quinta-feira, 27 de setembro de 2012
As terras são russas, os agricultores chineses
Quando um investidor chinês comprou uma fazenda perto desta aldeia, alguns anos atrás, ficou tão contente que a chamou de Terra Dourada. O solo era rico, o sol e a chuva, abundantes. A terra, nas profundezas rurais da Rússia, também era muito despovoada.
Não é mais. Hoje, fileiras de estufas estão cheias de agricultores chineses que colhem tomates. E em uma estação com uma colheita abundante o capataz disse que poderia aceitar mais centenas.
O influxo de trabalhadores agrícolas chineses na Rússia reflete os crescentes laços comerciais e econômicos entre os dois países, um rico em terras e recursos, o outro em pessoas.
Depois da ruptura da União Soviética, os dois países lutaram para transformar essas forças complementares em verdadeiras oportunidades de negócios. Alguns empreendimentos de mineração estão tendo êxito, e companhias estatais obtiveram grandes contratos de petróleo, carvão e madeira que formam a espinha dorsal da relação econômica.
Embora os empreendimentos chineses na agricultura russa tenham sido em menor escala, poderão acabar sendo igualmente importantes -no mínimo por levantar as tensões sobre o papel dos imigrantes.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos, a Rússia tem a maior reserva de terras aráveis do mundo ainda não aproveitadas. A população da Rússia é de 141 milhões, comparada com o 1,3 bilhão da China.
A China tem constantes preocupações para garantir alimento suficiente e encontrar trabalho para sua população rural. Algumas fazendas dirigidas por chineses na Rússia enviam suas colheitas de soja para a China, e enquanto cresce a presença de chineses no setor agrícola também aumenta o potencial de mais exportações de alimentos.
Enquanto os preços dos alimentos dispararam cinco anos atrás, o governo chinês abriu negociações para investir em terras russas. O programa entrou em vigor neste ano, com uma contribuição de US$ 1 bilhão da China Investment Corporation em um fundo conjunto russo-chinês que investe em agricultura e madeira na Rússia e outros países que faziam parte da União Soviética.
Sob um programa apoiado pelo governo russo, empresas chinesas também alugam cerca de 400 mil hectares de terras agrícolas e 800 mil hectares de florestas siberianas, onde os chinês extraem madeira para exportação.
Em alguns casos, investidores chineses estão comprando terra na Rússia. A Terra Dourada é uma das nove fazendas chinesas em Sverdlovsk, no centro da Rússia, segundo o Ministério da Agricultura local. Outras sugiram ao sul. Fazendas de legumes chinesas operam até perto de Moscou e São Petersburgo, a milhares de quilômetros da fronteira.
A mão de obra chinesa está mais que disposta a fazer a viagem em trens de terceira classe lotados através da Sibéria, partindo da Manchúria. É uma jornada em busca de oportunidade econômica, familiar para inúmeros trabalhadores migrantes em todo o mundo.
Li Hunlao, uma agricultora da região de Harbin, cidade no sudeste da China, explicou por que se aventurou tão longe de casa: "Eu vim pelo dinheiro, o que você acha?" Os salários de aproximadamente US$ 650 por mês são cinco vezes o que esses trabalhadores ganham na China, disse ela.
O governo russo estabeleceu a meta de aumentar o comércio com a China para US$ 200 bilhões por ano, contra US$ 80 bilhões em 2011. Em comparação, o comércio entre os EUA e a China foi de US$ 503 bilhões em 2011, segundo o Departamento do Comércio.
Alguns russos temem que a maior cooperação econômica leve a uma onda de imigrantes chineses ocupando territórios muito pouco povoados.
Mas Vladimir Balasanyan, um morador de Ostanino que trabalha como gerente na fazenda, disse que poucos russos querem empregos rurais hoje em dia.
No fim do outono, os trabalhadores montaram aquecedores de ferro nas estufas, prolongando a temporada de plantio por algumas semanas. Inevitavelmente, porém, o inverno russo chega e os chineses partem, refazendo a viagem pela ferrovia trans-siberiana até a próxima temporada.
*As informações são do jornal americano "The New York Times".
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Logo soube que eles iam para lá pelos maiores salários (e uma vida mais calma). Mas é incrivel, 650$ por mês nem é assim tanto mas é 5 vezes mais que os agricultores chineses ganham na China, o que quer dizer que eles só ganham cerca de 130-150 dólares por mês lá. Não admira que vao para essas terras, que sao bastantes até.
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