estados em um ônibus Greyhound. Ele disse que viu o abismo entre os ricos e os muito pobres, a falta de respeito aos idosos e a apatia no Dia da Eleição, especialmente entre as pessoas "comuns" que deveriam estar mais investidas em mudanças políticas.
Yu também se deparou com uma desvantagem da abundância de liberdade. Ele disse que foi assaltado duas vezes, uma vez por um homem que colocou uma faca nas suas costas em um banheiro público em Indianapolis.
"Eu fingi que não falava Inglês, alguém entrou no banheiro e o homem fugiu", disse ele com uma risada.
Essa experiência desencadeou o seu interesse em armas, e Yu, por vezes, descarrega o estresse em um campo de tiros em Pequim. Sua outra distração é dirigir fora das estradas. "Ela fica aterrorizada com a minha condução", disse ele sobre sua esposa, Xiuli Xu, professora de história econômica chinesa.
Antes de terminar a entrevista, ele concedeu um pensamento de despedida. Voltando para sua paixão, ele disse que a história de sua infância contém uma lição.
"Quando eu penso nos dias da Revolução Cultural, isso me faz lembrar de uma verdade", ele disse. "É apenas a democracia e o Estado de direito que podem salvar a China de nunca mais ter que passar por isso".
Editoria publicará arquivos sobre a vida de Winston Churchill na internet
Arquivos sobre a vida do primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, desde seus estudos escolares até os últimos dias de sua vida estarão disponíveis para o público na internet em 2012, depois que for digitalizado pela editora Bloomsbury, informou ontem o jornal britânico Independent.
A editora publicará um milhão de documentos, que estavam guardados em Cambridge e poderia ser visto somente após uma solicitação especial.Os arquivos cobrem as etapas mais importante da vida do famoso político: Seus tempos de escola, a guerra Anglo- Boer, durante a qual, Churchill cumpria funções de correspondente de guerra; O inicio de sua carreira política, a Segunda Guerra Mundial, seus últimos dias como um dos ideólogos de Guerra Fria.
Entre os documentos, poderão ser visto os manuscritos dos seus famosos discursos, em particular, discurso de 5 de março de 1946, o qual fora utilizado pela primeira vez a expressão “Cortina de Ferro”.
O direito do Arquivo Central de Churchill, Allem Packwood, afirmou que o público terá a possibilidade de observar como Sir. Churchill criava seus discursos.
“Temos guardadas as anotações dos discursos, correções e os últimos complementos que permitiram o leitor ver o nascimento de suas grandes discursos.”
O alcance do público estarão também cartas pessoais de Churchill ao escritor Bernad Shaw, a atriz Viven Leigh e Lawrence das Arábias.
A editora publicará um milhão de documentos, que estavam guardados em Cambridge e poderia ser visto somente após uma solicitação especial.Os arquivos cobrem as etapas mais importante da vida do famoso político: Seus tempos de escola, a guerra Anglo- Boer, durante a qual, Churchill cumpria funções de correspondente de guerra; O inicio de sua carreira política, a Segunda Guerra Mundial, seus últimos dias como um dos ideólogos de Guerra Fria.
Entre os documentos, poderão ser visto os manuscritos dos seus famosos discursos, em particular, discurso de 5 de março de 1946, o qual fora utilizado pela primeira vez a expressão “Cortina de Ferro”.
O direito do Arquivo Central de Churchill, Allem Packwood, afirmou que o público terá a possibilidade de observar como Sir. Churchill criava seus discursos.
“Temos guardadas as anotações dos discursos, correções e os últimos complementos que permitiram o leitor ver o nascimento de suas grandes discursos.”
O alcance do público estarão também cartas pessoais de Churchill ao escritor Bernad Shaw, a atriz Viven Leigh e Lawrence das Arábias.
HAARP influenciou o clima da Rússia?
Especialistas suspeitam que uma “arma climática” está por trás das altas temperaturas que assolam a Rússia
As temperaturas inusitadas que assolaram a Rússia pela sexta semana consecutiva, especialmente nas zonas centrais da Rússia, fazem alguns especialistas locais se perguntarem se isso não seria atribuído aos testes de alguma arma secreta por parte dos EUA.
Georgy Vasilev da Faculdade de Física da Universidade de Lomonosov de Moscou, recordou em declarações ao jornal Komsomolskaya Pravda, que os cataclismos mais fortes na Rússia e em outras nações iniciaram-se depois de 1997, data que os EUA colocaram em serviço sua estação de rádios transmissores HAARP.
Situada no Alaska, esta instalação é a ferramenta mais poderosas para influenciar a ionosfera. Alguns técnicos militares se inclinam a pensar que se trata de uma arma geofísica. Vasilev também suspeita que os EUA não haveria investido quase duas décadas e 250 milhões de dólares nesse centro, se sua única função fosse o estudo de Aurora Ativa de Alta Frequência.
Um ex-metrológico militar, Nicolai Karavayev, não descarta “a possibilidade de que se estão testando uma arma meteorológica sobre a Rússia”. Ele liga a onda de calor extremo com o recente com o lançamento da nave espacial americana X-37B, que é capaz de portar armas de laser poderosas.
As temperaturas em Moscou se aproximam dos 40 graus centígrados, enquanto em Berlim, Paris, Viena ou de Varsóvia, a temperatura oscila entre 18 e 25 graus centígrados. Esta circunstância leva Karavayev a conclusão de que é cataclismo “loca e deliberado”.
Vladimir Lapshin, diretor do Instituto de Geofísica Aplicada, qualifica estas hipóteses de “loucura”, em primeiro lugar, porque as temperaturas superaram a normal no próprio território americanos. “As massas de ar no verão, muitas vezes misturam-se gerando uma temperatura perto de 25 graus centígrados, enquanto que agora há uma zona atmosférica de alta pressão que permanece sobre a parte européia da Rússia”, e concluiu dizendo que agosto as massas de ar de alta pressão se dissiparam e “o mundo esquecerá as armas climáticas”, disse Lapshin.
As temperaturas inusitadas que assolaram a Rússia pela sexta semana consecutiva, especialmente nas zonas centrais da Rússia, fazem alguns especialistas locais se perguntarem se isso não seria atribuído aos testes de alguma arma secreta por parte dos EUA.
Georgy Vasilev da Faculdade de Física da Universidade de Lomonosov de Moscou, recordou em declarações ao jornal Komsomolskaya Pravda, que os cataclismos mais fortes na Rússia e em outras nações iniciaram-se depois de 1997, data que os EUA colocaram em serviço sua estação de rádios transmissores HAARP.
Situada no Alaska, esta instalação é a ferramenta mais poderosas para influenciar a ionosfera. Alguns técnicos militares se inclinam a pensar que se trata de uma arma geofísica. Vasilev também suspeita que os EUA não haveria investido quase duas décadas e 250 milhões de dólares nesse centro, se sua única função fosse o estudo de Aurora Ativa de Alta Frequência.
Um ex-metrológico militar, Nicolai Karavayev, não descarta “a possibilidade de que se estão testando uma arma meteorológica sobre a Rússia”. Ele liga a onda de calor extremo com o recente com o lançamento da nave espacial americana X-37B, que é capaz de portar armas de laser poderosas.
As temperaturas em Moscou se aproximam dos 40 graus centígrados, enquanto em Berlim, Paris, Viena ou de Varsóvia, a temperatura oscila entre 18 e 25 graus centígrados. Esta circunstância leva Karavayev a conclusão de que é cataclismo “loca e deliberado”.
Vladimir Lapshin, diretor do Instituto de Geofísica Aplicada, qualifica estas hipóteses de “loucura”, em primeiro lugar, porque as temperaturas superaram a normal no próprio território americanos. “As massas de ar no verão, muitas vezes misturam-se gerando uma temperatura perto de 25 graus centígrados, enquanto que agora há uma zona atmosférica de alta pressão que permanece sobre a parte européia da Rússia”, e concluiu dizendo que agosto as massas de ar de alta pressão se dissiparam e “o mundo esquecerá as armas climáticas”, disse Lapshin.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Tudo pronto para começar os jogos de guerra no Irã
Exercício exige a participação de todas as bases áreas da República Islâmica do Irã
O exercício aéreo da IRIAF programado para esse sábado contará com a participação de todas as bases Aéreas e terá a duração de uma semana.
As bases áreas de Mehrabad, Tabriz, Hamadan, Dezful, Bushehr, Bandar Abbas, Shiraz e Esfahan estará engajadas nos exercícios, cujo codinome é Fada'eyan-e-e Harreem Vellayat (Devotos para a Santidade da Liderança Religiosa).
Quem comandará os exercícios será o Tenente-Comandante Mohammad Alavi , que disse mais cedo que 43 aviões, incluindo os F-4, F-5, F-7 e os caças bombardeiros Sukhoi Su-24, assim como veículos aéreos não-tripulados (UAVs) participarão dos exercícios.
Ele afirmou que uma variedade de mísseis ar-superfície e outras armas seriam testadas durante os exercícios.
Alavi enfatizou que os exercícios "são destinados a demonstrar o poder da Força Aérea iraniana e impulsionar o poder de combate das diferentes unidades da Força Aérea".
O exercício aéreo da IRIAF programado para esse sábado contará com a participação de todas as bases Aéreas e terá a duração de uma semana.
As bases áreas de Mehrabad, Tabriz, Hamadan, Dezful, Bushehr, Bandar Abbas, Shiraz e Esfahan estará engajadas nos exercícios, cujo codinome é Fada'eyan-e-e Harreem Vellayat (Devotos para a Santidade da Liderança Religiosa).
Quem comandará os exercícios será o Tenente-Comandante Mohammad Alavi , que disse mais cedo que 43 aviões, incluindo os F-4, F-5, F-7 e os caças bombardeiros Sukhoi Su-24, assim como veículos aéreos não-tripulados (UAVs) participarão dos exercícios.
Ele afirmou que uma variedade de mísseis ar-superfície e outras armas seriam testadas durante os exercícios.
Alavi enfatizou que os exercícios "são destinados a demonstrar o poder da Força Aérea iraniana e impulsionar o poder de combate das diferentes unidades da Força Aérea".
O trágico fracasso da Primavera de Praga
No Ocidente, a geração de 1968 é vista normalmente sob uma ótica positiva. Mas os heróis da Primavera de Praga em 1968 vêem a si mesmos como fracassos históricos.
Ninguém se lembra exatamente para qual escritório o novo funcionário de Praga se mudou naquele dia de verão em 1970. Dizem que ele era muito simpático, alto e com um sorriso amigável, e que se instalou no segundo andar de um prédio público cinzento nos arredores de Bratislava. O governo comunista o havia enviado para fiscalizar a manutenção do equipamento florestal na capital eslovaca.
O simpático novo funcionário era um homem chamado Alexander Dubcek. Um ano antes de assumir o novo posto, ele ainda era o primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia. Os líderes do Partido o retiraram do poder em abril de 1969, e mais tarde o transferiram para o trabalho na fiscalização florestal. Agora, Dubcek ia de bonde para o trabalho; e às vezes, generosamente oferecia seu assento para o homem do serviço secreto que o seguia de uma forma pouco dissimulada.
Alexander Dubcek foi o herói da famosa "Primavera de Praga", o levante de 1968 esmagado pelos soviéticos há quase exatas quatro décadas. Dubcek era um reformista que queria dar uma "face humana" ao comunismo. Ele se tornou um ícone na Tchecoslováquia assim como uma esperança para os reformistas de outros países comunistas e socialistas. Mas o experimento da Tchecoslováquia se transformou em tragédia na noite de 21 de agosto de 1968, quando o país foi invadido pelos exércitos das nações do Pacto de Varsóvia. Os estudantes de Praga picharam num muro: "Lenin, acorde, eles ficaram loucos". Imagens de pessoas desesperadas, sem nenhuma defesa, paradas em frente a tanques de guerra garantiram a atenção mundial e a simpatia pela rebelião da pequena Tchecoslováquia contra a enorme União Soviética.
Um novo tipo de democracia
A Primavera de Praga foi a última tentativa dos reformadores comunistas do Bloco do Leste de livrar seus países dos vestígios do stalinismo e descentralizar o sistema totalitário. Foi um ponto de ruptura histórico com um resultado deprimente. E então, no verão de 1968, doze anos depois da Revolução Húngara e sete anos depois que a Alemanha foi dividida em duas por um muro, uma poderosa ilusão morreu - a ilusão de que o sistema comunista poderia gradualmente evoluir para um novo tipo de democracia liberal.
O contraste entre Leste e Oeste nunca foi tão grande quanto naquela época. Enquanto os tanques entravam em Praga e os membros do movimento reformista eram presos, estudantes na Europa Ocidental tomavam as ruas para reivindicar mudanças mais amplas no governo e na sociedade. Na Alemanha, por exemplo, os manifestantes logo encontraram a amizade do chanceler Willy Brandt, que queria mais democracia e havia embarcado em um programa para melhorar as relações com o Leste.
Desde então, as referências à "geração de 68" têm dois significados bem diferentes. Para aqueles que cresceram no Leste, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, 1968 significa Praga, Dubcek, os tanques e o fim de uma ilusão. Para aqueles que nasceram no Oeste, o mesmo ano faz lembrar o líder estudantil Rudi Dutschke, protestos e o movimento estudantil, assim como o terror da "Facção do Exército Vermelho" de extrema-esquerda. Para os que viveram no Leste, 68 foi um fracasso histórico, enquanto que para o Oeste, o movimento de 68, como um todo, foi uma história de sucesso.
Inspecionando moto-serras
Na Tchecoslováquia, o fracasso do experimento teve conseqüências dramáticas a longo prazo. Autoridades locais do partido, com o apoio de Moscou, forçaram os instigadores do movimento a deixarem suas posições de liderança, um a um. No final, até mesmo o popular Dubcek foi enviado para Bratislava para inspecionar moto-serras.
Com seu nariz proeminente e olhar amigável, Pavol Dubcek lembra seu pai. Quando os soviéticos invadiram a Tchecoslováquia em 1968, o filho de Dubcek estudava medicina em Bratislava. Sentado no sofá na casa de sua avó, ouviu as janelas vibrando enquanto os tanques entravam na cidade. Na época, ele concluiu que toda a família seria deportada para a Sibéria. "E além disso", diz ele, "nós tínhamos certeza de que eles executariam meu pai." Afinal, foi o que foi feito com o reformista Imre Nagy depois da Revolução Húngara de 1956.
Mas Alexander Dubcek sobreviveu à invasão de seus companheiros socialistas. Ele e outros reformistas foram afastados para a margem da sociedade com a chamada "normalização", um eufemismo para a remoção de indivíduos indesejados do poder. Dezenas de milhares de tchecos e eslovacos receberam tarefas como varrer ruas ou esvaziar latas de lixo.
Entre eles estava o escritor Ivan Klíma, que havia abraçado a Primavera de Praga e que, por esse motivo, foi proibido de publicar. Em 1988, logo depois que a mudança política chegou ao país, Klíma escreveu um livro chamado "Amor e Lixo" sobre seus anos como lixeiro. O escritor Milan Kundera deixou a Tchecoslováquia e ganhou reconhecimento mundial com livros como "A Insustentável Leveza do Ser".
Cestmír Císar é um dos últimos homens vivos que trabalharam com Dubcek. Ele mora no sexto andar de um prédio de concreto da época soviética em Dablice, um empreendimento residencial em Praga, e o apartamento está cheio de livros, do chão até o teto. Císar acabou de publicar sua autobiografia, com 1.300 páginas, na qual ele fala com lirismo sobre o passado. "Nós nos erguemos para trazer de volta à vida as antigas tradições humanitárias tchecoslovacas", disse. "Os jovens já não sabem mais nada sobre isso."
Císar juntou-se ao Partido Comunista em 1945, quando tinha 25 anos. Ao contrário do que acontecia em outros países da Europa Oriental, os comunistas eram populares na Tchecoslováquia altamente industrializada depois da 2ª Guerra Mundial.
"Criando uma atmosfera de abertura"
Na época, depois do trauma da invasão de 1938 pela Alemanha nazista e a subseqüente divisão da Tchecoslováquia, parecia razoável para muitos tchecos e eslovacos formar uma aliança estreita com a União Soviética. Afinal, foram os poderes ocidentais que haviam dado carta branca a Hitler ao assinar o Acordo de Munique, que levou os nazistas a anexarem uma parte da Tchecoslováquia conhecida como Sudetenland.
Durante a Primavera de Praga, Císar foi integrante do Comitê Central do Partido Comunista, responsável pela educação, cultura e ciência. Foi ele que aboliu a censura - um movimento que o tornou um dos políticos mais queridos do país. "Queríamos superar o medo e criar uma atmosfera de abertura", diz hoje. "Apenas colocamos em prática o que as pessoas estavam pensando." Quando os tanques chegaram, Císar também teve de deixar sua posição no governo. Mais, tarde passou a sobreviver como varredor de rua.
Depois que a Primavera de Praga foi derrotada, a Tchecoslováquia caiu no silêncio. "A devastação mental e moral através do 'processo de normalização' foi o pior, mais do que a própria invasão", diz Vojtech Mencl, encarregado de analisar os eventos entre 1967 e 1970 pelo novo governo democrático pós-1989. "A covardia moral tornou-se pré-requisito para a vida privada, a política era vista como suja e perigosa."
O resultado, diz ele, foi que as coisas ficaram praticamente calmas em Praga, diferentemente de Budapeste ou Varsóvia, até novembro de 1989. A "Revolução de Veludo" da Tchecoslováquia não começou até que o Muro de Berlim fosse finalmente derrubado.
Depois de 1989, os regimes comunistas gradualmente entraram em colapso. Entre os reformistas da Tchecoslováquia de 1968, apenas Dubcek assumiu um pequeno papel político na nova revolução - mas os ideais da Primavera de Praga foram deixados para trás. Os novos líderes em Praga viram os socialistas de 68, já velhos, como sonhadores que haviam sacrificado suas vidas por um experimento fadado ao fracasso. O acadêmico Eduard Goldstücker, membro eslovaco da geração de 68, notou com decepção que a Primavera de Praga foi "enterrada" duas vezes: uma depois de 21 de agosto de 1968, e novamente depois do outono de 1989.
Terceiras vias
Os tchecos e eslovacos, em resumo, estavam cansados de experimentos. Eles queriam a liberdade - e sobretudo a prosperidade - do Ocidente o mais rápido possível. Foram liberais como Václav Klaus, atual presidente da República Tcheca, que levaram o país para uma nova direção. Klaus não acreditava em uma "terceira via" moderada, numa síntese do comunismo com o capitalismo como Dubcek havia imaginado. "Todas as terceiras vias levaram ao terceiro mundo", disse Klaus certa vez.
Dubcek, ícone da Primavera de Praga, atingiu uma fama breve por fim. Nos excitantes dias de novembro de 1989, ele ficou ao lado do presidente Václav Havel, então recém-eleito, em uma varanda sobre a Praça Wenceslas em Praga, recebendo a aclamação das multidões. Dubcek, de 68 anos, tornou-se então porta-voz da Assembléia Federal, um cargo simbólico sem poder político. O novo herói da época era Havel, escritor e dramaturgo que se tornou uma figura política só depois de 1968. Em 1977, Havel foi co-autor do "Charter 77", um manifesto contra os abusos aos direitos humanos no governo comunista da Tchecoslováquia.
Em 1º de setembro de 1992, Alexander Dubcek viajava de carro de Praga para Bratislava como passageiro. Cerca de 90 quilômetros do meio do caminho, próximo à cidade de Humpolec, o BMW saiu da estrada. Era um trecho estreito da estrada e o tempo estava bom - o que é estranho, diz seu filho Pavol.
O herói tragico da Primavera de Praga ficou gravemente ferido no acidente e morreu dois meses depois. Alexander Dubcek, ainda uma figura popular em seu país, está enterrado no principal cemitério de Bratislava. Eloise De Vylder
Ninguém se lembra exatamente para qual escritório o novo funcionário de Praga se mudou naquele dia de verão em 1970. Dizem que ele era muito simpático, alto e com um sorriso amigável, e que se instalou no segundo andar de um prédio público cinzento nos arredores de Bratislava. O governo comunista o havia enviado para fiscalizar a manutenção do equipamento florestal na capital eslovaca.
O simpático novo funcionário era um homem chamado Alexander Dubcek. Um ano antes de assumir o novo posto, ele ainda era o primeiro-secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia. Os líderes do Partido o retiraram do poder em abril de 1969, e mais tarde o transferiram para o trabalho na fiscalização florestal. Agora, Dubcek ia de bonde para o trabalho; e às vezes, generosamente oferecia seu assento para o homem do serviço secreto que o seguia de uma forma pouco dissimulada.
Alexander Dubcek foi o herói da famosa "Primavera de Praga", o levante de 1968 esmagado pelos soviéticos há quase exatas quatro décadas. Dubcek era um reformista que queria dar uma "face humana" ao comunismo. Ele se tornou um ícone na Tchecoslováquia assim como uma esperança para os reformistas de outros países comunistas e socialistas. Mas o experimento da Tchecoslováquia se transformou em tragédia na noite de 21 de agosto de 1968, quando o país foi invadido pelos exércitos das nações do Pacto de Varsóvia. Os estudantes de Praga picharam num muro: "Lenin, acorde, eles ficaram loucos". Imagens de pessoas desesperadas, sem nenhuma defesa, paradas em frente a tanques de guerra garantiram a atenção mundial e a simpatia pela rebelião da pequena Tchecoslováquia contra a enorme União Soviética.
Um novo tipo de democracia
A Primavera de Praga foi a última tentativa dos reformadores comunistas do Bloco do Leste de livrar seus países dos vestígios do stalinismo e descentralizar o sistema totalitário. Foi um ponto de ruptura histórico com um resultado deprimente. E então, no verão de 1968, doze anos depois da Revolução Húngara e sete anos depois que a Alemanha foi dividida em duas por um muro, uma poderosa ilusão morreu - a ilusão de que o sistema comunista poderia gradualmente evoluir para um novo tipo de democracia liberal.
O contraste entre Leste e Oeste nunca foi tão grande quanto naquela época. Enquanto os tanques entravam em Praga e os membros do movimento reformista eram presos, estudantes na Europa Ocidental tomavam as ruas para reivindicar mudanças mais amplas no governo e na sociedade. Na Alemanha, por exemplo, os manifestantes logo encontraram a amizade do chanceler Willy Brandt, que queria mais democracia e havia embarcado em um programa para melhorar as relações com o Leste.
Desde então, as referências à "geração de 68" têm dois significados bem diferentes. Para aqueles que cresceram no Leste, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, 1968 significa Praga, Dubcek, os tanques e o fim de uma ilusão. Para aqueles que nasceram no Oeste, o mesmo ano faz lembrar o líder estudantil Rudi Dutschke, protestos e o movimento estudantil, assim como o terror da "Facção do Exército Vermelho" de extrema-esquerda. Para os que viveram no Leste, 68 foi um fracasso histórico, enquanto que para o Oeste, o movimento de 68, como um todo, foi uma história de sucesso.
Inspecionando moto-serras
Na Tchecoslováquia, o fracasso do experimento teve conseqüências dramáticas a longo prazo. Autoridades locais do partido, com o apoio de Moscou, forçaram os instigadores do movimento a deixarem suas posições de liderança, um a um. No final, até mesmo o popular Dubcek foi enviado para Bratislava para inspecionar moto-serras.
Com seu nariz proeminente e olhar amigável, Pavol Dubcek lembra seu pai. Quando os soviéticos invadiram a Tchecoslováquia em 1968, o filho de Dubcek estudava medicina em Bratislava. Sentado no sofá na casa de sua avó, ouviu as janelas vibrando enquanto os tanques entravam na cidade. Na época, ele concluiu que toda a família seria deportada para a Sibéria. "E além disso", diz ele, "nós tínhamos certeza de que eles executariam meu pai." Afinal, foi o que foi feito com o reformista Imre Nagy depois da Revolução Húngara de 1956.
Mas Alexander Dubcek sobreviveu à invasão de seus companheiros socialistas. Ele e outros reformistas foram afastados para a margem da sociedade com a chamada "normalização", um eufemismo para a remoção de indivíduos indesejados do poder. Dezenas de milhares de tchecos e eslovacos receberam tarefas como varrer ruas ou esvaziar latas de lixo.
Entre eles estava o escritor Ivan Klíma, que havia abraçado a Primavera de Praga e que, por esse motivo, foi proibido de publicar. Em 1988, logo depois que a mudança política chegou ao país, Klíma escreveu um livro chamado "Amor e Lixo" sobre seus anos como lixeiro. O escritor Milan Kundera deixou a Tchecoslováquia e ganhou reconhecimento mundial com livros como "A Insustentável Leveza do Ser".
Cestmír Císar é um dos últimos homens vivos que trabalharam com Dubcek. Ele mora no sexto andar de um prédio de concreto da época soviética em Dablice, um empreendimento residencial em Praga, e o apartamento está cheio de livros, do chão até o teto. Císar acabou de publicar sua autobiografia, com 1.300 páginas, na qual ele fala com lirismo sobre o passado. "Nós nos erguemos para trazer de volta à vida as antigas tradições humanitárias tchecoslovacas", disse. "Os jovens já não sabem mais nada sobre isso."
Císar juntou-se ao Partido Comunista em 1945, quando tinha 25 anos. Ao contrário do que acontecia em outros países da Europa Oriental, os comunistas eram populares na Tchecoslováquia altamente industrializada depois da 2ª Guerra Mundial.
"Criando uma atmosfera de abertura"
Na época, depois do trauma da invasão de 1938 pela Alemanha nazista e a subseqüente divisão da Tchecoslováquia, parecia razoável para muitos tchecos e eslovacos formar uma aliança estreita com a União Soviética. Afinal, foram os poderes ocidentais que haviam dado carta branca a Hitler ao assinar o Acordo de Munique, que levou os nazistas a anexarem uma parte da Tchecoslováquia conhecida como Sudetenland.
Durante a Primavera de Praga, Císar foi integrante do Comitê Central do Partido Comunista, responsável pela educação, cultura e ciência. Foi ele que aboliu a censura - um movimento que o tornou um dos políticos mais queridos do país. "Queríamos superar o medo e criar uma atmosfera de abertura", diz hoje. "Apenas colocamos em prática o que as pessoas estavam pensando." Quando os tanques chegaram, Císar também teve de deixar sua posição no governo. Mais, tarde passou a sobreviver como varredor de rua.
Depois que a Primavera de Praga foi derrotada, a Tchecoslováquia caiu no silêncio. "A devastação mental e moral através do 'processo de normalização' foi o pior, mais do que a própria invasão", diz Vojtech Mencl, encarregado de analisar os eventos entre 1967 e 1970 pelo novo governo democrático pós-1989. "A covardia moral tornou-se pré-requisito para a vida privada, a política era vista como suja e perigosa."
O resultado, diz ele, foi que as coisas ficaram praticamente calmas em Praga, diferentemente de Budapeste ou Varsóvia, até novembro de 1989. A "Revolução de Veludo" da Tchecoslováquia não começou até que o Muro de Berlim fosse finalmente derrubado.
Depois de 1989, os regimes comunistas gradualmente entraram em colapso. Entre os reformistas da Tchecoslováquia de 1968, apenas Dubcek assumiu um pequeno papel político na nova revolução - mas os ideais da Primavera de Praga foram deixados para trás. Os novos líderes em Praga viram os socialistas de 68, já velhos, como sonhadores que haviam sacrificado suas vidas por um experimento fadado ao fracasso. O acadêmico Eduard Goldstücker, membro eslovaco da geração de 68, notou com decepção que a Primavera de Praga foi "enterrada" duas vezes: uma depois de 21 de agosto de 1968, e novamente depois do outono de 1989.
Terceiras vias
Os tchecos e eslovacos, em resumo, estavam cansados de experimentos. Eles queriam a liberdade - e sobretudo a prosperidade - do Ocidente o mais rápido possível. Foram liberais como Václav Klaus, atual presidente da República Tcheca, que levaram o país para uma nova direção. Klaus não acreditava em uma "terceira via" moderada, numa síntese do comunismo com o capitalismo como Dubcek havia imaginado. "Todas as terceiras vias levaram ao terceiro mundo", disse Klaus certa vez.
Dubcek, ícone da Primavera de Praga, atingiu uma fama breve por fim. Nos excitantes dias de novembro de 1989, ele ficou ao lado do presidente Václav Havel, então recém-eleito, em uma varanda sobre a Praça Wenceslas em Praga, recebendo a aclamação das multidões. Dubcek, de 68 anos, tornou-se então porta-voz da Assembléia Federal, um cargo simbólico sem poder político. O novo herói da época era Havel, escritor e dramaturgo que se tornou uma figura política só depois de 1968. Em 1977, Havel foi co-autor do "Charter 77", um manifesto contra os abusos aos direitos humanos no governo comunista da Tchecoslováquia.
Em 1º de setembro de 1992, Alexander Dubcek viajava de carro de Praga para Bratislava como passageiro. Cerca de 90 quilômetros do meio do caminho, próximo à cidade de Humpolec, o BMW saiu da estrada. Era um trecho estreito da estrada e o tempo estava bom - o que é estranho, diz seu filho Pavol.
O herói tragico da Primavera de Praga ficou gravemente ferido no acidente e morreu dois meses depois. Alexander Dubcek, ainda uma figura popular em seu país, está enterrado no principal cemitério de Bratislava. Eloise De Vylder
Guerra Fria - 60 anos: uma breve história
A Guerra Fria deixou o planeta à beira do apocalipse nuclear. No centro do palco estava Berlim, a cidade alemã dividida que foi cenário do Airlift (ponte aérea) de 1948 e da queda do Muro em 1989. A "Spiegel Online" reuniu uma cronologia dos eventos-chave da Guerra Fria.
1945: Os Aliados acertam em Potsdam as condições fundamentais para a ocupação da Alemanha. Bombas nucleares americanas destroem Hiroshima e Nagasaki.
1947: A Doutrina Truman: Os Estados Unidos oferecem assistência a países ameaçados pelo comunismo -especialmente a Grécia e a Turquia. O secretário de Estado americano, George C. Marshall anuncia um imenso programa de ajuda para a reconstrução da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, que se tornará conhecido como Plano Marshall.
1948: Os comunistas tomam o poder na Tchecoslováquia.
1948: O bloqueio soviético a Berlim Ocidental tem início em 24 de junho. Isolada do mundo exterior, provisões são entregues à cidade isolada pelos americanos por meio de uma ponte aérea. Esta é a primeira grande crise de Berlim durante a Guerra Fria. Em 12 de maio de 1949, Stalin suspende o bloqueio.
1949: Em 4 de abril, o Tratado da Otan é assinado em Washington.
1949: Em 23 de maio, é estabelecida a República Federal da Alemanha. Não muito depois, em 7 de outubro, a República Democrática Alemã comunista é fundada.
1949: Em 29 de agosto, os soviéticos detonam sua primeira bomba atômica.
1949: Após vencer a guerra civil do país, o Partido Comunista sob Mao Tse-tung estabelece a República Popular da China.
1050-1953: A Guerra da Coréia: após a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, tropas da ONU lideradas pelos Estados Unidos invadem o país. A China e a União Soviética apóiam a Coréia do Norte. O cessar-fogo deixa os dois países com o status quo pré-guerra.
1952: O líder soviético Joseph Stalin oferece negociar a reunificação da Alemanha sob a condição de que uma Alemanha unida permaneça neutra. Com o apoio do Parlamento da Alemanha Ocidental, as potências aliadas ocidentais rejeitam a oferta.
1953: Em 17 de junho, um levante dos trabalhadores na Alemanha Oriental é esmagado por tanques russos.
1955: A República Federal da Alemanha se junta à Otan e forma o Bundeswehr, o primeiro exército alemão a existir após a queda de Hitler.
1956: Ocorre um levante húngaro, com início em 20 de outubro, mas ele é esmagado pelos russos.
1956: De 29 de outubro a 6 de novembro, ocorre a crise do Suez. Após as tentativas do Egito de nacionalizar o Canal de Suez, Israel, França e Reino Unido ocupam a zona do canal e bombardeiam os campos aéreos egípcios. O líder soviético Nikita Kruschev ameaça Londres e Paris com guerra nuclear.
1961: A construção do Muro de Berlim começa em 13 de agosto.
1962: A crise de Cuba: após os soviéticos posicionarem ogivas nucleares em Cuba, os Estados Unidos ameaçam uma guerra. O mundo fica à beira de uma guerra nuclear por dias.
1963: Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética concordam em suspender os testes submarinos e de superfície de armas nucleares.
1965: As primeiras forças de combate americanas chegam ao Vietnã do Sul. Mais de 2 milhões de pessoas morrerão durante a Guerra do Vietnã -a maioria civis. Os Estados Unidos retiram suas tropas em 1973. Dois anos depois, o norte comunista conquista o sul do país.
1968: Tropas do Pacto de Varsóvia, uma organização de Estados comunistas da Europa Central e Oriental, esmagam o levante da Primavera de Praga.
1969: Começam as negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética para redução de armas nucleares estratégicas. As negociações terminam com vários tratados em 1979, mas a corrida armamentista prossegue sem pausa.
1970: Tem início a chamada Ostpolitik, uma política de reaproximação com o bloco oriental defendida pelo chanceler alemão Willy Brandt. Sua política de "mudança por meio da conciliação" dá seus primeiros frutos. Os alemães e russos acertam um tratado que renuncia o uso da força.
1979: A decisão "Double Track" da Otan é aprovada, permitindo aos Estados Unidos a instalação de 572 ogivas nucleares "Pershing II" na Europa Ocidental caso as negociações com os soviéticos para desmonte dos mísseis SS-20 de médio alcance fracassassem. A instalação começa em 1983.
1980: Após a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, os Estados Unidos impõem sanções aos russos e boicotam os Jogos Olímpicos de Moscou.
1983: O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia o desenvolvimento do sistema de defesa antimísseis "Guerra nas Estrelas" de alcance mundial em sua Iniciativa de Defesa Estratégica.
1985: O chefe do Kremlin, Mikhail Gorbatchov, começa a reorientar a política externa soviética.
1987: Gorbatchov e Reagan concordam em eliminar todos os mísseis de médio alcance baseados em terra.
1989: O Muro de Berlim cai em 9 de novembro.
1991: O Pacto de Varsóvia é dissolvido. Gorbatchov renuncia e a União Soviética desaparece do mapa. George El Khouri Andolfato
1945: Os Aliados acertam em Potsdam as condições fundamentais para a ocupação da Alemanha. Bombas nucleares americanas destroem Hiroshima e Nagasaki.
1947: A Doutrina Truman: Os Estados Unidos oferecem assistência a países ameaçados pelo comunismo -especialmente a Grécia e a Turquia. O secretário de Estado americano, George C. Marshall anuncia um imenso programa de ajuda para a reconstrução da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, que se tornará conhecido como Plano Marshall.
1948: Os comunistas tomam o poder na Tchecoslováquia.
1948: O bloqueio soviético a Berlim Ocidental tem início em 24 de junho. Isolada do mundo exterior, provisões são entregues à cidade isolada pelos americanos por meio de uma ponte aérea. Esta é a primeira grande crise de Berlim durante a Guerra Fria. Em 12 de maio de 1949, Stalin suspende o bloqueio.
1949: Em 4 de abril, o Tratado da Otan é assinado em Washington.
1949: Em 23 de maio, é estabelecida a República Federal da Alemanha. Não muito depois, em 7 de outubro, a República Democrática Alemã comunista é fundada.
1949: Em 29 de agosto, os soviéticos detonam sua primeira bomba atômica.
1949: Após vencer a guerra civil do país, o Partido Comunista sob Mao Tse-tung estabelece a República Popular da China.
1050-1953: A Guerra da Coréia: após a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, tropas da ONU lideradas pelos Estados Unidos invadem o país. A China e a União Soviética apóiam a Coréia do Norte. O cessar-fogo deixa os dois países com o status quo pré-guerra.
1952: O líder soviético Joseph Stalin oferece negociar a reunificação da Alemanha sob a condição de que uma Alemanha unida permaneça neutra. Com o apoio do Parlamento da Alemanha Ocidental, as potências aliadas ocidentais rejeitam a oferta.
1953: Em 17 de junho, um levante dos trabalhadores na Alemanha Oriental é esmagado por tanques russos.
1955: A República Federal da Alemanha se junta à Otan e forma o Bundeswehr, o primeiro exército alemão a existir após a queda de Hitler.
1956: Ocorre um levante húngaro, com início em 20 de outubro, mas ele é esmagado pelos russos.
1956: De 29 de outubro a 6 de novembro, ocorre a crise do Suez. Após as tentativas do Egito de nacionalizar o Canal de Suez, Israel, França e Reino Unido ocupam a zona do canal e bombardeiam os campos aéreos egípcios. O líder soviético Nikita Kruschev ameaça Londres e Paris com guerra nuclear.
1961: A construção do Muro de Berlim começa em 13 de agosto.
1962: A crise de Cuba: após os soviéticos posicionarem ogivas nucleares em Cuba, os Estados Unidos ameaçam uma guerra. O mundo fica à beira de uma guerra nuclear por dias.
1963: Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética concordam em suspender os testes submarinos e de superfície de armas nucleares.
1965: As primeiras forças de combate americanas chegam ao Vietnã do Sul. Mais de 2 milhões de pessoas morrerão durante a Guerra do Vietnã -a maioria civis. Os Estados Unidos retiram suas tropas em 1973. Dois anos depois, o norte comunista conquista o sul do país.
1968: Tropas do Pacto de Varsóvia, uma organização de Estados comunistas da Europa Central e Oriental, esmagam o levante da Primavera de Praga.
1969: Começam as negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética para redução de armas nucleares estratégicas. As negociações terminam com vários tratados em 1979, mas a corrida armamentista prossegue sem pausa.
1970: Tem início a chamada Ostpolitik, uma política de reaproximação com o bloco oriental defendida pelo chanceler alemão Willy Brandt. Sua política de "mudança por meio da conciliação" dá seus primeiros frutos. Os alemães e russos acertam um tratado que renuncia o uso da força.
1979: A decisão "Double Track" da Otan é aprovada, permitindo aos Estados Unidos a instalação de 572 ogivas nucleares "Pershing II" na Europa Ocidental caso as negociações com os soviéticos para desmonte dos mísseis SS-20 de médio alcance fracassassem. A instalação começa em 1983.
1980: Após a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, os Estados Unidos impõem sanções aos russos e boicotam os Jogos Olímpicos de Moscou.
1983: O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia o desenvolvimento do sistema de defesa antimísseis "Guerra nas Estrelas" de alcance mundial em sua Iniciativa de Defesa Estratégica.
1985: O chefe do Kremlin, Mikhail Gorbatchov, começa a reorientar a política externa soviética.
1987: Gorbatchov e Reagan concordam em eliminar todos os mísseis de médio alcance baseados em terra.
1989: O Muro de Berlim cai em 9 de novembro.
1991: O Pacto de Varsóvia é dissolvido. Gorbatchov renuncia e a União Soviética desaparece do mapa. George El Khouri Andolfato
Historiadores dizem ter provas de que Lech Walesa era espião comunista
Os boatos simplesmente não desaparecem. Periodicamente, figuras lendárias do passado da Polônia são acusadas de colaborar com a polícia secreta comunista. Na segunda-feira (23/06), o mais recente desses rumores chegou às livrarias polonesas: um livro de 780 páginas que supostamente prova que o líder do sindicato de trabalhadores Solidariedade e ex-presidente polonês Lech Walesa foi informante da polícia secreta de 1970 a 1976.
As alegações não são novas. Em 2000, Walesa ganhou o primeiro de vários processos na justiça contra pessoas que alegavam que ele foi espião. Mas os autores de "O Serviço Secreto e Lech Walesa", ambos historiadores do Instituto da Memória Nacional, ou IPN, uma instituição governamental, afirmam que descobriram novos e fortes indícios de que Walesa colaborou com autoridades comunistas usando o codinome "Bolek".
Várias pessoas manifestaram-se em favor de Walesa, influindo ex-agentes da polícia secreta, que dizem que os seus arquivos eram rotineiramente falsificados. Uma vice-diretora do IPN, Maria Dmochowksa, disse publicamente que o livro faz parte de uma caça às bruxas e que ele não deveria ser publicado sob o nome do instituto.
Além do mais, o líder do IPN, Janusz Kurtyka, foi acusado de ter fortes vínculos com o presidente polonês Lech Kaczynski e com o irmão gêmeo deste, o ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski. Os Kaczynski criaram muita agitação na Polônia ao perseguirem agressivamente ex-figurões do Partido Comunista no país, e há muito tempo são adversários de Walesa.
"Der Spiegel" conversou com Slawomir Cenckiewicz, um dos autores do livro, a respeito das provas e da controvérsia.
Spiegel - Nesta segunda-feira, o livro de vocês, "O Serviço Secreto e Lech Walesa", chegou às livrarias. Ele já gerou uma intensa polêmica. Nele, você e o co-autor Piotr Gontarczyk alegam que o herói do movimento de reforma da Polônia colaborou com a polícia secreta na década de 1970. Vocês têm provas disso?
Cenckiewicz - Nós fornecemos provas claras no nosso livro, incluindo fichas de registro, anotações, notas da polícia secreta e relatórios feitos pelo informante conhecido como "Bolek". Existem provas irrefutáveis de que Lech Walesa foi colaborador da polícia secreta sob esse codinome de 1970 a 1976.
Spiegel - Walesa nega enfaticamente essa acusação, e afirma que o arquivo Bolek é uma fraude. Como é que vocês podem ter certeza de que a polícia secreta não fabricou esses documentos para prejudicar a imagem do líder sindical?
Cenckiewicz - Conhecemos os métodos da polícia secreta e a forma como eram gerenciados os arquivos e registros - é assim que sabemos. Também descobrimos indícios do arquivo Bolek citados em outros arquivos.
Spiegel - Mas esses arquivos também poderiam ter sido forjados.
Cenckiewicz - Esses arquivos ainda trazem os carimbos originais e é possível provar que eles não foram abertos desde a década de 1970. Estamos convictos de que não houve nenhuma manipulação.
Spiegel - Assumindo por um momento que Walesa tenha sido de fato Bolek, conforme vocês alegam, qual a dimensão do estrago que ele teria feito?
Cenckiewicz - Nós descrevemos o que aconteceu com as pessoas sobre as quais Bolek forneceu informações. Descobrimos sete destes casos. Os outros foram destruídos ou roubados dos arquivos. Mas não há dúvida de que Bolek prestou informações sobre mais de 20 pessoas que mais tarde foram alvos de assédio ou opressão.
Spiegel - Segundo uma pesquisa recente, mais de 40% dos poloneses acreditam que Walesa pode ter sido informante da polícia secreta. Mas a maioria ainda afirma que isso não diminui a importância das suas realizações. Será que temos que reavaliar o legado desse lendário sindicalista?
Cenckiewicz - Nós somos historiadores e acima de tudo desejamos escrever a respeito do que aconteceu. O nosso livro não lida com legados. Além disso o nosso objetivo não foi destruir uma figura legendária. Nós consideramos Walesa um símbolo nacional. Ele liderou o Solidariedade e continua sendo um ícone. Mas ele também trabalhou junto à polícia secreta sob o codinome Bolek. A verdade nem sempre é apenas em preto e branco.
Spiegel - Em 1976 a polícia secreta decidiu deixar de trabalhar com o informante Bolek porque ele não estava mais cooperando o suficiente. Mas Walesa era um perigo enorme para todo o sistema comunista na década de 1980: ele liderou o sindicato Solidariedade e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1983. Não teria sido fácil para a polícia secreta divulgar os arquivos dele a fim de embaraçar Walesa perante os indivíduos que o apoiavam no exterior?
Cenckiewicz - Nos anos oitenta a polícia secreta tentou fazer isso, mas a estratégia não funcionou.
Spiegel - Por que não, se as provas são tão claras quanto vocês alegam?
Cenckiewicz - Walesa era um herói nacional, um verdadeiro ícone. A grande maioria dos poloneses não acreditava em uma só palavra dita pelas autoridades. Para o povo, tudo o que a mídia oficial dizia sobre Walesa não passava de manipulação por parte das autoridades comunistas.
Spiegel - A outra forte alegação no livro de vocês é a de que Walesa tentou limpar o seu arquivo quando foi presidente da Polônia, no início da década de 1990.
Cenckiewicz - Para mim este é o capítulo mais triste dessa história. Ele foi o primeiro chefe de Estado polonês escolhido através de eleições livres desde a Segunda Guerra Mundial, mas usou o seu cargo para remover arquivos incriminadores da polícia secreta.
Spiegel - Walesa também negou veementemente esta acusação. Que prova vocês têm de que ele fez isso, ou pelo menos que ordenou que isso fosse feito?
Cenckiewicz - Alguns dos documentos trazem a sua assinatura, uma data e a nota "Eu peguei este arquivo emprestado". Outros trazem a assinatura de algum dos seus subordinados próximos, por exemplo, o ex-ministro do Interior, Andrzej Milczanowski, solicitando os documentos em nome dele. Walesa endossou os pedidos. Mas tarde constatou-se que alguns dos arquivos foram devolvidos incompletos. O novo serviço secreto pós-comunista não deixou de tomar nota disso.
Spiegel - Há muito tempo os poloneses discutem como a queda do comunismo deveria ser lembrada. Os aliados dos gêmeos Kaczynski argumentam que o país perdeu a chance de confrontar o passado da sua polícia secreta, e que isso fez com que velhas redes fossem recriadas na nova Polônia. Vocês temem que o seu livro seja politizado como parte desse debate?
Cenckiewicz - Nós não participamos de tais discussões, rejeitamos conversas com políticos e fazemos tudo o que é possível para nos mantermos fora do debate político. Em um novo livro, dois historiadores poloneses publicam aquilo que dizem ser a prova de que o herói do Solidariedade colaborou com a polícia secreta da era comunista - e que tentou esconder este fato décadas depois.
As alegações não são novas. Em 2000, Walesa ganhou o primeiro de vários processos na justiça contra pessoas que alegavam que ele foi espião. Mas os autores de "O Serviço Secreto e Lech Walesa", ambos historiadores do Instituto da Memória Nacional, ou IPN, uma instituição governamental, afirmam que descobriram novos e fortes indícios de que Walesa colaborou com autoridades comunistas usando o codinome "Bolek".
Várias pessoas manifestaram-se em favor de Walesa, influindo ex-agentes da polícia secreta, que dizem que os seus arquivos eram rotineiramente falsificados. Uma vice-diretora do IPN, Maria Dmochowksa, disse publicamente que o livro faz parte de uma caça às bruxas e que ele não deveria ser publicado sob o nome do instituto.
Além do mais, o líder do IPN, Janusz Kurtyka, foi acusado de ter fortes vínculos com o presidente polonês Lech Kaczynski e com o irmão gêmeo deste, o ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski. Os Kaczynski criaram muita agitação na Polônia ao perseguirem agressivamente ex-figurões do Partido Comunista no país, e há muito tempo são adversários de Walesa.
"Der Spiegel" conversou com Slawomir Cenckiewicz, um dos autores do livro, a respeito das provas e da controvérsia.
Spiegel - Nesta segunda-feira, o livro de vocês, "O Serviço Secreto e Lech Walesa", chegou às livrarias. Ele já gerou uma intensa polêmica. Nele, você e o co-autor Piotr Gontarczyk alegam que o herói do movimento de reforma da Polônia colaborou com a polícia secreta na década de 1970. Vocês têm provas disso?
Cenckiewicz - Nós fornecemos provas claras no nosso livro, incluindo fichas de registro, anotações, notas da polícia secreta e relatórios feitos pelo informante conhecido como "Bolek". Existem provas irrefutáveis de que Lech Walesa foi colaborador da polícia secreta sob esse codinome de 1970 a 1976.
Spiegel - Walesa nega enfaticamente essa acusação, e afirma que o arquivo Bolek é uma fraude. Como é que vocês podem ter certeza de que a polícia secreta não fabricou esses documentos para prejudicar a imagem do líder sindical?
Cenckiewicz - Conhecemos os métodos da polícia secreta e a forma como eram gerenciados os arquivos e registros - é assim que sabemos. Também descobrimos indícios do arquivo Bolek citados em outros arquivos.
Spiegel - Mas esses arquivos também poderiam ter sido forjados.
Cenckiewicz - Esses arquivos ainda trazem os carimbos originais e é possível provar que eles não foram abertos desde a década de 1970. Estamos convictos de que não houve nenhuma manipulação.
Spiegel - Assumindo por um momento que Walesa tenha sido de fato Bolek, conforme vocês alegam, qual a dimensão do estrago que ele teria feito?
Cenckiewicz - Nós descrevemos o que aconteceu com as pessoas sobre as quais Bolek forneceu informações. Descobrimos sete destes casos. Os outros foram destruídos ou roubados dos arquivos. Mas não há dúvida de que Bolek prestou informações sobre mais de 20 pessoas que mais tarde foram alvos de assédio ou opressão.
Spiegel - Segundo uma pesquisa recente, mais de 40% dos poloneses acreditam que Walesa pode ter sido informante da polícia secreta. Mas a maioria ainda afirma que isso não diminui a importância das suas realizações. Será que temos que reavaliar o legado desse lendário sindicalista?
Cenckiewicz - Nós somos historiadores e acima de tudo desejamos escrever a respeito do que aconteceu. O nosso livro não lida com legados. Além disso o nosso objetivo não foi destruir uma figura legendária. Nós consideramos Walesa um símbolo nacional. Ele liderou o Solidariedade e continua sendo um ícone. Mas ele também trabalhou junto à polícia secreta sob o codinome Bolek. A verdade nem sempre é apenas em preto e branco.
Spiegel - Em 1976 a polícia secreta decidiu deixar de trabalhar com o informante Bolek porque ele não estava mais cooperando o suficiente. Mas Walesa era um perigo enorme para todo o sistema comunista na década de 1980: ele liderou o sindicato Solidariedade e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1983. Não teria sido fácil para a polícia secreta divulgar os arquivos dele a fim de embaraçar Walesa perante os indivíduos que o apoiavam no exterior?
Cenckiewicz - Nos anos oitenta a polícia secreta tentou fazer isso, mas a estratégia não funcionou.
Spiegel - Por que não, se as provas são tão claras quanto vocês alegam?
Cenckiewicz - Walesa era um herói nacional, um verdadeiro ícone. A grande maioria dos poloneses não acreditava em uma só palavra dita pelas autoridades. Para o povo, tudo o que a mídia oficial dizia sobre Walesa não passava de manipulação por parte das autoridades comunistas.
Spiegel - A outra forte alegação no livro de vocês é a de que Walesa tentou limpar o seu arquivo quando foi presidente da Polônia, no início da década de 1990.
Cenckiewicz - Para mim este é o capítulo mais triste dessa história. Ele foi o primeiro chefe de Estado polonês escolhido através de eleições livres desde a Segunda Guerra Mundial, mas usou o seu cargo para remover arquivos incriminadores da polícia secreta.
Spiegel - Walesa também negou veementemente esta acusação. Que prova vocês têm de que ele fez isso, ou pelo menos que ordenou que isso fosse feito?
Cenckiewicz - Alguns dos documentos trazem a sua assinatura, uma data e a nota "Eu peguei este arquivo emprestado". Outros trazem a assinatura de algum dos seus subordinados próximos, por exemplo, o ex-ministro do Interior, Andrzej Milczanowski, solicitando os documentos em nome dele. Walesa endossou os pedidos. Mas tarde constatou-se que alguns dos arquivos foram devolvidos incompletos. O novo serviço secreto pós-comunista não deixou de tomar nota disso.
Spiegel - Há muito tempo os poloneses discutem como a queda do comunismo deveria ser lembrada. Os aliados dos gêmeos Kaczynski argumentam que o país perdeu a chance de confrontar o passado da sua polícia secreta, e que isso fez com que velhas redes fossem recriadas na nova Polônia. Vocês temem que o seu livro seja politizado como parte desse debate?
Cenckiewicz - Nós não participamos de tais discussões, rejeitamos conversas com políticos e fazemos tudo o que é possível para nos mantermos fora do debate político. Em um novo livro, dois historiadores poloneses publicam aquilo que dizem ser a prova de que o herói do Solidariedade colaborou com a polícia secreta da era comunista - e que tentou esconder este fato décadas depois.
Bélgica destruirá seu arsenal de bombas de fragmentação
O Exército da Bélgica destruirá até amanhã todas suas reservas de bombas de fragmentação (ou cluster) acumulados no país, informou hoje os meios noticiosos locais.
No próximo 1º de agosto, entra em vigor o Tratado sobre a Proibição de Bombas de Fragmentação firmado por mais de 100 países em dezembro de 2008, em Oslo.
Nos depósitos do Exército Belga, guardava-se mais de 150 mil projéteis clusters.
Uma bomba de fragmentação, conta com várias dezenas de elementos explosivos que antes da detonação, se dispersam para criar uma área maior de impacto. O armamento desse tipo é perigoso, porque várias bombas menores não detonam e se convertem em minas, trazendo um perigo enorme para os civis.
As bombas de fragmentação estiveram em uso no Líbano e Kosovo, e são usadas no Iraque e Afeganistão. Na maioria dos casos a população civil, em especial as crianças, que são os maiores prejudicados pela não detonação de alguns elementos da bomba de fragmentação.
No próximo 1º de agosto, entra em vigor o Tratado sobre a Proibição de Bombas de Fragmentação firmado por mais de 100 países em dezembro de 2008, em Oslo.
Nos depósitos do Exército Belga, guardava-se mais de 150 mil projéteis clusters.
Uma bomba de fragmentação, conta com várias dezenas de elementos explosivos que antes da detonação, se dispersam para criar uma área maior de impacto. O armamento desse tipo é perigoso, porque várias bombas menores não detonam e se convertem em minas, trazendo um perigo enorme para os civis.
As bombas de fragmentação estiveram em uso no Líbano e Kosovo, e são usadas no Iraque e Afeganistão. Na maioria dos casos a população civil, em especial as crianças, que são os maiores prejudicados pela não detonação de alguns elementos da bomba de fragmentação.
'O camareiro espião'
Durante a II Grande Guerra, movimentava-se nos meios diplomáticos da capital turca uma misteriosa personagem que, mesmo hoje, não se sabe ao certo se fora coronel da SS ou da Gestapo. Disfarçado na função de adido comercial da Embaixada Alemã, Ludwig Moyzisch era, na realidade, um refinadíssimo espião nazista. Vários anos após o conflito, Moyzisch se retirou para Insbruck, na Áustria, onde publicou um livro de enorme sucesso: OPERAÇÃO CÍCERO, onde revela a forma pela qual havia manipulado Elyesa Bazna, o ambicioso camareiro de Sir Hughe Knatchbull-Hugessen, Embaixador britânico em Ancara, pagando-lhe com dinheiro falso os informes que dele recebia.
Até então, o espião enganado por outro espião, ignorava até mesmo seu codinome: Cícero. Sabia apenas esse fato indisfarçável: o dinheiro falso. Inteirado, afinal, dos detalhes da astuta manobra de que fora vítima, não se deu por achado e publicou outro livro: O ESPIÃO CÍCERO, que pode ser considerado réplica da obra de Moyzisch.Nele não muda propriamente os fatos revelados por Moyzisch que, a essa altura, já não consegue desmentir; mas os apresenta à sua maneira, procurando subtrair-se da fama de espião mais enganado do século para pousar, diante da posteridade, como o espião do século.
Em O CAMAREIRO ESPIÃO, aqui publicado, Guido Gerosa faz um confronto entre as duas versões e servindo-se, ainda, de outras fontes, chega a conclusões que, talvez, seja a verdade definitiva dos fatos.
Quando o homem deslizava imperceptívelmente no quarto, tudo ali era obscuridade e silêncio. Da cama chegava até ele a longa respiração cadenciada de quem dormia. Ele mal lançava um olhar de piedade para sua vítima e logo se punha ao trabalho. Estendia a mão para a pasta de couro do embaixador, em geral colocada sobre um móvel, fazia saltar com delicadeza a fechadura e deixava correr os longos dedos nervosos sobre as folhas que surgiam: documentos sigilosos, relatórios, telegramas, cartas com timbres e Estado. Guardava aquelas folhas consigo e ganhava silenciosamente a saída.
No dia seguinte, em qualquer rua do centro de Ancara, entraria no carro de seu senhor, o alemão Moyzisch, e lhe faria entrega das fotografias dos documentos secretos aliados. Assim, por uma centena de vezes, entre 1943 e 1944, Elyesa Bazna, o camareiro do embaixador inglês na Turquia, Sir Hughe Knatchbull-Hugessen, repetiu as incursões ao quarto de dormir do patrão. Nunca foi descoberto: amigos e inimigos ignoravam que aquele homem de pesada fisionomia oriental, com olhinhos de raposa escancarados num alucinado rosto oblongo, era o grande espião Cícero, de quem os aliados sabiam apenas que conseguia transmitir aos alemães, da Turquia, os segredos da guerra.
Elyesa, aos 38 anos, tornara-se um Kavass. É o termo que, na Turquia, designa os servidores de um estrangeiro, principalmente os criados das Embaixadas. Sua educação de serviçal se completara durante sete anos a serviço do embaixador iugoslavo de Ancara, Jankovich. O patrão seguinte foi o adido militar americano, coronel Class.
O conselheiro da Embaixada alemã Jenke, cunhado de Ribbentrop e seu novo empregador, suspeitou de que Cícero lhe abria as cartas.
Cícero estava imerso, já naquele período, no caos que dominou toda sua vida. A família — mulher e quatro filhos — já lhe dava bastantes aborrecimentos para que desejasse outros. Mas para Cícero a ânsia primordial consistia em conquistar mulheres. Para este hobby, no entanto, a natureza não lhe dera o instrumental adequado. Tinha 1,59m de altura e mantinha-se ridiculamente ereto; possuía um crânio pontudo e, no conjunto, era um homem extremamente feio. Mas desprendia, em virtude de uma pose artificialmente rígida, uma espécie de magnetismo que atraía certo tipo de mulheres.
Passará para o serviço do embaixador inglês, Sir Hughe Knatchbull-Hugessen. Tinha sido recomendado por uma bela governanta, com quem mantinha relações amorosas.
É incrível como Cícero conseguia a proteção das mulheres, em sua carreira. Agora, sua grande aspiração, a espionagem, tornara-se irresistível. Decidiu oferecer seus serviços aos alemães. O destino colocou-o diante de um personagem de refinada astúcia, que se transformou em seu anjo negro por toda a vida: o vienense Moyzisch, aparentemente adido comercial junto à Embaixada alemã dirigida por Von Papen, em Ancara, mas, na realidade, coronel das SS ou da GESTAPO, nunca se soube com precisão.
Cícero começou a passar a Moyzisch o material fotografado durante a noite, no quarto do embaixador, quando este dormia sob o peso da fadiga e das garrafas de uísque. Os relatórios de Moyzisch a seus superiores logo se revelaram interessantíssimos.
Depois da guerra, Cícero inventou motivos ideológicos, mas a verdade é que bancou o espião porque amava as mulheres. Se não contasse com o dinheiro que Moyzisch lhe dava, em pagamento por seus préstimos, não poderia sustentar suas amantes. A vaidade dom-juanesca tornara-o cego. Houve, a esse propósito, um episódio revelador. Um dia, entrou em uma boutique, e ali encontrou Moyzisch, seu corruptor. Ao lado do austríaco, achava-se uma bela mulher. Moyzisch lançou-lhe olhares furiosos: sabia que era absurdo para um camareiro freqüentar uma loja daquelas, e teve medo de que o seu associado despertasse suspeitas. Mas Cícero abordou-a, conversou com ela, ignorando os gélidos olhares do outro. 0 episódio foi ainda mais grave pelo fato de que aquela mulher, Cornelia Kapp, secretária de Moyzisch e filha de um cônsul alemão, era agente do serviço secreto americano e descobriria, no futuro, a identidade de Cícero, condenando-o à inatividade.
Cícero sentia-se profundamente fascinado pelo embaixador Sir Hughe. Nunca se compreendeu a verdadeira natureza das relações que uniam os dois homens. Era ainda mais misteriosa que as com Moyzisch. Cícero cuidava dele com a atenção de um amante, experimentando, ao mesmo tempo, o prazer de enganá-lo, como jamais outro homem foi enganado.
É certo que Cícero invejava o embaixador. Sir Hughe era tudo aquilo que ele gostaria de ser: alto, bonito, desembaraçado, aristocrático. Sua desforra contra Sir Hughe era noturna. Humilhava-o em silêncio, quando entrava na ponta dos pés no quarto e lhe roubava os documentos.
Aventou-se mesmo a hipótese de que entre os dois homens, camareiro e embaixador, a relação de amizade havia atingido um limite tal, que nenhum dos dois, na defesa de seus interesses particulares, guardava qualquer prudência elementar. Por que o embaixador nunca se defendeu ou tentou explicar sua desventura? Teria algo a esconder?
Segundo outra hipótese, não se tratava nem de um sono profundo do embaixador, nem de corrupção: o embaixador pura e simplesmente teria passado a Cícero os documentos, para que os mostrasse aos alemães, a fim de que estes se atemorizassem diante do testemunho da superioridade aliada.
A farinha do diabo
Se os alemães estavam perplexos, os aliados, que conheciam a exatidão dos informes roubados, estavam furiosos.
A desmancha-prazeres foi uma mulher. Moyzisch não conseguia mais suportar sua secretária, Cornelia Kapp, porque era confusa e desatenta, cometia uma infinidade de erros no trabalho e, à menor admoestação, explodia em crises histéricas. Cornelia fugiu na sexta-feira santa, 6 de abril de 1944: disse que iria encontrar-se com o pai em Budapeste, mas na verdade dirigiu-se ao Cairo. Ali, revelou aos seus superiores quem era Cícero: não podia ser senão um doméstico da embaixada inglesa.
A fuga de Cornelia havia desmascarado o camareiro espião. Agora, ele esperava ser preso de um momento para outro. Não lhe restava outra alternativa senão desaparecer também. Disse a Sir Hughe que pretendia demitir-se. Então o diplomata fez-lhe a última afronta. Respondeu-lhe que isso não lhe dizia respeito e que se dirigisse ao mordomo. A 30 de abril de 1944, Cícero deixava
a embaixada.
Foi importante a atividade de Cícero como espião? Bastante, embora não tanto como pretendem alguns. Ele forneceu, principalmente, os dados sobre a operação OVERLORD que, porém, foram levados a sério pela metade. Mas o seu valor como espião consistiu, principalmente, no pânico que provocou no campo aliado, quando fez sentir aos ingleses e americanos que seu bunker de segredos não passava de uma casa com paredes de vidro.
Suas aventuras subsequentes foram melancólicas. Começou uma vida absurda. Primeiro tornou-se comerciante de carros usados. Desperdiçou uma avalanche de dinheiro. E fez bem, porque logo se descobriu que a farinha do diabo estava estragada. Os alemães haviam pago seus serviços com esterlinas falsas. A um certo momento da guerra, os nazistas acalentaram a idéia de provocara queda da esterlina, jogando nos mercados neutros milhões de esterlinas falsas. Depois desistiram da idéia, usando a moeda falsa para finalidades menores: por exemplo, o pagamento gigantesco feito ao agente Cícero.
Em maio de 1945, o serviço secreto americano na Áustria foi informado de que os camponeses da zona do Traun (afluente do Danúbio) haviam pescado notas bancárias na água. Os agentes fizeram pesquisas e o rio devolveu 20 milhões de esterlinas. Nos campos de concentração, os americanos descobriram os responsáveis pela operação das libras esterlinas. Estes confessaram: durante a guerra tinham sido fabricados 150 milhões de esterlinas. 300 mil foram parar nos bolsos de Cícero.
Assim, o astuto kavass, que acreditou estar fazendo uma fortuna ao embrulhar Sir Hughe , descobriu ter sido também ludibriado por Moyzisch. Foram seus dois demônios familiares, os duendes de sua vida. Cícero agora se julgou grande: tinha inaugurado uma empresa de construções e estava edificando um luxuoso hotel, estilo Hilton, com subvenções estatais. Era visto freqüentemente em almoço de negócio com altos funcionários do Estado turco.
Nos bancos se difundiu a inquietação: estavam circulando esterlinas falsas. Na Suíça foi recuperada uma boa parcela, de um comerciante turco. De pagador a pagador, chegou-se finalmente a Cícero. A polícia irrompeu em seu escritório de Bursa. Cícero foi por vezes ingênuo, mas jamais lento para compreender. Bastaram-lhe algumas frases para perceber a verdade: estava completamente arruinado. Não tinha um centésimo de dinheiro bom. A complementação da sua desgraça ocorreu nessa mesma noite: Aika, a sua amante grega, fez as malas e o abandonou.
Cícero contou a estória das esterlinas falsas de uma maneira diferente. No início, ele teria sido pago pelos seus serviços, com moeda boa. Moyzisch lhe entregou, em diversas parcelas, um milhão de liras turcas. Mas, quando a Turquia entrou na guerra ao lado dos aliados, o pessoal alemão foi internado na Embaixada, e Moyzisch mandou chamar Cícero. Ele não queria ir, foi Aika quem o convenceu: “Eles fizeram a tua fortuna, poderão te ajudar ainda mais”. Moyzisch propôs uma troca: os alemães tinham na Embaixada uma quantidade de esterlinas, que não podiam trocar; não pode ria Cícero fazer o favor de trocá-las por liras turcas? Assim, Cícero restituiu a Moyzisch 600 mil liras turcas, que recebera dele e, em troca , recebeu as 50 mil esterlinas da catástrofe.
O complexo de pinóquio
Será verdade? Cícero era mestre em inventar, de vez em quando, novos detalhes de sua estória, para fabricar uma biografia heróica. Mas talvez, neste caso, tenha sido sincero. Por outro lado, não faz muita diferença. Ludibriado com o dinheiro falso, Cícero passou a ser, certamente , o espião mais enganado do século: tinha sido o Pinóquio, que sepultara os sacos de ouro no campo dos milagres, esperando que florescesse a árvore das moedas, e o gato Jenke e a raposa Moyzisch levaram tudo embora.
Ficou com esse complexo por toda a vida. Sentia-se uma vítima e, em qualquer pessoa que encontrasse, procurava seu Sir Hughe, temendo, no entanto, encontrar um novo Moyzisch que o enganasse. A 18 de outubro de 1950, um deputado perguntou à Câmara dos Comuns se era mesmo verdade que documentos secretos haviam sido subtraídos, durante a guerra, da Embaixada inglesa na Turquia. O ministro do Exterior, Bevin, revelou pela primeira vez a grandeza de Cícero: “Nenhum documento foi subtraído, durante a guerra, da embaixada de Sua Majestade em Ancara, mas as pesquisas sobre os fatos a que se refere revelam que o camareiro do embaixador conseguira fotografar um grande número de documentos secretos, e vender os filmes aos alemães”.
Sir Hughe falou apenas uma vez, em seu estilo aristocrático e fez o último insulto a Cícero: “O nome de meu camareiro era Elias. Não consigo recordar seu sobrenome”. Cícero o destruíra, mas o diplomata mantinha em relação a ele o seu altivo desprezo.
Outro grave golpe foi infligido por Moyzisch. O coronel de seu ninho de águia em Innsbruck, fez publicar um livro que relatava toda a estória e que obteve enorme sucesso: OPERAÇÃO CÍCERO. Assim, Cícero descobre, com furor, que pela segunda vez Moyzisch triunfava e se enriquecia à sua custa. O máximo de humilhação foi descobrir, através do livro de seu inimigo, o nome com o qual a História iria recordá-lo: Cícero jamais soubera chamar-se assim. Moyzisch conta que aquele nome de código lhe fora dado por Von Pappen, em 31 de outubro de 1943: “Chamá-lo-emos Cícero, porque nos fornece documentos eloquentes”. Mais tarde, em sua costumeira megalomania, Cícero inventou que o nome lhe fora dado por Hitler, com esta motivação: “Cícero foi o mais inteligente dos romanos, por isso chamo Cícero ao mais inteligente de meus agentes”.
Desta vez, Moyzisch causou-lhe mais amarguras que da primeira. Cícero ergueu-se de repente. Sentia-se um herói histórico. Esperava poder desfrutar, pelo menos de segunda mão, a celebridade que Moyzisch lhe concedera. Soube que estavam rodando um filme sobre a sua estória, com o ator James Mason. Procurou o diretor Mankiewicz, que o fez expulsar: “Não é Cícero. É um doido”. Recaiu no esquecimento por longo período e foi redescoberto por um jornalista francês.
Cícero não tinha paz. Correu o mundo dos editores apresentando memórias e escrevendo livros, deixando-se regularmente ludibriar com relação aos direitos autorais. Não conseguia ler os contratos, era muito orgulhoso para admitir que não compreendia as línguas, e muito desconfiado para se servir de um advogado; preferia deixar-se enganar. Abandonou por um momento o ódio por Moyzisch, que justificava sua vida, e sua nova ovelha negra passou a ser um editor de nome Ferenczi: por um certo período, a ele atribuiu todos os seus males. Agora era um pobre coitado. Vivia quase na miséria, por todos os cantos da Europa, com Esra, sua mulher, e os quatro filhos que ela lhe dera. Estava sempre trabalhando em algum memorial, no qual inventava novas estórias; no mesmo livro repetia diversas vezes a mesma estória, para encompridá-lo, com a astúcia dos velhos escritores de folhetins.
Em 1968, apresentou-se num programa de televisão: encontrava-se, então, na Alemanha, dizia-se paupérrimo, e reclamava do governo alemão 250 milhões de marcos por seus serviços durante a guerra, mal pagos pelas esterlinas falsas de Moyzisch.
Apresentava-se agora gorducho, olhinhos vivos, dois dentes apenas na boca vazia, um terno marrom de confecção barata, o colarinho enrugado sobre uma gravatinha borboleta. Morava em um apartamentozinho em Munique, com os anônimos vizinhos Muller e Kessler, que certamente nem imaginavam viver ao lado da História. Escutava discos de Rita Pavone e colecionava horríveis recordações turísticas; gostava de demonstrar seu talento no canto lírico. Aos domingos passeava com a família pelas ruas ensolaradas. Ninguém o reconhecia.
Até então, o espião enganado por outro espião, ignorava até mesmo seu codinome: Cícero. Sabia apenas esse fato indisfarçável: o dinheiro falso. Inteirado, afinal, dos detalhes da astuta manobra de que fora vítima, não se deu por achado e publicou outro livro: O ESPIÃO CÍCERO, que pode ser considerado réplica da obra de Moyzisch.Nele não muda propriamente os fatos revelados por Moyzisch que, a essa altura, já não consegue desmentir; mas os apresenta à sua maneira, procurando subtrair-se da fama de espião mais enganado do século para pousar, diante da posteridade, como o espião do século.
Em O CAMAREIRO ESPIÃO, aqui publicado, Guido Gerosa faz um confronto entre as duas versões e servindo-se, ainda, de outras fontes, chega a conclusões que, talvez, seja a verdade definitiva dos fatos.
Quando o homem deslizava imperceptívelmente no quarto, tudo ali era obscuridade e silêncio. Da cama chegava até ele a longa respiração cadenciada de quem dormia. Ele mal lançava um olhar de piedade para sua vítima e logo se punha ao trabalho. Estendia a mão para a pasta de couro do embaixador, em geral colocada sobre um móvel, fazia saltar com delicadeza a fechadura e deixava correr os longos dedos nervosos sobre as folhas que surgiam: documentos sigilosos, relatórios, telegramas, cartas com timbres e Estado. Guardava aquelas folhas consigo e ganhava silenciosamente a saída.
No dia seguinte, em qualquer rua do centro de Ancara, entraria no carro de seu senhor, o alemão Moyzisch, e lhe faria entrega das fotografias dos documentos secretos aliados. Assim, por uma centena de vezes, entre 1943 e 1944, Elyesa Bazna, o camareiro do embaixador inglês na Turquia, Sir Hughe Knatchbull-Hugessen, repetiu as incursões ao quarto de dormir do patrão. Nunca foi descoberto: amigos e inimigos ignoravam que aquele homem de pesada fisionomia oriental, com olhinhos de raposa escancarados num alucinado rosto oblongo, era o grande espião Cícero, de quem os aliados sabiam apenas que conseguia transmitir aos alemães, da Turquia, os segredos da guerra.
Elyesa, aos 38 anos, tornara-se um Kavass. É o termo que, na Turquia, designa os servidores de um estrangeiro, principalmente os criados das Embaixadas. Sua educação de serviçal se completara durante sete anos a serviço do embaixador iugoslavo de Ancara, Jankovich. O patrão seguinte foi o adido militar americano, coronel Class.
O conselheiro da Embaixada alemã Jenke, cunhado de Ribbentrop e seu novo empregador, suspeitou de que Cícero lhe abria as cartas.
Cícero estava imerso, já naquele período, no caos que dominou toda sua vida. A família — mulher e quatro filhos — já lhe dava bastantes aborrecimentos para que desejasse outros. Mas para Cícero a ânsia primordial consistia em conquistar mulheres. Para este hobby, no entanto, a natureza não lhe dera o instrumental adequado. Tinha 1,59m de altura e mantinha-se ridiculamente ereto; possuía um crânio pontudo e, no conjunto, era um homem extremamente feio. Mas desprendia, em virtude de uma pose artificialmente rígida, uma espécie de magnetismo que atraía certo tipo de mulheres.
Passará para o serviço do embaixador inglês, Sir Hughe Knatchbull-Hugessen. Tinha sido recomendado por uma bela governanta, com quem mantinha relações amorosas.
É incrível como Cícero conseguia a proteção das mulheres, em sua carreira. Agora, sua grande aspiração, a espionagem, tornara-se irresistível. Decidiu oferecer seus serviços aos alemães. O destino colocou-o diante de um personagem de refinada astúcia, que se transformou em seu anjo negro por toda a vida: o vienense Moyzisch, aparentemente adido comercial junto à Embaixada alemã dirigida por Von Papen, em Ancara, mas, na realidade, coronel das SS ou da GESTAPO, nunca se soube com precisão.
Cícero começou a passar a Moyzisch o material fotografado durante a noite, no quarto do embaixador, quando este dormia sob o peso da fadiga e das garrafas de uísque. Os relatórios de Moyzisch a seus superiores logo se revelaram interessantíssimos.
Depois da guerra, Cícero inventou motivos ideológicos, mas a verdade é que bancou o espião porque amava as mulheres. Se não contasse com o dinheiro que Moyzisch lhe dava, em pagamento por seus préstimos, não poderia sustentar suas amantes. A vaidade dom-juanesca tornara-o cego. Houve, a esse propósito, um episódio revelador. Um dia, entrou em uma boutique, e ali encontrou Moyzisch, seu corruptor. Ao lado do austríaco, achava-se uma bela mulher. Moyzisch lançou-lhe olhares furiosos: sabia que era absurdo para um camareiro freqüentar uma loja daquelas, e teve medo de que o seu associado despertasse suspeitas. Mas Cícero abordou-a, conversou com ela, ignorando os gélidos olhares do outro. 0 episódio foi ainda mais grave pelo fato de que aquela mulher, Cornelia Kapp, secretária de Moyzisch e filha de um cônsul alemão, era agente do serviço secreto americano e descobriria, no futuro, a identidade de Cícero, condenando-o à inatividade.
Cícero sentia-se profundamente fascinado pelo embaixador Sir Hughe. Nunca se compreendeu a verdadeira natureza das relações que uniam os dois homens. Era ainda mais misteriosa que as com Moyzisch. Cícero cuidava dele com a atenção de um amante, experimentando, ao mesmo tempo, o prazer de enganá-lo, como jamais outro homem foi enganado.
É certo que Cícero invejava o embaixador. Sir Hughe era tudo aquilo que ele gostaria de ser: alto, bonito, desembaraçado, aristocrático. Sua desforra contra Sir Hughe era noturna. Humilhava-o em silêncio, quando entrava na ponta dos pés no quarto e lhe roubava os documentos.
Aventou-se mesmo a hipótese de que entre os dois homens, camareiro e embaixador, a relação de amizade havia atingido um limite tal, que nenhum dos dois, na defesa de seus interesses particulares, guardava qualquer prudência elementar. Por que o embaixador nunca se defendeu ou tentou explicar sua desventura? Teria algo a esconder?
Segundo outra hipótese, não se tratava nem de um sono profundo do embaixador, nem de corrupção: o embaixador pura e simplesmente teria passado a Cícero os documentos, para que os mostrasse aos alemães, a fim de que estes se atemorizassem diante do testemunho da superioridade aliada.
A farinha do diabo
Se os alemães estavam perplexos, os aliados, que conheciam a exatidão dos informes roubados, estavam furiosos.
A desmancha-prazeres foi uma mulher. Moyzisch não conseguia mais suportar sua secretária, Cornelia Kapp, porque era confusa e desatenta, cometia uma infinidade de erros no trabalho e, à menor admoestação, explodia em crises histéricas. Cornelia fugiu na sexta-feira santa, 6 de abril de 1944: disse que iria encontrar-se com o pai em Budapeste, mas na verdade dirigiu-se ao Cairo. Ali, revelou aos seus superiores quem era Cícero: não podia ser senão um doméstico da embaixada inglesa.
A fuga de Cornelia havia desmascarado o camareiro espião. Agora, ele esperava ser preso de um momento para outro. Não lhe restava outra alternativa senão desaparecer também. Disse a Sir Hughe que pretendia demitir-se. Então o diplomata fez-lhe a última afronta. Respondeu-lhe que isso não lhe dizia respeito e que se dirigisse ao mordomo. A 30 de abril de 1944, Cícero deixava
a embaixada.
Foi importante a atividade de Cícero como espião? Bastante, embora não tanto como pretendem alguns. Ele forneceu, principalmente, os dados sobre a operação OVERLORD que, porém, foram levados a sério pela metade. Mas o seu valor como espião consistiu, principalmente, no pânico que provocou no campo aliado, quando fez sentir aos ingleses e americanos que seu bunker de segredos não passava de uma casa com paredes de vidro.
Suas aventuras subsequentes foram melancólicas. Começou uma vida absurda. Primeiro tornou-se comerciante de carros usados. Desperdiçou uma avalanche de dinheiro. E fez bem, porque logo se descobriu que a farinha do diabo estava estragada. Os alemães haviam pago seus serviços com esterlinas falsas. A um certo momento da guerra, os nazistas acalentaram a idéia de provocara queda da esterlina, jogando nos mercados neutros milhões de esterlinas falsas. Depois desistiram da idéia, usando a moeda falsa para finalidades menores: por exemplo, o pagamento gigantesco feito ao agente Cícero.
Em maio de 1945, o serviço secreto americano na Áustria foi informado de que os camponeses da zona do Traun (afluente do Danúbio) haviam pescado notas bancárias na água. Os agentes fizeram pesquisas e o rio devolveu 20 milhões de esterlinas. Nos campos de concentração, os americanos descobriram os responsáveis pela operação das libras esterlinas. Estes confessaram: durante a guerra tinham sido fabricados 150 milhões de esterlinas. 300 mil foram parar nos bolsos de Cícero.
Assim, o astuto kavass, que acreditou estar fazendo uma fortuna ao embrulhar Sir Hughe , descobriu ter sido também ludibriado por Moyzisch. Foram seus dois demônios familiares, os duendes de sua vida. Cícero agora se julgou grande: tinha inaugurado uma empresa de construções e estava edificando um luxuoso hotel, estilo Hilton, com subvenções estatais. Era visto freqüentemente em almoço de negócio com altos funcionários do Estado turco.
Nos bancos se difundiu a inquietação: estavam circulando esterlinas falsas. Na Suíça foi recuperada uma boa parcela, de um comerciante turco. De pagador a pagador, chegou-se finalmente a Cícero. A polícia irrompeu em seu escritório de Bursa. Cícero foi por vezes ingênuo, mas jamais lento para compreender. Bastaram-lhe algumas frases para perceber a verdade: estava completamente arruinado. Não tinha um centésimo de dinheiro bom. A complementação da sua desgraça ocorreu nessa mesma noite: Aika, a sua amante grega, fez as malas e o abandonou.
Cícero contou a estória das esterlinas falsas de uma maneira diferente. No início, ele teria sido pago pelos seus serviços, com moeda boa. Moyzisch lhe entregou, em diversas parcelas, um milhão de liras turcas. Mas, quando a Turquia entrou na guerra ao lado dos aliados, o pessoal alemão foi internado na Embaixada, e Moyzisch mandou chamar Cícero. Ele não queria ir, foi Aika quem o convenceu: “Eles fizeram a tua fortuna, poderão te ajudar ainda mais”. Moyzisch propôs uma troca: os alemães tinham na Embaixada uma quantidade de esterlinas, que não podiam trocar; não pode ria Cícero fazer o favor de trocá-las por liras turcas? Assim, Cícero restituiu a Moyzisch 600 mil liras turcas, que recebera dele e, em troca , recebeu as 50 mil esterlinas da catástrofe.
O complexo de pinóquio
Será verdade? Cícero era mestre em inventar, de vez em quando, novos detalhes de sua estória, para fabricar uma biografia heróica. Mas talvez, neste caso, tenha sido sincero. Por outro lado, não faz muita diferença. Ludibriado com o dinheiro falso, Cícero passou a ser, certamente , o espião mais enganado do século: tinha sido o Pinóquio, que sepultara os sacos de ouro no campo dos milagres, esperando que florescesse a árvore das moedas, e o gato Jenke e a raposa Moyzisch levaram tudo embora.
Ficou com esse complexo por toda a vida. Sentia-se uma vítima e, em qualquer pessoa que encontrasse, procurava seu Sir Hughe, temendo, no entanto, encontrar um novo Moyzisch que o enganasse. A 18 de outubro de 1950, um deputado perguntou à Câmara dos Comuns se era mesmo verdade que documentos secretos haviam sido subtraídos, durante a guerra, da Embaixada inglesa na Turquia. O ministro do Exterior, Bevin, revelou pela primeira vez a grandeza de Cícero: “Nenhum documento foi subtraído, durante a guerra, da embaixada de Sua Majestade em Ancara, mas as pesquisas sobre os fatos a que se refere revelam que o camareiro do embaixador conseguira fotografar um grande número de documentos secretos, e vender os filmes aos alemães”.
Sir Hughe falou apenas uma vez, em seu estilo aristocrático e fez o último insulto a Cícero: “O nome de meu camareiro era Elias. Não consigo recordar seu sobrenome”. Cícero o destruíra, mas o diplomata mantinha em relação a ele o seu altivo desprezo.
Outro grave golpe foi infligido por Moyzisch. O coronel de seu ninho de águia em Innsbruck, fez publicar um livro que relatava toda a estória e que obteve enorme sucesso: OPERAÇÃO CÍCERO. Assim, Cícero descobre, com furor, que pela segunda vez Moyzisch triunfava e se enriquecia à sua custa. O máximo de humilhação foi descobrir, através do livro de seu inimigo, o nome com o qual a História iria recordá-lo: Cícero jamais soubera chamar-se assim. Moyzisch conta que aquele nome de código lhe fora dado por Von Pappen, em 31 de outubro de 1943: “Chamá-lo-emos Cícero, porque nos fornece documentos eloquentes”. Mais tarde, em sua costumeira megalomania, Cícero inventou que o nome lhe fora dado por Hitler, com esta motivação: “Cícero foi o mais inteligente dos romanos, por isso chamo Cícero ao mais inteligente de meus agentes”.
Desta vez, Moyzisch causou-lhe mais amarguras que da primeira. Cícero ergueu-se de repente. Sentia-se um herói histórico. Esperava poder desfrutar, pelo menos de segunda mão, a celebridade que Moyzisch lhe concedera. Soube que estavam rodando um filme sobre a sua estória, com o ator James Mason. Procurou o diretor Mankiewicz, que o fez expulsar: “Não é Cícero. É um doido”. Recaiu no esquecimento por longo período e foi redescoberto por um jornalista francês.
Cícero não tinha paz. Correu o mundo dos editores apresentando memórias e escrevendo livros, deixando-se regularmente ludibriar com relação aos direitos autorais. Não conseguia ler os contratos, era muito orgulhoso para admitir que não compreendia as línguas, e muito desconfiado para se servir de um advogado; preferia deixar-se enganar. Abandonou por um momento o ódio por Moyzisch, que justificava sua vida, e sua nova ovelha negra passou a ser um editor de nome Ferenczi: por um certo período, a ele atribuiu todos os seus males. Agora era um pobre coitado. Vivia quase na miséria, por todos os cantos da Europa, com Esra, sua mulher, e os quatro filhos que ela lhe dera. Estava sempre trabalhando em algum memorial, no qual inventava novas estórias; no mesmo livro repetia diversas vezes a mesma estória, para encompridá-lo, com a astúcia dos velhos escritores de folhetins.
Em 1968, apresentou-se num programa de televisão: encontrava-se, então, na Alemanha, dizia-se paupérrimo, e reclamava do governo alemão 250 milhões de marcos por seus serviços durante a guerra, mal pagos pelas esterlinas falsas de Moyzisch.
Apresentava-se agora gorducho, olhinhos vivos, dois dentes apenas na boca vazia, um terno marrom de confecção barata, o colarinho enrugado sobre uma gravatinha borboleta. Morava em um apartamentozinho em Munique, com os anônimos vizinhos Muller e Kessler, que certamente nem imaginavam viver ao lado da História. Escutava discos de Rita Pavone e colecionava horríveis recordações turísticas; gostava de demonstrar seu talento no canto lírico. Aos domingos passeava com a família pelas ruas ensolaradas. Ninguém o reconhecia.
Ho 2-29: O primeiro 'avião furtivo' do mundo
Alta tecnologia poderia ter revertido a II Guerra
Os nazistas chegaram perto de desenvolver um bombardeiro invisível a radares que poderia ter mudado o curso da história. A conclusão é de um grupo de engenheiros da Northop-Grumman, conhecida fabricante de materiais bélicos, que conseguiu reconstruir o Ho 2-29, protótipo de um bombardeiro alemão do final da II Guerra Mundial.
Através de moldes e partes remanescentes do Ho 2-29, a equipe de engenheiros construiu uma réplica em tamanho real do bombardeio. O projeto custou 154.000 libras e levou 10 semanas para ser concluído. Todo o processo é descrito em um documentário da National Geographic Channel.
O Ho 2-29, cuja réplica é incapaz de voar, não é completamente invisível a radares, mas foi o primeiro avião a utilizar a chamada "tecnologia furtiva", hoje empregada nos famosos bombardeiros B-2 americanos. Ele foi solicitado em 1943 pelo chefe da Luftwaffe (a Força Aérea alemã), Hermann Goering, interessado em algo que atendesse aos requisitos "1.000, 1.000, 1.000", ou seja, que carregasse 1.000 quilos por 1.000 quilômetros e a uma velocidade de 1.000 quilômetros por hora.
Idealizado pelos irmãos Horten, o Ho 2-29 chegou a realizar um teste bem sucedido em 1944, mais de 30 anos antes dos Estados Unidos usarem um avião do gênero pela primeira vez, o F-117A Nighthawk. No entanto, a derrota da Alemanha já era iminente, e não houve tempo para que a tecnologia fosse aperfeiçoada.
Clique aqui e baixe documentário do National Geographic Channel "Hitler's Stealth Fighter"
Os nazistas chegaram perto de desenvolver um bombardeiro invisível a radares que poderia ter mudado o curso da história. A conclusão é de um grupo de engenheiros da Northop-Grumman, conhecida fabricante de materiais bélicos, que conseguiu reconstruir o Ho 2-29, protótipo de um bombardeiro alemão do final da II Guerra Mundial.
Através de moldes e partes remanescentes do Ho 2-29, a equipe de engenheiros construiu uma réplica em tamanho real do bombardeio. O projeto custou 154.000 libras e levou 10 semanas para ser concluído. Todo o processo é descrito em um documentário da National Geographic Channel.
O Ho 2-29, cuja réplica é incapaz de voar, não é completamente invisível a radares, mas foi o primeiro avião a utilizar a chamada "tecnologia furtiva", hoje empregada nos famosos bombardeiros B-2 americanos. Ele foi solicitado em 1943 pelo chefe da Luftwaffe (a Força Aérea alemã), Hermann Goering, interessado em algo que atendesse aos requisitos "1.000, 1.000, 1.000", ou seja, que carregasse 1.000 quilos por 1.000 quilômetros e a uma velocidade de 1.000 quilômetros por hora.
Idealizado pelos irmãos Horten, o Ho 2-29 chegou a realizar um teste bem sucedido em 1944, mais de 30 anos antes dos Estados Unidos usarem um avião do gênero pela primeira vez, o F-117A Nighthawk. No entanto, a derrota da Alemanha já era iminente, e não houve tempo para que a tecnologia fosse aperfeiçoada.
Clique aqui e baixe documentário do National Geographic Channel "Hitler's Stealth Fighter"
A Stasi, da Alemanha Oriental, espionou Michael Jackson
A polícia secreta da Alemanha Oriental estava certa em temer o rock'n'roll e toda a decadência que implicava. Os shows de Michael Jackson, Pink Floyd e Bruce Springsteen em Berlim, no ano de 1988, poderiam de fato ter inspirado uma revolução. A Stasi estava tão preocupada que espionou Michael Jackson durante sua visita.
O astro pop recentemente falecido talvez teve mais a ver com a queda do muro de Berlim do que se sabe. E também Bruce Springsteen, Pink Floyd e outros músicos do Ocidente capitalista.
Os arquivos da ex-polícia secreta da Alemanha Oriental, a Stasi, indicam que ela estava preocupada com o show que Michael Jackson, que morreu no mês passado, deu em Berlim em junho de 1988. Era um ano antes da queda do Muro de Berlim, mas a juventude da Alemanha Oriental já estava irrequieta.
Em uma nota da Stasi, encontrada nos arquivos divulgados nesta semana pelo jornal alemão de grande circulação "Bild", a polícia secreta estava preocupada e dizia que os jovens fariam "de tudo para participar do show, na região em torno do portão de Brandenburgo", e dizia que certos jovens estavam "planejando (usar a ocasião) para provocar um confronto com a polícia".
"Eles estavam preocupados que os dissidentes pediriam a queda do muro. Isso era visto como potencial ameaça de segurança, dada a quantidade de representantes da mídia estrangeira que estariam presentes", disse um porta-voz da agência do governo que cuida dos arquivos da Stasi, à Reuters, Steffen Mayer.
De fato, a Stasi tinha boas razões para se preocupar. Concertos em Berlim Ocidental como o de Jackson já tinham sido um problema no verão anterior. O promotor musical Peter Schwenkow, atualmente diretor da German Entertainment AG, firma que atualmente traz shows de Coldplay e Alice Cooper para a Alemanha, foi responsável por vários concertos perto do muro de Berlim.
Isso incluiu uma série de shows a céu aberto por três dias, com artistas como David Bowie, Genesis e Eurythmics no verão de 1987. Schwenkow mais tarde contou ao "Die Welt" que a montagem dos shows ao lado do muro em Berlim Ocidental tinha sido deliberada.
Pink Floyd voltou os alto-falantes para o Oriente
Os jovens na Alemanha Oriental souberam do show por estações de rádio da Alemanha Ocidental, mas, quando tentaram se aproximar do muro para ouvirem as apresentações, foram expulsos pelos cordões policiais. Houve briga, e cerca de 200 pessoas foram presas.
Quando outras apresentações - Pink Floyd e Michael Jackson - foram programadas para o mesmo local no verão de 1988, Schwenkow disse que o governo de Berlim Oriental reclamou com o de Berlim Ocidental. Eles disseram que os shows seriam próximos demais de um hospital e que o barulho e vibrações poderiam causar a morte de pacientes em estado grave.
"Contudo, eu já tinha vendido 30 mil ingressos para o Pink Floyd, o show não podia ser cancelado", disse Schwenkow. "Apesar de termos que tocar bem baixo e direcionar o som para o Ocidente, o Pink Floyd resolveu, durante a passagem do som, virar os alto-falantes para o Oriente e estourar Berlim Oriental com seu sucesso 'The Wall'."
Pink Floyd tocou no dia 16 de junho e Michael Jackson tocaria alguns dias depois, no dia 19. Então talvez não surpreenda que em maio daquele ano, a polícia secreta da Alemanha Oriental abriu um arquivo em seu nome. As notas do arquivo indicam que ele foi vigiado enquanto excursionou por Berlim. A Stasi observou sua visita ao "Checkpoint Charlie", um cruzamento de fronteira importante no meio da cidade.
Os espiões da Stasi observaram que três carros se aproximaram do posto de fronteira, com "muitas pessoas do sexo feminino e masculino desconhecidas. Entre as pessoas estava o cantor de rock dos EUA Michael Jackson. Acompanhando-o o tempo todo estava uma pessoa do sexo feminino, de cerca de 25 anos, 1 metro e 65 centímetros de altura, magra."
Os documentos também mostraram como a Stasi pensou em montar como distração um show em um estádio para atrair os fãs de música rebeldes para longe da fronteira. Já havia outra distração: a campeã olímpica de patinação no gelo Katarina Witt apresentaria um show de rock em Berlim Oriental com o músico canadense Bryan Adams.
No caso de Michael Jackson, foi sugerida a organização de mais uma atração alternativa, durante a qual o show de Michael Jackson poderia ser transmitido em uma tela de cinema. Haveria um atraso de dois minutos, em caso de "provocação política". Se o show de Michael Jackson tivesse qualquer coisa politicamente não apropriada, eles poderiam simplesmente passar um vídeo de uma apresentação anterior do cantor.
A polícia secreta "jogou os jovens no chão"
A distração nunca aconteceu. Em vez disso, como temido, houve confrontos violentos entre os fãs de música e a polícia, que estava à paisana misturada a uma multidão de milhares de pessoas. Alan Nothnagle, tradutor que morava em Berlim, escreveu seu testemunho em seu blog salon.com: "Vimos homens 'discretos', com roupas civis, parados nas esquinas em grupos de três, observando os transeuntes. A razão não era nenhum segredo: de alguma forma, todo mundo sabia que Michael Jackson ia dar um show na frente do Reichstag naquela noite, a poucas centenas de metros de onde estávamos... centenas, logo milhares de jovens se reuniram para ouvir a música. Os agentes da Stasi também se multiplicaram... nunca ouvimos uma nota musical naquela noite. Vozes subiram da multidão clamando 'o muro tem que cair!' e 'Gorbachev! Gorbachev!' Então, os homens da Stasi ganharam vida. Eles jogaram os jovens no chão, gritando 'O que você disse? O que você disse?' e os arrastaram pelo colarinho para as ruas laterais onde as vans da polícia esperavam para levá-los para o quartel da Stasi".
Equipes dos canais de televisão da Alemanha Ocidental ARD e ZDF filmaram a altercação e também foram atacadas pela polícia secreta. O governo da Alemanha Ocidental fez reclamações oficiais pela violência sofrida por membros da imprensa Ocidental.
Estranhamente, um mês depois, o cantor americano Bruce Springsteen tocou no "velodrome" de Berlim Ocidental para cerca de 160 mil fãs, muitos dos quais tinham entrado sem bilhete. No show, que foi organizado pelo grupo jovem comunista, houve muita provocação. Alemães orientais cantaram "Born in the USA" (nascido nos EUA) e Springsteen puxou uma jovem alemã de 17 anos para o palco para dançar com ele. "Quero dizer-lhes que não estou aqui contra ou a favor de qualquer governo", disse Springsteen para a multidão enquanto fazia a introdução de sua versão para a canção de Bob Dylan "Chimes of Freedom". "Vim para tocar rock'n'roll para vocês, berlinenses orientais, na esperança que um dia todas as barreiras serão derrubadas".
O astro pop recentemente falecido talvez teve mais a ver com a queda do muro de Berlim do que se sabe. E também Bruce Springsteen, Pink Floyd e outros músicos do Ocidente capitalista.
Os arquivos da ex-polícia secreta da Alemanha Oriental, a Stasi, indicam que ela estava preocupada com o show que Michael Jackson, que morreu no mês passado, deu em Berlim em junho de 1988. Era um ano antes da queda do Muro de Berlim, mas a juventude da Alemanha Oriental já estava irrequieta.
Em uma nota da Stasi, encontrada nos arquivos divulgados nesta semana pelo jornal alemão de grande circulação "Bild", a polícia secreta estava preocupada e dizia que os jovens fariam "de tudo para participar do show, na região em torno do portão de Brandenburgo", e dizia que certos jovens estavam "planejando (usar a ocasião) para provocar um confronto com a polícia".
"Eles estavam preocupados que os dissidentes pediriam a queda do muro. Isso era visto como potencial ameaça de segurança, dada a quantidade de representantes da mídia estrangeira que estariam presentes", disse um porta-voz da agência do governo que cuida dos arquivos da Stasi, à Reuters, Steffen Mayer.
De fato, a Stasi tinha boas razões para se preocupar. Concertos em Berlim Ocidental como o de Jackson já tinham sido um problema no verão anterior. O promotor musical Peter Schwenkow, atualmente diretor da German Entertainment AG, firma que atualmente traz shows de Coldplay e Alice Cooper para a Alemanha, foi responsável por vários concertos perto do muro de Berlim.
Isso incluiu uma série de shows a céu aberto por três dias, com artistas como David Bowie, Genesis e Eurythmics no verão de 1987. Schwenkow mais tarde contou ao "Die Welt" que a montagem dos shows ao lado do muro em Berlim Ocidental tinha sido deliberada.
Pink Floyd voltou os alto-falantes para o Oriente
Os jovens na Alemanha Oriental souberam do show por estações de rádio da Alemanha Ocidental, mas, quando tentaram se aproximar do muro para ouvirem as apresentações, foram expulsos pelos cordões policiais. Houve briga, e cerca de 200 pessoas foram presas.
Quando outras apresentações - Pink Floyd e Michael Jackson - foram programadas para o mesmo local no verão de 1988, Schwenkow disse que o governo de Berlim Oriental reclamou com o de Berlim Ocidental. Eles disseram que os shows seriam próximos demais de um hospital e que o barulho e vibrações poderiam causar a morte de pacientes em estado grave.
"Contudo, eu já tinha vendido 30 mil ingressos para o Pink Floyd, o show não podia ser cancelado", disse Schwenkow. "Apesar de termos que tocar bem baixo e direcionar o som para o Ocidente, o Pink Floyd resolveu, durante a passagem do som, virar os alto-falantes para o Oriente e estourar Berlim Oriental com seu sucesso 'The Wall'."
Pink Floyd tocou no dia 16 de junho e Michael Jackson tocaria alguns dias depois, no dia 19. Então talvez não surpreenda que em maio daquele ano, a polícia secreta da Alemanha Oriental abriu um arquivo em seu nome. As notas do arquivo indicam que ele foi vigiado enquanto excursionou por Berlim. A Stasi observou sua visita ao "Checkpoint Charlie", um cruzamento de fronteira importante no meio da cidade.
Os espiões da Stasi observaram que três carros se aproximaram do posto de fronteira, com "muitas pessoas do sexo feminino e masculino desconhecidas. Entre as pessoas estava o cantor de rock dos EUA Michael Jackson. Acompanhando-o o tempo todo estava uma pessoa do sexo feminino, de cerca de 25 anos, 1 metro e 65 centímetros de altura, magra."
Os documentos também mostraram como a Stasi pensou em montar como distração um show em um estádio para atrair os fãs de música rebeldes para longe da fronteira. Já havia outra distração: a campeã olímpica de patinação no gelo Katarina Witt apresentaria um show de rock em Berlim Oriental com o músico canadense Bryan Adams.
No caso de Michael Jackson, foi sugerida a organização de mais uma atração alternativa, durante a qual o show de Michael Jackson poderia ser transmitido em uma tela de cinema. Haveria um atraso de dois minutos, em caso de "provocação política". Se o show de Michael Jackson tivesse qualquer coisa politicamente não apropriada, eles poderiam simplesmente passar um vídeo de uma apresentação anterior do cantor.
A polícia secreta "jogou os jovens no chão"
A distração nunca aconteceu. Em vez disso, como temido, houve confrontos violentos entre os fãs de música e a polícia, que estava à paisana misturada a uma multidão de milhares de pessoas. Alan Nothnagle, tradutor que morava em Berlim, escreveu seu testemunho em seu blog salon.com: "Vimos homens 'discretos', com roupas civis, parados nas esquinas em grupos de três, observando os transeuntes. A razão não era nenhum segredo: de alguma forma, todo mundo sabia que Michael Jackson ia dar um show na frente do Reichstag naquela noite, a poucas centenas de metros de onde estávamos... centenas, logo milhares de jovens se reuniram para ouvir a música. Os agentes da Stasi também se multiplicaram... nunca ouvimos uma nota musical naquela noite. Vozes subiram da multidão clamando 'o muro tem que cair!' e 'Gorbachev! Gorbachev!' Então, os homens da Stasi ganharam vida. Eles jogaram os jovens no chão, gritando 'O que você disse? O que você disse?' e os arrastaram pelo colarinho para as ruas laterais onde as vans da polícia esperavam para levá-los para o quartel da Stasi".
Equipes dos canais de televisão da Alemanha Ocidental ARD e ZDF filmaram a altercação e também foram atacadas pela polícia secreta. O governo da Alemanha Ocidental fez reclamações oficiais pela violência sofrida por membros da imprensa Ocidental.
Estranhamente, um mês depois, o cantor americano Bruce Springsteen tocou no "velodrome" de Berlim Ocidental para cerca de 160 mil fãs, muitos dos quais tinham entrado sem bilhete. No show, que foi organizado pelo grupo jovem comunista, houve muita provocação. Alemães orientais cantaram "Born in the USA" (nascido nos EUA) e Springsteen puxou uma jovem alemã de 17 anos para o palco para dançar com ele. "Quero dizer-lhes que não estou aqui contra ou a favor de qualquer governo", disse Springsteen para a multidão enquanto fazia a introdução de sua versão para a canção de Bob Dylan "Chimes of Freedom". "Vim para tocar rock'n'roll para vocês, berlinenses orientais, na esperança que um dia todas as barreiras serão derrubadas".
Messerschmitt Me 262: A "arma milagrosa" de Hitler
No final da 2ª Guerra Mundial, o ditador nazista Adolf Hitler ainda tinha esperanças de que a tecnologia avançada pudesse virar a mesa a seu favor. Um desses projetos, o jato de guerra Messerschmitt, encontrou espaço numa região remota da Alemanha oriental. Mas já era tarde demais.
Levou quatro anos e meio, mas finalmente, em 20 de março de 1944, a 2ª Guerra Mundial - e mais especificamente a indústria de armamentos - se deslocou para um lugar remoto da Alemanha oriental chamado Lausitz. À medida que os aliados empreendiam um número cada vez maior de ataques aéreos contra os centros urbanos e industriais da Alemanha, as grandes fábricas de armamentos da Alemanha nazista começaram a buscar exaustivamente lugares apropriados para se mudar - quanto mais isolados e imperceptíveis fossem, melhor. De fato, em 1943, Hermann Göring, comandante da Luftwaffe [Força Aérea alemã], já havia feito planos para transferir a indústria de aviação para áreas que dificilmente seriam bombardeadas pelos aliados.
Levou um ano até que a Junkers, uma fabricante de aviões e motores de Dessau, se mudasse para uma fábrica que pertencia à companhia têxtil Moras Brothers, em Zittau, que hoje fica próxima à fronteira alemã com a Polônia e a República Tcheca.
Disfarçada sob o nome de Zittwerke AG, a companhia estava longe da mediocridade no que diz respeito à produção de armamentos. Zittau seria o lugar onde o primeiro motor de jato pronto para o uso do mundo seria montado, o mesmo motor que propulsionaria a arma secreta de Hitler, o jato de guerra Messerschmitt Me 262.
Jürgen Ulderup, da fábrica de Junkers em Dessau, foi encarregado de assumir o gerenciamento da produção em Zittau. Ele estabeleceu imediatamente uma rede de fábricas em toda a região, todas ultrassecretas. A chave para fazer o projeto deslanchar foi ele ter solicitado que 18 companhias têxteis há muito estabelecidas abrissem espaço em suas fábricas para a produção de armamentos. Algumas companhias tiveram de entregar totalmente suas fábricas. Isso foi um golpe para a indústria têxtil da região, que já estava com problemas e havia sido convertida para a economia de guerra.
Cerne do empreendimento
Mas vencer a guerra era prioridade, e a região remota da Alemanha nazista passou a produzir componentes para o motor de jato clandestino. Ulderup contratou 2.500 funcionários e colocou-os para trabalhar nas fábricas da Zittwerke, sob a direção de especialistas da indústria da aviação. Eles trabalhavam na fábrica Moras, na companhia têxtil Haebler Brothers em Zittau, no moinho de tecelagem mecânica Rudolf Breuer em Reichenau, na companhia Kreutziger & Henke em Leutersdorf, no moinho de tecelagem Ebersbach e em 13 outras fábricas localizadas em cidades e vilarejos da região.
Mas o centro do empreendimento funcionava num antigo campo de prisioneiros da 1ª Guerra Mundial, onde hoje fica a cidade polonesa de Porajów - um campo que tinha sido convertido para uso das forças armadas alemãs. A fábrica, guardada pelo 17º batalhão SS Totenkopf, simplesmente se instalou em vários alojamentos militares inacabados.
No lugar mais protegido do complexo, atrás de várias fileiras de arame farpado, estava o prédio da administração, onde uma unidade do campo de concentração de Gross-Rosen estava alojada. Junto com prisioneiros de guerra e dos chamados "trabalhadores do leste" - mão-de-obra forçada vinda de países como a Ucrânia - cerca de 850 prisioneiros do campo de concentração faziam a maior parte do trabalho nas fábricas Zittwerke.
Não muito tempo depois que a Junkers se estabeleceu, o som da indústria tomou conta do vale do rio Neisse, dia e noite. Rumores de uma "arma milagrosa" circulavam entre a população local, mas ninguém sabia exatamente o que a fábrica produzia. Só depois da montagem final o objeto em questão pode ser reconhecido: um motor turbo especial para um novo tipo de jato de guerra.
Me 262s novos em folha
Os técnicos já haviam testado os motores. Um avião Messerschmitt, o Me 262-V1, com um motor de jato Junkers Jumo 004A-0, decolou já em 2 de março de 1943. O teste foi bem sucedido. E não demorou para que as fábricas de Zwittau dominassem todos os aspectos da produção do motor, desde a pré-montagem até o envio.
As fábricas tinham uma boa conexão com a rede ferroviária do Terceiro Reich, com vagões de transporte cobertos que carregavam os motores montados - depois de inspecionados - para o sul. Lá, nas florestas em torno das cidades de Regensburgo e Augsburgo, na Bavária, operários instalavam os novos motores nos jatos. Uma autoestrada das proximidades funcionava como pista, onde os Me 262s novos e folha decolavam para seu primeiro voo de teste. Só então eles seriam colocados em trens de carga para serem entregues à Luftwaffe.
Os nazistas tinham grande esperança nos novos jatos. No começo de 1945, com os russos cercando pelo leste e os EUA e a Inglaterra marchando a oeste, estava claro que a Alemanha estava prestes a sofrer uma derrota catastrófica, mas a liderança nazista se recusava a abrir mão da esperança. Em 28 de fevereiro de 1945, o ministro de propaganda Joseph Goebbles anunciou à nação que a "arma milagrosa" dos alemães em breve mudaria o rumo da guerra.
Em Zittau, entretanto, havia indícios de sobra de que era tarde demais. Um dia antes do discurso de Goebbles, a cidade de Görlitz, ao norte de Zittau, havia sido declarada como parte da frente de guerra.
Os trabalhadores das fábricas de motores de jato já podiam ouvir o estampido das armas inimigas.
Evacuação desesperada
Não demorou para que a desesperada evacuação da cidade começasse. Um contra-ataque da Wehrmacht [força de defesa alemã] próximo à cidade de Luba, na atual Polônia, nos dias 7 e 8 de março conseguiu afastar um pouco o Exército Vermelho. Mas depois de muitas baixas de ambos os lados, os soviéticos impediram o avanço alemão e as fábricas interromperam a produção.
Dada a importância do projeto do motor de jato, não levou muito tempo para que acontecesse a evacuação tanto dos trabalhadores quanto das máquinas. No começo de março, dois trens especiais, carregando os principais elementos da linha de montagem foram enviados de Zittau para o oeste, um no dia 6 e outro no dia 10. Eles foram parar na cidade de Nordhausen, localizada no Estado de Thuringia, a cerca de 100 quilômetros a oeste de Leipzig.
Soldados da Luftwaffe, que haviam guardado as várias fábricas da Zittwerke que produziam motores para o Me 262, também embarcaram no trem em Zittau. Dois trens com mais de 500 pessoas saíram diretamente das fábricas para Halberstadt, em Saxônia-Anhalt. Um último trem, que pertencia à Wehrmacht, saiu em 30 de abril, poucos dias antes do fim da guerra, supostamente carregando as últimas unidades militares.
Vala comum
Mas os nazistas não evacuaram completamente. Dentro da área militar restrita, permaneceram os trabalhadores forçados e os prisioneiros de campos de concentração. Muitos morreram. Um médico da fábrica expediu 70 atestados de óbito escritos à mão em abril e no começo de maio. As causas das mortes eram principalmente "insuficiência cardíaca aguda com astenia", "tuberculose pulmonar", "pneumonia" ou "escorbuto".
O papel que o gerente da Zittwerke, Jürgen Ulderup, teve nessas mortes ainda é um mistério. De acordo com seus próprios relatos, Ulderup fugiu de bicicleta de Zittau para Osnabrück, no oeste da Alemanha, nos últimos dias da guerra, com uma mochila lotada de barras de cobre. Seu motorista já havia desaparecido antes, com o carro da companhia, de acordo com o antigo gerente da fábrica nazista.
Hoje, apenas um túmulo coletivo no cemitério feminino de Zittau faz lembrar que a chamada "arma milagrosa" foi produzida no local. Um gramado bem cuidado cobre a área do cemitério, onde vítimas civis da 2ª Guerra Mundial estão enterradas. Entre elas, estão os prisioneiros e trabalhadores forçados que deram seu suor para a última tentativa da Alemanha nazista de virar a mesa durante a ofensiva destruidora da 2ª Guerra Mundial.
Levou quatro anos e meio, mas finalmente, em 20 de março de 1944, a 2ª Guerra Mundial - e mais especificamente a indústria de armamentos - se deslocou para um lugar remoto da Alemanha oriental chamado Lausitz. À medida que os aliados empreendiam um número cada vez maior de ataques aéreos contra os centros urbanos e industriais da Alemanha, as grandes fábricas de armamentos da Alemanha nazista começaram a buscar exaustivamente lugares apropriados para se mudar - quanto mais isolados e imperceptíveis fossem, melhor. De fato, em 1943, Hermann Göring, comandante da Luftwaffe [Força Aérea alemã], já havia feito planos para transferir a indústria de aviação para áreas que dificilmente seriam bombardeadas pelos aliados.
Levou um ano até que a Junkers, uma fabricante de aviões e motores de Dessau, se mudasse para uma fábrica que pertencia à companhia têxtil Moras Brothers, em Zittau, que hoje fica próxima à fronteira alemã com a Polônia e a República Tcheca.
Disfarçada sob o nome de Zittwerke AG, a companhia estava longe da mediocridade no que diz respeito à produção de armamentos. Zittau seria o lugar onde o primeiro motor de jato pronto para o uso do mundo seria montado, o mesmo motor que propulsionaria a arma secreta de Hitler, o jato de guerra Messerschmitt Me 262.
Jürgen Ulderup, da fábrica de Junkers em Dessau, foi encarregado de assumir o gerenciamento da produção em Zittau. Ele estabeleceu imediatamente uma rede de fábricas em toda a região, todas ultrassecretas. A chave para fazer o projeto deslanchar foi ele ter solicitado que 18 companhias têxteis há muito estabelecidas abrissem espaço em suas fábricas para a produção de armamentos. Algumas companhias tiveram de entregar totalmente suas fábricas. Isso foi um golpe para a indústria têxtil da região, que já estava com problemas e havia sido convertida para a economia de guerra.
Cerne do empreendimento
Mas vencer a guerra era prioridade, e a região remota da Alemanha nazista passou a produzir componentes para o motor de jato clandestino. Ulderup contratou 2.500 funcionários e colocou-os para trabalhar nas fábricas da Zittwerke, sob a direção de especialistas da indústria da aviação. Eles trabalhavam na fábrica Moras, na companhia têxtil Haebler Brothers em Zittau, no moinho de tecelagem mecânica Rudolf Breuer em Reichenau, na companhia Kreutziger & Henke em Leutersdorf, no moinho de tecelagem Ebersbach e em 13 outras fábricas localizadas em cidades e vilarejos da região.
Mas o centro do empreendimento funcionava num antigo campo de prisioneiros da 1ª Guerra Mundial, onde hoje fica a cidade polonesa de Porajów - um campo que tinha sido convertido para uso das forças armadas alemãs. A fábrica, guardada pelo 17º batalhão SS Totenkopf, simplesmente se instalou em vários alojamentos militares inacabados.
No lugar mais protegido do complexo, atrás de várias fileiras de arame farpado, estava o prédio da administração, onde uma unidade do campo de concentração de Gross-Rosen estava alojada. Junto com prisioneiros de guerra e dos chamados "trabalhadores do leste" - mão-de-obra forçada vinda de países como a Ucrânia - cerca de 850 prisioneiros do campo de concentração faziam a maior parte do trabalho nas fábricas Zittwerke.
Não muito tempo depois que a Junkers se estabeleceu, o som da indústria tomou conta do vale do rio Neisse, dia e noite. Rumores de uma "arma milagrosa" circulavam entre a população local, mas ninguém sabia exatamente o que a fábrica produzia. Só depois da montagem final o objeto em questão pode ser reconhecido: um motor turbo especial para um novo tipo de jato de guerra.
Me 262s novos em folha
Os técnicos já haviam testado os motores. Um avião Messerschmitt, o Me 262-V1, com um motor de jato Junkers Jumo 004A-0, decolou já em 2 de março de 1943. O teste foi bem sucedido. E não demorou para que as fábricas de Zwittau dominassem todos os aspectos da produção do motor, desde a pré-montagem até o envio.
As fábricas tinham uma boa conexão com a rede ferroviária do Terceiro Reich, com vagões de transporte cobertos que carregavam os motores montados - depois de inspecionados - para o sul. Lá, nas florestas em torno das cidades de Regensburgo e Augsburgo, na Bavária, operários instalavam os novos motores nos jatos. Uma autoestrada das proximidades funcionava como pista, onde os Me 262s novos e folha decolavam para seu primeiro voo de teste. Só então eles seriam colocados em trens de carga para serem entregues à Luftwaffe.
Os nazistas tinham grande esperança nos novos jatos. No começo de 1945, com os russos cercando pelo leste e os EUA e a Inglaterra marchando a oeste, estava claro que a Alemanha estava prestes a sofrer uma derrota catastrófica, mas a liderança nazista se recusava a abrir mão da esperança. Em 28 de fevereiro de 1945, o ministro de propaganda Joseph Goebbles anunciou à nação que a "arma milagrosa" dos alemães em breve mudaria o rumo da guerra.
Em Zittau, entretanto, havia indícios de sobra de que era tarde demais. Um dia antes do discurso de Goebbles, a cidade de Görlitz, ao norte de Zittau, havia sido declarada como parte da frente de guerra.
Os trabalhadores das fábricas de motores de jato já podiam ouvir o estampido das armas inimigas.
Evacuação desesperada
Não demorou para que a desesperada evacuação da cidade começasse. Um contra-ataque da Wehrmacht [força de defesa alemã] próximo à cidade de Luba, na atual Polônia, nos dias 7 e 8 de março conseguiu afastar um pouco o Exército Vermelho. Mas depois de muitas baixas de ambos os lados, os soviéticos impediram o avanço alemão e as fábricas interromperam a produção.
Dada a importância do projeto do motor de jato, não levou muito tempo para que acontecesse a evacuação tanto dos trabalhadores quanto das máquinas. No começo de março, dois trens especiais, carregando os principais elementos da linha de montagem foram enviados de Zittau para o oeste, um no dia 6 e outro no dia 10. Eles foram parar na cidade de Nordhausen, localizada no Estado de Thuringia, a cerca de 100 quilômetros a oeste de Leipzig.
Soldados da Luftwaffe, que haviam guardado as várias fábricas da Zittwerke que produziam motores para o Me 262, também embarcaram no trem em Zittau. Dois trens com mais de 500 pessoas saíram diretamente das fábricas para Halberstadt, em Saxônia-Anhalt. Um último trem, que pertencia à Wehrmacht, saiu em 30 de abril, poucos dias antes do fim da guerra, supostamente carregando as últimas unidades militares.
Vala comum
Mas os nazistas não evacuaram completamente. Dentro da área militar restrita, permaneceram os trabalhadores forçados e os prisioneiros de campos de concentração. Muitos morreram. Um médico da fábrica expediu 70 atestados de óbito escritos à mão em abril e no começo de maio. As causas das mortes eram principalmente "insuficiência cardíaca aguda com astenia", "tuberculose pulmonar", "pneumonia" ou "escorbuto".
O papel que o gerente da Zittwerke, Jürgen Ulderup, teve nessas mortes ainda é um mistério. De acordo com seus próprios relatos, Ulderup fugiu de bicicleta de Zittau para Osnabrück, no oeste da Alemanha, nos últimos dias da guerra, com uma mochila lotada de barras de cobre. Seu motorista já havia desaparecido antes, com o carro da companhia, de acordo com o antigo gerente da fábrica nazista.
Hoje, apenas um túmulo coletivo no cemitério feminino de Zittau faz lembrar que a chamada "arma milagrosa" foi produzida no local. Um gramado bem cuidado cobre a área do cemitério, onde vítimas civis da 2ª Guerra Mundial estão enterradas. Entre elas, estão os prisioneiros e trabalhadores forçados que deram seu suor para a última tentativa da Alemanha nazista de virar a mesa durante a ofensiva destruidora da 2ª Guerra Mundial.
A primeira vitória militar de Hitler
Numa manhã de sábado de março de 1936, um batalhão alemão entrou em Colônia e ocupou ambas as margens do Rio Reno. Desde a guerra, os soldados alemães estavam impedidos de entrar na região. Hitler, então, iniciou um processo que iria desvirtuar todo sistema de segurança estabelecido no pós-guerra: Todos os acordos de paz estabeleciam que a região do Reno fosse desmilitarizada, por insistência da França, que estava disposta a bloquear uma nova agressão alemã, as tropas da Alemanha foram impedidas de penetrar na região.
-Ao meio-dia, a tropa entrou em formação marchou através da ponte até chegar à margem esquerda. Eu fiquei empolgado com a música marcial; Cheio de entusiasmo, eu acompanhei o batalhão com minha bicicleta. Às tropas tinham ordens secretas para se retirar, caso as tropas francesas em número muito superior começassem a marchar. Nem a França, nem a Inglaterra interferiram, o que levou Hitler a dizer: “O mundo pertence a quem tem coragem.” Relatou Wilhelm Meger, um alemão que à época era um garoto na Série do Discovery Channel Alemanha: A caminho da guerra.
Cinco meses depois da ocupação do Reno, a Alemanha hospedou os Jogos Olímpicos, em Berlim. O sucesso obtido por Hitler em desafiar a França e a Inglaterra aumentou seu prestigio na Alemanha e sua autoconfiança deve ter sido ainda mais reforçada quando na abertura dos Jogos Olímpicos os atletas da França, país esse que ele acabara de humilhar, saudaram-no com a saudação nazista.
Tudo isso fora conquistado sem um único tiro se quer.
-Ao meio-dia, a tropa entrou em formação marchou através da ponte até chegar à margem esquerda. Eu fiquei empolgado com a música marcial; Cheio de entusiasmo, eu acompanhei o batalhão com minha bicicleta. Às tropas tinham ordens secretas para se retirar, caso as tropas francesas em número muito superior começassem a marchar. Nem a França, nem a Inglaterra interferiram, o que levou Hitler a dizer: “O mundo pertence a quem tem coragem.” Relatou Wilhelm Meger, um alemão que à época era um garoto na Série do Discovery Channel Alemanha: A caminho da guerra.
Cinco meses depois da ocupação do Reno, a Alemanha hospedou os Jogos Olímpicos, em Berlim. O sucesso obtido por Hitler em desafiar a França e a Inglaterra aumentou seu prestigio na Alemanha e sua autoconfiança deve ter sido ainda mais reforçada quando na abertura dos Jogos Olímpicos os atletas da França, país esse que ele acabara de humilhar, saudaram-no com a saudação nazista.
Tudo isso fora conquistado sem um único tiro se quer.
Hospital de Berlim pode ter descoberto o corpo de Rosa Luxemburgo
O túmulo de Rosa Luxemburgo há muito tempo atrai visitantes de esquerda. Mas um patologista de Berlim acredita agora que corpo dela pode não ter jamais ocupado a tumba. O médico afirma que um corpo que ele descobriu nas profundezas do porão de um hospital de Berlim pode ser o da revolucionária comunista que foi assassinada em 1919.
Por mais de 90 anos, Rosa Luxemburgo tem sido uma inspiração para esquerdistas e feministas de todo o mundo. Revolucionária comunista na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, a sepultura dela é uma espécie de templo, sendo visitada todos os anos por uma procissão de velhos comunistas e jovens ativistas de esquerda, que caminham pelas ruas da antiga Berlim Oriental para depositar cravos vermelhos na sua tumba no Cemitério Friedrichsfelde, em Berlim.
Mas agora, uma descoberta surpreendente sugere que o corpo de Rosa Luxemburgo pode não ter jamais habitado essa sepultura tão reverenciada. Caso Michael Tsokos, diretor do Instituto de Medicina Legal e de Ciências Criminalísticas do Hospital Charité de Berlim estiver correto, o corpo de Rosa Luxemburgo ficou guardado no porão do hospital desde 1919.
Tsokos encontrou recentemente um corpo - sem cabeça, pés ou mãos - guardado no porão do museu de história médica do hospital. Ele achou suspeito o relatório da autópsia e decidiu realizar um teste por meio de tomografia computadorizada.
O resultado foi surpreendente. O corpo mostrou sinais de ter sido saturado com água. O teste indicou ainda que ele pertenceu a uma mulher que à época da morte tinha entre 40 e 50 anos de idade, que a mulher sofria de artrite e que ela tinha uma perna mais longa do que a outra.
Tsokos disse a "Der Spiegel" que, após refletir mais sobre a descoberta, ele concluiu que o corpo apresenta "notáveis similaridades com Rosa Luxemburgo".
À época da sua morte, Rosa Luxemburgo, conhecida também como a "Rosa Vermelha", tinha 47 anos de idade. Ela sofria de uma doença congênita da bacia que a deixou permanentemente manca, o que, por sua vez, fez com que as suas pernas tivessem tamanhos diferentes. E, após a sua morte violenta nas mãos de paramilitares de direita, o corpo dela foi jogado no Canal Landwehr, em Berlim.
Um laboratório na cidade de Kiel, no norte da Alemanha, realizou testes com o corpo usando datação com carbono 14, e confirmou que o cadáver é realmente daquele período.
Um fim bem conhecido e horrível
O episódio da morte de Rosa Luxemburgo é um dos mais famosos da história moderna da Alemanha. Originalmente integrante do Partido Social Democrata (SPD), Rosa Luxemburgo rompeu com o partido quando este apoiou o ímpeto imperial rumo à guerra em 1914. Após ter passado a maior parte da Primeira Guerra Mundial na prisão, a acadêmica nascida na Polônia emergiu para ajudar a fundar o Partido Comunista da Alemanha com o seu colega e líder esquerdista Karl Liebknecht.
Em novembro de 1918, uma rebelião de marinheiros e soldados levou à derrubada da monarquia Hohenzollern, à criação da primeira democracia da Alemanha e ao fim da Primeira Guerra Mundial apenas alguns dias depois.
Mas, em janeiro de 1919, uma segunda onda de rebeliões de esquerda eclodiu. Após Liebknecht e Rosa Luxemburgo terem manifestado o seu apoio àquela que eles esperavam que fosse a tão esperada criação de uma Alemanha comunista, a liderança do SPD achou que já aguentara o suficiente. Trazendo ainda fresco na memória o episódio recente do destino que tiveram o czar russo e a sua família (eles foram assassinados por revolucionários bolchevistas em 1918), os líderes do SPD deram carta-branca aos paramilitares de direita, os Freikorps, para seguir adiante e esmagar a rebelião.
Em 15 de janeiro, Rosa Luxemburgo e Liebknecht foram capturados em um esconderijo e levados para o luxuoso Hotel Eden, em Berlim, onde foram interrogados e torturados. Os dois foram levados de carro separadamente para o Parque Tiergarten, próximo do hotel, e lá foram assassinados. Liebknecht foi levado para o necrotério municipal, enquanto que Rosa Luxemburgo foi morta com um tiro e jogada nas águas geladas do canal.
O corpo dela só foi recuperado quase cinco meses depois, após o derretimento do gelo de inverno. A seguir, após uma autópsia conduzida no Hospital Charité, ela teria sido enterrada no Cemitério Friedrichsfelde, perto da sepultura de Liebknecht. Desde então os dois são homenageados como mártires da causa comunista.
Dados inconsistentes da autópsia
Inconsistências surpreendentes no relatório da autópsia original, realizada em 13 de junho de 1919, em um corpo que seria o de Rosa Luxemburgo, parecem conferir credibilidade à hipótese de Tsokos.
Por um lado, os médicos legistas da época relataram detalhes que não condizem com as peculiaridades anatômicas do corpo de Rosa Luxemburgo, disse Tsokos a "Der Spiegel". A autópsia cita explicitamente a ausência de danos na bacia e afirma também que não havia evidência de que as pernas tinham comprimentos diferentes. A autópsia tampouco cita a existência na parte superior do crânio de sinais de dois golpes com a coronha dos fuzis que os soldados teriam desferido em Rosa Luxemburgo.
Quanto ao tiro na cabeça que matou Rosa Luxemburgo, os médicos legistas originais observaram a existência de um buraco na cabeça do cadáver, entre a orelha e o olho esquerdos. Mas eles não viram nenhum ferimento de saída de projétil e não encontraram nenhuma bala no crânio. Tsokos está convencido que isso não teria sido apenas fruto de negligência. "Não havia como tal coisa ocorrer em se tratando de pessoas com tal capacitação profissional", afirma ele, observando que o principal patologista, Fritz Strassman, escreveu um manual consagrado na época em que fazia autópsias.
Algo que surpreendeu Strassman e o seu colega Paul Fraenckel, entretanto, foi o "ferimento grave na base do crânio", conforme eles relataram no relatório de autópsia. Embora os dois cientistas não tenham chegado a uma conclusão definitiva sobre o ferimento, Tsokos acredita que sabe o que era aquilo. "Parece aquele tipo de fratura que ocorre quando alguém cai de uma grande altura", afirma ele. Será que Strassman e Fraenckel podem ter examinado o corpo de uma vítima de suicídio?
O próprio Fraenckel parece ter duvidado de que o corpo que examinou pertencesse de fato a Rosa Luxemburgo. Em um anexo assinado, ele se distancia das conclusões do seu colega altamente respeitado, o que, segundo Tsokos, "foi uma ocorrência um tanto incomum". "Assim como ocorre hoje em dia, naquela época os colegas resolviam as suas diferenças em conversas pessoais", afirma Tsokos.
Conforme Tsokos explica, foi esse anexo e as inconsistências entre o relatório e os fatos conhecidos a respeito de Rosa Luxemburgo que o levaram a examinar mais detalhadamente o corpo.
Além do mais, no Hospital Charité há muito circulam boatos de que o corpo da Rosa Vermelha jamais teria deixado de fato a instituição. Alguns dizem que a cabeça de Rosa Luxemburgo foi preservada no Instituto de Medicina Legal e Ciências Criminalísticas. Até mesmo as mãos e os pés que estão faltando encaixam-se na teoria de Tsokos. Quando a revolucionária foi jogada no canal, as testemunhas dizem que pesos foram atados com arame aos seus pulsos e tornozelos. O arame poderia facilmente ter decepado as extremidades dos membros durante os meses em que o corpo ficou debaixo d'água.
A busca por mais pistas
Tsokos e os seus colegas estão agora procurando mais pistas para resolver o mistério. Porém, de nada adiantaria examinar a própria sepultura de Rosa Luxemburgo. Em 1935, elementos nazistas e anticomunistas atacaram as sepulturas de Rosa Luxemburgo, e os restos mortais dos dois sumiram. Buscas subsequentes pelos restos mortais conduzidas pelos funcionários do cemitério em 1950 não tiveram sucesso.
Tsokos já extraiu amostras de DNA do corpo e está procurando material para fazer uma comparação com elas. A saliva de selos de cartas enviadas por Rosa Luxemburgo não proporcionou material suficiente para a realização de um exame. Ele agora está tentando localizar uma sobrinha de Rosa de Luxemburgo, que tem problemas mentais, e que moraria em Varsóvia, para fazer uma comparação dos materiais genéticos.
Por mais de 90 anos, Rosa Luxemburgo tem sido uma inspiração para esquerdistas e feministas de todo o mundo. Revolucionária comunista na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, a sepultura dela é uma espécie de templo, sendo visitada todos os anos por uma procissão de velhos comunistas e jovens ativistas de esquerda, que caminham pelas ruas da antiga Berlim Oriental para depositar cravos vermelhos na sua tumba no Cemitério Friedrichsfelde, em Berlim.
Mas agora, uma descoberta surpreendente sugere que o corpo de Rosa Luxemburgo pode não ter jamais habitado essa sepultura tão reverenciada. Caso Michael Tsokos, diretor do Instituto de Medicina Legal e de Ciências Criminalísticas do Hospital Charité de Berlim estiver correto, o corpo de Rosa Luxemburgo ficou guardado no porão do hospital desde 1919.
Tsokos encontrou recentemente um corpo - sem cabeça, pés ou mãos - guardado no porão do museu de história médica do hospital. Ele achou suspeito o relatório da autópsia e decidiu realizar um teste por meio de tomografia computadorizada.
O resultado foi surpreendente. O corpo mostrou sinais de ter sido saturado com água. O teste indicou ainda que ele pertenceu a uma mulher que à época da morte tinha entre 40 e 50 anos de idade, que a mulher sofria de artrite e que ela tinha uma perna mais longa do que a outra.
Tsokos disse a "Der Spiegel" que, após refletir mais sobre a descoberta, ele concluiu que o corpo apresenta "notáveis similaridades com Rosa Luxemburgo".
À época da sua morte, Rosa Luxemburgo, conhecida também como a "Rosa Vermelha", tinha 47 anos de idade. Ela sofria de uma doença congênita da bacia que a deixou permanentemente manca, o que, por sua vez, fez com que as suas pernas tivessem tamanhos diferentes. E, após a sua morte violenta nas mãos de paramilitares de direita, o corpo dela foi jogado no Canal Landwehr, em Berlim.
Um laboratório na cidade de Kiel, no norte da Alemanha, realizou testes com o corpo usando datação com carbono 14, e confirmou que o cadáver é realmente daquele período.
Um fim bem conhecido e horrível
O episódio da morte de Rosa Luxemburgo é um dos mais famosos da história moderna da Alemanha. Originalmente integrante do Partido Social Democrata (SPD), Rosa Luxemburgo rompeu com o partido quando este apoiou o ímpeto imperial rumo à guerra em 1914. Após ter passado a maior parte da Primeira Guerra Mundial na prisão, a acadêmica nascida na Polônia emergiu para ajudar a fundar o Partido Comunista da Alemanha com o seu colega e líder esquerdista Karl Liebknecht.
Em novembro de 1918, uma rebelião de marinheiros e soldados levou à derrubada da monarquia Hohenzollern, à criação da primeira democracia da Alemanha e ao fim da Primeira Guerra Mundial apenas alguns dias depois.
Mas, em janeiro de 1919, uma segunda onda de rebeliões de esquerda eclodiu. Após Liebknecht e Rosa Luxemburgo terem manifestado o seu apoio àquela que eles esperavam que fosse a tão esperada criação de uma Alemanha comunista, a liderança do SPD achou que já aguentara o suficiente. Trazendo ainda fresco na memória o episódio recente do destino que tiveram o czar russo e a sua família (eles foram assassinados por revolucionários bolchevistas em 1918), os líderes do SPD deram carta-branca aos paramilitares de direita, os Freikorps, para seguir adiante e esmagar a rebelião.
Em 15 de janeiro, Rosa Luxemburgo e Liebknecht foram capturados em um esconderijo e levados para o luxuoso Hotel Eden, em Berlim, onde foram interrogados e torturados. Os dois foram levados de carro separadamente para o Parque Tiergarten, próximo do hotel, e lá foram assassinados. Liebknecht foi levado para o necrotério municipal, enquanto que Rosa Luxemburgo foi morta com um tiro e jogada nas águas geladas do canal.
O corpo dela só foi recuperado quase cinco meses depois, após o derretimento do gelo de inverno. A seguir, após uma autópsia conduzida no Hospital Charité, ela teria sido enterrada no Cemitério Friedrichsfelde, perto da sepultura de Liebknecht. Desde então os dois são homenageados como mártires da causa comunista.
Dados inconsistentes da autópsia
Inconsistências surpreendentes no relatório da autópsia original, realizada em 13 de junho de 1919, em um corpo que seria o de Rosa Luxemburgo, parecem conferir credibilidade à hipótese de Tsokos.
Por um lado, os médicos legistas da época relataram detalhes que não condizem com as peculiaridades anatômicas do corpo de Rosa Luxemburgo, disse Tsokos a "Der Spiegel". A autópsia cita explicitamente a ausência de danos na bacia e afirma também que não havia evidência de que as pernas tinham comprimentos diferentes. A autópsia tampouco cita a existência na parte superior do crânio de sinais de dois golpes com a coronha dos fuzis que os soldados teriam desferido em Rosa Luxemburgo.
Quanto ao tiro na cabeça que matou Rosa Luxemburgo, os médicos legistas originais observaram a existência de um buraco na cabeça do cadáver, entre a orelha e o olho esquerdos. Mas eles não viram nenhum ferimento de saída de projétil e não encontraram nenhuma bala no crânio. Tsokos está convencido que isso não teria sido apenas fruto de negligência. "Não havia como tal coisa ocorrer em se tratando de pessoas com tal capacitação profissional", afirma ele, observando que o principal patologista, Fritz Strassman, escreveu um manual consagrado na época em que fazia autópsias.
Algo que surpreendeu Strassman e o seu colega Paul Fraenckel, entretanto, foi o "ferimento grave na base do crânio", conforme eles relataram no relatório de autópsia. Embora os dois cientistas não tenham chegado a uma conclusão definitiva sobre o ferimento, Tsokos acredita que sabe o que era aquilo. "Parece aquele tipo de fratura que ocorre quando alguém cai de uma grande altura", afirma ele. Será que Strassman e Fraenckel podem ter examinado o corpo de uma vítima de suicídio?
O próprio Fraenckel parece ter duvidado de que o corpo que examinou pertencesse de fato a Rosa Luxemburgo. Em um anexo assinado, ele se distancia das conclusões do seu colega altamente respeitado, o que, segundo Tsokos, "foi uma ocorrência um tanto incomum". "Assim como ocorre hoje em dia, naquela época os colegas resolviam as suas diferenças em conversas pessoais", afirma Tsokos.
Conforme Tsokos explica, foi esse anexo e as inconsistências entre o relatório e os fatos conhecidos a respeito de Rosa Luxemburgo que o levaram a examinar mais detalhadamente o corpo.
Além do mais, no Hospital Charité há muito circulam boatos de que o corpo da Rosa Vermelha jamais teria deixado de fato a instituição. Alguns dizem que a cabeça de Rosa Luxemburgo foi preservada no Instituto de Medicina Legal e Ciências Criminalísticas. Até mesmo as mãos e os pés que estão faltando encaixam-se na teoria de Tsokos. Quando a revolucionária foi jogada no canal, as testemunhas dizem que pesos foram atados com arame aos seus pulsos e tornozelos. O arame poderia facilmente ter decepado as extremidades dos membros durante os meses em que o corpo ficou debaixo d'água.
A busca por mais pistas
Tsokos e os seus colegas estão agora procurando mais pistas para resolver o mistério. Porém, de nada adiantaria examinar a própria sepultura de Rosa Luxemburgo. Em 1935, elementos nazistas e anticomunistas atacaram as sepulturas de Rosa Luxemburgo, e os restos mortais dos dois sumiram. Buscas subsequentes pelos restos mortais conduzidas pelos funcionários do cemitério em 1950 não tiveram sucesso.
Tsokos já extraiu amostras de DNA do corpo e está procurando material para fazer uma comparação com elas. A saliva de selos de cartas enviadas por Rosa Luxemburgo não proporcionou material suficiente para a realização de um exame. Ele agora está tentando localizar uma sobrinha de Rosa de Luxemburgo, que tem problemas mentais, e que moraria em Varsóvia, para fazer uma comparação dos materiais genéticos.
Os segredos do último ajudante vivo de Hitler
Rochus Misch, guarda-costas e operador de telefone de Hitler, é o último membro sobrevivente de seu séquito. Ele acaba de completar 90 anos e está publicando um livro sobre seu tempo com o Führer
A coisa mais estranha foi a visão dos dois violonistas na estação de metrô Kaiserhof em Berlim. "Eu saí daquele bunker da morte, de todo aquele drama, e vejo alguém tocando música", lembra Rochus Misch. "Tocavam música havaiana!" Foi em 2 de maio de 1945, às 6 horas da manhã.
Perto do bunker de Hitler, tropas da SS francesa e unidades do exército alemão prolongavam o final da Segunda Guerra Mundial. Misch estava desesperado para sair vivo daquele inferno.
Uma hora antes, Misch, que tinha 27 anos na época, havia terminado seus deveres no bunker de Hitler embaixo da Chancelaria. Ele perguntou a Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda recém-nomeado chanceler do Reich, se havia mais alguma coisa a fazer. "'Herr Reich Chancellor', eu gostaria de sair com o resto dos camaradas", ele disse.
Naquela altura o Exército Vermelho estava a 200 metros de distância do que fora o local de trabalho de Misch nos últimos seis anos. Misch era guarda-costas e telefonista de Adolf Hitler - uma das últimas pessoas a deixar o bunker. Ele sobreviveu a todos. É a última testemunha.
Hoje vive em um apartamento em Berlim. Essa área da cidade parece uma aldeia, os vizinhos se conhecem e se cumprimentam. É uma parte tranqüila do mundo - exceto o apartamento de Misch. Ele se queixa de que seu telefone não pára de tocar e as cartas se acumulam novamente sobre a mesa. Recebe cartas até do Japão, Espanha e EUA. Algumas contêm dinheiro e pedidos de autógrafos. Recentemente ele teve de encomendar mais uma série de fotos, que assina e envia. As fotos mostram Misch de uniforme, na frente de dois bunkers, 65 anos atrás. A guerra não deixa Misch em paz.
Nascido em 1917 no que hoje é a cidade polonesa de Opole, Rochus Misch perdeu os dois pais quando tinha 2 anos. Cresceu com seus avós e trabalhou pintando cartazes de publicidade. Em 1937 entrou para uma unidade que mais tarde se tornou a unidade SS de proteção a Hitler. Ele foi seriamente ferido na Polônia enquanto negociava a rendição de uma posição polonesa. Depois disso começou seu "destino de soldado", como ele diz.
Durante sua convalescença, o comandante da companhia o recomendou para a equipe pessoal de Hitler. Não teve de voltar à frente porque era o único sobrevivente de uma família alemã. Foi colocado em um carro e levado ao "apartamento do Führer" na chancelaria do Reich em Berlim, ele lembra. "Eu tinha medo. Não me façam conhecer o Führer", ele lembra que pensou na época. "O Führer era o Führer para mim, como era para todos os alemães."
"Um cavalheiro perfeitamente normal"
Na primeira vez em que foi apresentado a Hitler, um calafrio percorreu sua espinha. Hitler lhe entregou uma carta para sua irmã em Viena. "Esse foi o primeiro encontro. Ele não era um monstro, não era um 'Übermensch'. Estava ali na minha frente como um cavalheiro perfeitamente normal e disse palavras gentis", diz Misch.
Misch teve muitos desses momentos e fala sobre eles há anos. Muitas vezes cita as mesmas frases, como fica evidente ao se comparar as entrevistas que deu. Fala sobre eles para turistas japoneses que aparecem em sua casa sem avisar e para jornalistas locais e internacionais. O ex-chanceler Willy Brandt certa vez o visitou, ele lembra, além de muitos cineastas. Mas Misch nunca fala sobre o último segredo que cerca os dias finais no bunker.
Cada minuto daqueles últimos dias está registrado - tudo exceto quem atirou em Hermann Fegelein, o general da SS casado com a irmã de Eva Braun. Fegelein era o oficial de ligação de Heinrich Himmler com Hitler e deixou o bunker sem permissão em 27 de abril. Preso em seu apartamento em Berlim, o general da SS foi executado em 29 de abril. Misch diz que sabe quem puxou o gatilho, mas não revela sua identidade, apesar de ele já estar morto. Diz que Hitler não mandou matar Fegelein, ao contrário da afirmação do falecido historiador Joachim Fest. Apenas o rebaixou.
Eva sentada morta no sofá
Misch prefere falar sobre Hanna Reitsch, a piloto que queria voar para fora de Berlim com os seis filhos de Goebbels. Ele diz que Goebbels queria salvar as crianças, mas sua mulher, Magda, exigiu que elas morressem em lealdade a Hitler. Depois que todas foram mortas ela jogou baralho.
Ele lembra de ver Eva Braun sentada morta no canto do sofá, com a cabeça inclinada para Hitler, "os joelhos encolhidos junto ao peito. Ela usava um vestido azul-marinho com uma renda branca na gola".
Nas primeiras horas de 2 de maio de 1945, o trabalho de Misch terminou. Goebbels o dispensou com as palavras: "Nós soubemos viver, também saberemos morrer". Misch destruiu o sistema de telefone e deixou o bunker por uma janela do porão.
Antes disso, despediu-se do técnico Johannes Hentschel, que ficou porque queria manter o fornecimento de água e eletricidade para o hospital do bunker.
Misch foi capturado no que é hoje a estação de trens Nordbahnhof em Berlim. Entre os outros prisioneiros estava o piloto pessoal de Hitler, Hans Baur, que foi seriamente ferido. Misch cuidou de Baur, mas este contou a seus interrogadores russos onde Misch havia trabalhado. Por isso Misch foi levado para Moscou, onde foi interrogado e torturado. Ficou tão ferido que mandou uma carta para Lavrentiy Beria, o chefe do serviço de segurança NKVD, pedindo para ser executado. Depois de oito anos de prisão em campos no Cazaquistão e nos Urais, ele conseguiu voltar a Berlim em 1953. Instalou-se em Berlim ocidental e assumiu a empresa de pinturas de um amigo. Trabalhou lá até se aposentar.
Misch escreveu um livro sobre suas experiências durante a era nazista, que já foi publicado na América do Sul, Japão, Espanha, Polônia e Turquia, e deverá sair na Alemanha neste outono. Intitula-se "Eu Fui o Guarda-Costas de Hitler".
A coisa mais estranha foi a visão dos dois violonistas na estação de metrô Kaiserhof em Berlim. "Eu saí daquele bunker da morte, de todo aquele drama, e vejo alguém tocando música", lembra Rochus Misch. "Tocavam música havaiana!" Foi em 2 de maio de 1945, às 6 horas da manhã.
Perto do bunker de Hitler, tropas da SS francesa e unidades do exército alemão prolongavam o final da Segunda Guerra Mundial. Misch estava desesperado para sair vivo daquele inferno.
Uma hora antes, Misch, que tinha 27 anos na época, havia terminado seus deveres no bunker de Hitler embaixo da Chancelaria. Ele perguntou a Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda recém-nomeado chanceler do Reich, se havia mais alguma coisa a fazer. "'Herr Reich Chancellor', eu gostaria de sair com o resto dos camaradas", ele disse.
Naquela altura o Exército Vermelho estava a 200 metros de distância do que fora o local de trabalho de Misch nos últimos seis anos. Misch era guarda-costas e telefonista de Adolf Hitler - uma das últimas pessoas a deixar o bunker. Ele sobreviveu a todos. É a última testemunha.
Hoje vive em um apartamento em Berlim. Essa área da cidade parece uma aldeia, os vizinhos se conhecem e se cumprimentam. É uma parte tranqüila do mundo - exceto o apartamento de Misch. Ele se queixa de que seu telefone não pára de tocar e as cartas se acumulam novamente sobre a mesa. Recebe cartas até do Japão, Espanha e EUA. Algumas contêm dinheiro e pedidos de autógrafos. Recentemente ele teve de encomendar mais uma série de fotos, que assina e envia. As fotos mostram Misch de uniforme, na frente de dois bunkers, 65 anos atrás. A guerra não deixa Misch em paz.
Nascido em 1917 no que hoje é a cidade polonesa de Opole, Rochus Misch perdeu os dois pais quando tinha 2 anos. Cresceu com seus avós e trabalhou pintando cartazes de publicidade. Em 1937 entrou para uma unidade que mais tarde se tornou a unidade SS de proteção a Hitler. Ele foi seriamente ferido na Polônia enquanto negociava a rendição de uma posição polonesa. Depois disso começou seu "destino de soldado", como ele diz.
Durante sua convalescença, o comandante da companhia o recomendou para a equipe pessoal de Hitler. Não teve de voltar à frente porque era o único sobrevivente de uma família alemã. Foi colocado em um carro e levado ao "apartamento do Führer" na chancelaria do Reich em Berlim, ele lembra. "Eu tinha medo. Não me façam conhecer o Führer", ele lembra que pensou na época. "O Führer era o Führer para mim, como era para todos os alemães."
"Um cavalheiro perfeitamente normal"
Na primeira vez em que foi apresentado a Hitler, um calafrio percorreu sua espinha. Hitler lhe entregou uma carta para sua irmã em Viena. "Esse foi o primeiro encontro. Ele não era um monstro, não era um 'Übermensch'. Estava ali na minha frente como um cavalheiro perfeitamente normal e disse palavras gentis", diz Misch.
Misch teve muitos desses momentos e fala sobre eles há anos. Muitas vezes cita as mesmas frases, como fica evidente ao se comparar as entrevistas que deu. Fala sobre eles para turistas japoneses que aparecem em sua casa sem avisar e para jornalistas locais e internacionais. O ex-chanceler Willy Brandt certa vez o visitou, ele lembra, além de muitos cineastas. Mas Misch nunca fala sobre o último segredo que cerca os dias finais no bunker.
Cada minuto daqueles últimos dias está registrado - tudo exceto quem atirou em Hermann Fegelein, o general da SS casado com a irmã de Eva Braun. Fegelein era o oficial de ligação de Heinrich Himmler com Hitler e deixou o bunker sem permissão em 27 de abril. Preso em seu apartamento em Berlim, o general da SS foi executado em 29 de abril. Misch diz que sabe quem puxou o gatilho, mas não revela sua identidade, apesar de ele já estar morto. Diz que Hitler não mandou matar Fegelein, ao contrário da afirmação do falecido historiador Joachim Fest. Apenas o rebaixou.
Eva sentada morta no sofá
Misch prefere falar sobre Hanna Reitsch, a piloto que queria voar para fora de Berlim com os seis filhos de Goebbels. Ele diz que Goebbels queria salvar as crianças, mas sua mulher, Magda, exigiu que elas morressem em lealdade a Hitler. Depois que todas foram mortas ela jogou baralho.
Ele lembra de ver Eva Braun sentada morta no canto do sofá, com a cabeça inclinada para Hitler, "os joelhos encolhidos junto ao peito. Ela usava um vestido azul-marinho com uma renda branca na gola".
Nas primeiras horas de 2 de maio de 1945, o trabalho de Misch terminou. Goebbels o dispensou com as palavras: "Nós soubemos viver, também saberemos morrer". Misch destruiu o sistema de telefone e deixou o bunker por uma janela do porão.
Antes disso, despediu-se do técnico Johannes Hentschel, que ficou porque queria manter o fornecimento de água e eletricidade para o hospital do bunker.
Misch foi capturado no que é hoje a estação de trens Nordbahnhof em Berlim. Entre os outros prisioneiros estava o piloto pessoal de Hitler, Hans Baur, que foi seriamente ferido. Misch cuidou de Baur, mas este contou a seus interrogadores russos onde Misch havia trabalhado. Por isso Misch foi levado para Moscou, onde foi interrogado e torturado. Ficou tão ferido que mandou uma carta para Lavrentiy Beria, o chefe do serviço de segurança NKVD, pedindo para ser executado. Depois de oito anos de prisão em campos no Cazaquistão e nos Urais, ele conseguiu voltar a Berlim em 1953. Instalou-se em Berlim ocidental e assumiu a empresa de pinturas de um amigo. Trabalhou lá até se aposentar.
Misch escreveu um livro sobre suas experiências durante a era nazista, que já foi publicado na América do Sul, Japão, Espanha, Polônia e Turquia, e deverá sair na Alemanha neste outono. Intitula-se "Eu Fui o Guarda-Costas de Hitler".