Os soldados israelenses realmente só queriam tirar uma árvore do lugar? Quem atirou primeiro, e qual foi o papel do comandante xiita? Um dia após a troca de tiros entre soldados israelenses e libaneses, muitas questões cruciais ainda não foram respondidas. Aparentemente, uma nova guerra entre os países foi evitada, mas a tranquilidade na quarta-feira (04/8) foi enganosa.
Na terça-feira à noite às 20h30 no horário local, todo o Líbano estava colado na televisão. Eles queriam saber se a próxima guerra já havia começado.
Cedo na terça-feira, uma escaramuça entre tropas israelenses e libanesas irrompeu na fronteira entre os dois países, deixando quatro mortos. Apesar da situação eventualmente se acalmar –ao menos por enquanto- por poucas horas parecia que os dois países estavam à beira de uma guerra.
Na cidade portuária de Tiro, no sul do Líbano, os bares não conseguiram conter a multidão que queria saber se a guerra havia começado. As pessoas ficaram na rua, ouvindo a transmissão pela televisão do discurso do xeque Hassan Nasrallah, líder da milícia libanesa xiita Hezbollah. Como ele reagiria ao combate na fronteira com Israel?
Nasrallah falou por quase duas horas. Ele condenou a “agressão israelense” e disse que, da próxima vez que houvesse um incidente, sua milícia ia lutar junto do exército libanês contra o inimigo. Sua escolha de palavras foi beligerante: “A mão israelense que mirar no exército libanês será cortada”. Mas Nasrallah não passou disso em seu discurso.
Relações tensas
Sua reação controlada foi uma surpresa agradável para muitos observadores. Após seu discurso, que foi transmitido por link de vídeo, o céu de Tiro começou a brilhar, enquanto os partidários da Hezbollah celebravam o discurso de seu líder com fogos de artifício. Outros simplesmente estavam felizes que, após a guerra de 2006 entre Israel e Hezbollah, outro conflito armado havia sido evitado por enquanto. Nasrallah não havia declarado uma campanha contra Israel, como temiam muitos.
Em julho de 2006, o sequestro de dois soldados israelenses pela Hezbollah, que age como uma espécie de Estado dentro do Estado no Líbano, provocou uma guerra de um mês que matou 1.200 libaneses e 160 soldados israelenses.
As relações entre Israel e o Líbano estão extremamente tensas há meses. Agora foi iniciada uma batalha em torno da interpretação do incidente de terça-feira, que poderia ter virado uma guerra. A única coisa certa é que soldados israelenses trocaram tiros com o exército libanês após as tropas israelenses tentarem cortar um cipreste que crescia na fronteira. Muitas questões, porém, continuam sem resposta:
-Onde exatamente estava a árvore? O Líbano acusou Israel de invadir território libanês, mas os israelenses dizem que a árvore estava em suas terras. Um porta-voz da ONU confirmou esta versão.
-Quem abriu fogo primeiro? Fontes próximas das tropas da ONU estacionadas no sul do Líbano disseram ao Spiegel Online que a versão israelense dos eventos era correta, ou seja, que os soldados libaneses tinham atirado primeiro. Israel somente respondeu a esse ataque, disseram, mas com tanques, artilharia e helicópteros. O exército libanês desde então admitiu ter iniciado a escaramuça. Em uma declaração emitida à agência de notícias AFP, um porta-voz disse: “O exército libanês abriu fogo contra soldados israelenses que entraram no território libanês... foi uma defesa de nossa soberania e é um direito absoluto”. Dois soldados libaneses, um jornalista e um oficial israelense morreram no confronto.
-Por que atirar? Na quarta-feira, a mídia israelense colocou a culpa em um militar libanês extremamente zeloso. A Rádio Israel informou que o comandante libanês aproveitou-se de um atraso no trabalho de manutenção para posicionar atiradores na área. Após um confronto verbal, os atiradores abriram fogo contra soldados israelenses. O lado libanês não comentou as alegações.
-O que está por trás do incidente? Há apenas especulações. Uma estação de rádio israelense comentou que era curioso que muitos jornalistas libaneses tivessem sido convidados para a fronteira com antecedência. A Hezbollah aparentemente não estava envolvida no incidente. O oficial libanês acusado de gerar o incidente, contudo, é um xiita com opiniões extremadas e partidário da Hezbollah, alegou o comentador militar Alex Fishman no jornal israelense Yedioth Ahronoth. O oficial provavelmente agiu de vontade própria, escreveu Fishman: “Tal comandante em uma região tão explosiva quanto o sul do Líbano poderia ser um catalisador de uma guerra que ninguém quer”. Fishman também levantou a questão se o soldado estava agindo sob ordens secretas da Hezbollah.
“A desculpa perfeita”
De acordo com a mídia, o governo israelense considerou na terça-feira implementar um plano de ataque pré-programado, que envolvia o bombardeio das posições do exército libanês no sul do Líbano. Aparentemente, a pressão internacional e protestos do governo libanês evitaram que os israelenses respondessem ao incidente na fronteira com força.
Um especialista em Líbano, porém, acredita que nenhum dos dois países tem interesse no conflito. “Se um dos lados quisesse a guerra, então esta teria sido uma desculpa perfeita para começar”, disse um observador que não quis ser identificado.
Aparentemente, Israel está contando que o Líbano não quer uma guerra. Na quarta-feira, o exército israelense continuou fazendo seu serviço de manutenção na fronteira. Soldados cortaram árvores ao longo da fronteira sob proteção de vários tanques. Também havia presença militar substancial no lado libanês. Até agora, porém, não houve mais incidentes.
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