sexta-feira, 6 de julho de 2012

Obcecado por segurança, Arafat nunca dormia na mesma cama para se proteger de legião de inimigos


Arafat

Eram as 2h da madrugada de 24 de janeiro de 1990 quando, depois de uma longa hora dando voltas a toda velocidade por Túnis e seus arredores, o carro parou em uma humilde casa de dois andares. Cerca de 20 homens sem uniforme, mas com a Kalashnikov pendurada, passeavam ou conversavam sentados sobre dois bancos na entrada. Acima, em um pequeno escritório, apresentou-se sorridente Yasser Arafat, pedindo desculpas pela hora da entrevista e porque no dia anterior, depois de uma operação de despistagem semelhante e uma longa espera em outra casa, o líder não apareceu.

Arafat era um obcecado pela segurança e essa obsessão foi o que o manteve vivo até que se apoderou de seu corpo e de sua férrea vontade, em meados de outubro de 2004, uma estranha doença que agora uma análise do Instituto de Radiofísica do Hospital Universitário de Lausanne identifica com um envenenamento por polônio 210. Fundador da Al Fatah (A Conquista) em 1957, Arafat tinham consciência de que se movia em um mar de inimigos, tanto externos quanto internos, e de que sua vida e sua luta pela Palestina dependiam de que não confiasse em ninguém.

Essa desconfiança fazia que nem seus mais próximos soubessem onde se encontrava. Até sua decisão, em 1993, de se instalar nos territórios ocupados como chefe da Autoridade Palestina (AP), quase nunca dormia dois dias seguidos na mesma cama. Um encontro com Arafat era um encontro às cegas. Não se sabia onde se realizaria, nem quando, nem como. Em seus quartéis-generais da Jordânia, Líbano e finalmente Tunísia, os encarregados de sua agenda organizavam suas entrevistas deixando "nas mãos de Alá" a confirmação dos encontros com os embaixadores, jornalistas e inclusive dignitários que iam visitá-lo.

Arafat pendurou a cartucheira e não se separava nunca de sua arma desde que, em meados da década de 1950, formou as primeiras células de fedayins (combatentes) para realizar missões guerrilheiras e terroristas contra Israel. Essa medida de segurança, que o dirigente palestino considerava inquebrantável, causou não poucos problemas de protocolo a sua equipe quando visitava outro país.

Líder da Organização para Libertação da Palestina (OLP) desde 1969, Arafat se transformou na fera negra do Mossad (o poderoso serviço secreto israelense), quando depois do duro confronto mantido com a Jordânia, que custou a vida de milhares de palestinos, em setembro de 1970, a OLP trocou sua tática guerrilheira por ações terroristas, em um empenho desesperado para que a causa palestina não caísse no vazio. Então, Arafat já contava com 25 mil homens armados, mas o ataque da Organização Setembro Negro (OSN) - integrada à OLP e na qual mandava o braço-direito de Arafat, Abu Jihad - contra a equipe olímpica israelense, que se encontrava em Munique para os Jogos de 1972, acabou com muitas das simpatias internacionais que o líder da OLP havia conseguido.

O governo israelense não se resignou e também desatou uma guerra suja contra os ativistas palestinos, com assassinatos seletivos de líderes da OSN e da OLP e incursões sangrentas do exército nas dependências palestinas e em campos de refugiados. Um dos assassinatos mais espetaculares foi o do lugar-tenente de Arafat, Abu Jihad, em sua casa em Túnis em 1988.

A obsessão de Arafat pela segurança se transformou em paranoia, na qual se incluiu o temor de ser envenenado. Seus mais próximos contavam que o líder da OLP só comia depois que um fedayin provasse sua comida. Depois que Arafat se casou em 1990 com sua secretária Suha Tawil, nem mesmo ela conhecia muitos dos movimentos de seu marido. Ninguém sabe por que Suha negou que se fizesse a autópsia do cadáver de Arafat, quando seu médico, Ashraf el Kury, o pediu junto aos legistas do hospital militar francês de Percy, em Paris, onde o dirigente morreu. Um ano antes, em setembro de 2003, Ariel Sharon decidiu em uma reunião secreta de seu governo que era preciso "eliminar" Arafat porque era um "obstáculo para a paz".

2 comentários:

  1. Não da para chamar de paranoia a dedicação por segurança de um líder, na política se cometem assassinatos, conspirações é uma série de coisas, uma coisa é vc ser um cachorro morto q pertuba ninguém como tantos e tantos políticos por ai são mesmo chagando a chefe de estado não passam de figuras decorativas (no ocidente então são quase todos), outramuito diferente é vc ser um líder de alguma causa ou até mesmo alguém brigando pelo próprio poder, ou tem exagero em cuidados mesmo ou vai pro tombo e rápido se der mole.

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  2. Pode ver que o "envenenamento por polônio 210" está na lista das táticas usadas pelo Mossad.

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