segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Oposição polonesa apresenta seu candidato a primeiro-ministro

Piotr Tadeusz Gliński

Piotr Glinski é um homem cortês e ponderado. Ele é sociólogo. Jaroslaw Kaczynski é um homem brusco, um temível estrategista populista. Ele é o líder da oposição polonesa, o PiS (Direito e Justiça). O gelo e o fogo, o acadêmico e o orador não estavam destinados a cruzar seus caminhos. Mas, na política, às vezes se assistem a aproximações improváveis.

No dia 1º de outubro, dois dias após uma grande manifestação contra o governo de Donald Tusk, o PiS anunciou a candidatura do professor Glinski, 58, ao posto de primeiro-ministro. “Aceitei pular na piscina sem saber se havia água dentro”, ele brinca. Não há nenhuma eleição legislativa em vista; o próximo pleito será daqui a três anos. Mas o governo está tremendo nas bases, em razão de uma conjuntura menos favorável. Pela primeira vez desde 2005, o PiS está à frente da maioria, a Plataforma Cívica, nas pesquisas de intenção de voto.

Apesar da boa organização do Campeonato Europeu de Futebol em junho, Donald Tusk viu os problemas se acumularem. Além do desgaste do governo, a sensação de uma gestão sem visão se generalizou. A isso se somaram o escândalo Amber Gold, nome da instituição financeira que oferecia lucros exagerados para o ouro, e indicadores econômicos menos favoráveis, entre eles um índice de desemprego de 12,4%. “Somos ameaçados pelo que está acontecendo na Espanha e em Portugal”, diz Glinski. “Os fundos europeus não favoreceram a educação, a inovação. A construção civil sozinha não resolve nada se as pessoas não mudarem”.

No início de outubro, o PiS queria um voto de desconfiança no Sejm (Câmara Baixa do Parlamento), propondo uma alternativa: um governo de especialistas, dirigido por Glinksi. Mas no dia 12 de outubro, Donald Tusk pegou a oposição de surpresa ao pedir um voto de confiança, durante um discurso aos deputados. Então o PiS adiou sua iniciativa até o fim das negociações atuais sobre o orçamento europeu.

A irrupção de Piotr Glinski no cenário político foi muito comentada na mídia. Muitos prometiam ao professor um destino de fantoche nas mãos de Jaroslaw Kaczynski. Ele ri disso: “Os comentaristas acham que se trata de um golpe puramente tático. Eu vejo ali uma mudança profunda. Kaczynski analisou o cenário político. Ele sabe que desperta rejeição, que o PiS é apresentado de maneira muito desfavorável pela mídia”.

O partido tem o apoio inabalável de um terço do eleitorado. Mas os demais dois terços rejeitam tão fortemente a linha conservadora do partido e o próprio Jaroslaw Kaczynski, que uma espécie de telhado de vidro bloqueia suas ambições. A missão de Glinski é quebrá-lo.

Professor no Instituto de Filosofia e Sociologia, também professor em Bialystok, ele conta sua trajetória insistindo numa lógica em seus engajamentos. Estudante em Varsóvia no final dos anos 1960, ele participou dos movimentos anticomunistas. Após a instauração da lei marcial em dezembro de 1981, ele entrou para o sindicato Solidariedade, onde cuidou da resolução de conflitos. “Minha iniciação na vida pública foi subir em uma cadeira para falar com os operários nas fábricas”.

Após a democratização do país, Glinski entrou para o movimento ecologista, muito marginal, ao mesmo tempo em que continuava com seus trabalhos na sociedade civil. Em 1997, ele foi candidato derrotado nas eleições legislativas pela União da Liberdade (UW), o partido dos intelectuais saídos da oposição. No entanto, ele veio a se tornar um opositor ferrenho dessas elites.

Piotr Glinski foi condecorado em 2011 pelo presidente Bronislaw Komorowski, que agora ele ataca. No fundo, suas posições não estão muito afastadas das do PiS. Sobretudo quanto à “descomunização”, que ele gostaria que tivesse sido mais incisiva, ou quanto a assuntos da sociedade, como o aborto.

E a questão de Smolensk. O desastre aéreo no qual o presidente Lech Kaczynski e 95 outras pessoas morreram, no dia 10 de abril de 2010, se tornou uma neurose para as elites políticas. Ele suscita reações emocionais que alimentam a ideia de uma guerra interna sem acordo possível. Uma parte da oposição fomenta a teoria do atentado, acusando o governo de cumplicidade no “crime” a começar por Jaroslaw Kaczynski. O próprio Piotr Glinski às vezes critica a linha do PiS. “Não gosto do radicalismo e do extremismo que às vezes existe dentro de um partido”. Segundo ele, “o PiS deve falar friamente, racionalmente sobre Smolensk”. “Todas as hipóteses são possíveis, enquanto tudo não tiver sido elucidado”.

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